Amigos, um dos maiores desafios dos cristãos em todos os tempo tem sido definir um cristianismo que produza impacto e diferença da sociedade onde ele se insere. Talvez por isso a questão política tenha sido sempre um motivo de acaloradas discussões do seio da igreja. Até que ponto devemos ir? Tentarei listar os argumentos a favor e contra que tenho conseguido catalogar a respeito disso.
Contra o cristão na política, alguns dizem que:
- Jesus Cristo afirmou que seu reino não era deste mundo e nunca se envolveu na política do seu tempo. Os apóstolos seguiram o mesmo caminho.
- Abandonar o ministério cristão para envolver-se em política é rebaixar o chamado de Deus. Muito mais sublime é a tarefa de sacerdotes reais e santos no reino de Deus.
- O mundo jaz no maligno e nunca haverá justiça social no mundo até que Jesus Cristo estabeleça seu reino aqui. Por isso, qualquer tentativa de melhorar a vida do povo é inútil. Não vai dar certo.
- Fere o mandamento sobre “jugo desigual”. Para se candidatar, o cristão precisa filiar-se a um partido onde terá como pares de corruptos a agnósticos, de criminosos (como Hildebrando) a velhas raposas da política nacional.
- A maioria dos cristãos que têm se envolvido com política ao invés de tornarem-se influências, acabam influenciados e muitas vezes entram em esquemas duvidosos e envergonham o nome de Cristo.
- A maioria dos cristãos que se candidata aproveita-se da igreja como se fosse ela um mero curral eleitoral.
De outro lado, a favor argumenta-se que:
- Jesus Cristo e os apóstolos não se envolveram em política porque a estrutura política do seu tempo não permitia tal envolvimento. Mais tarde na história, houve casos importantes da influência de cristãos na política, como por exemplo a ação decisiva do Partido Trabalhista inglês na abolição da escravatura, partido este formado em grande parte por cristãos convictos.
- Não é preciso abandonar o ministério e o chamado para ser político. As duas coisas podem andar juntas.
- Os profetas de Deus denunciavam a corrupção e a injustiça social, mesmo se não fossem ouvidos. A igreja não pode desistir de lutar por um mundo melhor.
- É melhor votar em um candidato cristão do que votar em candidatos que se entregam à idolatria e à feitiçaria ou ao ateísmo.
- Embora alguns cristãos tenham sido maus políticos, isso é inevitável em qualquer outra área da vida. Infelizmente, há maus patrões, maus empregados e maus cidadãos cristãos também.
- É preciso ter alguém de nós lá para nos defender contra as leis anti-cristãs que são propostas pelos opositores do evangelho, como a lei do silêncio e a união homossexual.
Voltamos ao ponto zero. Porque os dois lados têm lá suas razões. E a Bíblia não define (pelo menos até onde me lembre) uma proibição explícita do envolvimento político de um cristão. É um direito legal de todo cidadão brasileiro filiar-se a um partido política e pleitear um cargo público em uma eleição. E em tese a igreja deveria ser a maior fornecedora de recursos humanos para orientar a nação. Deveria, sim, ser uma influência positiva e preservadora desde a Câmara Municipal até o Senado da República.
E aqui arrisco a minha análise, uma opinião, não apostólica e definitiva, mas apenas a minha opinião: deveria ser, mas infelizmente não é. Falta muito à igreja brasileira para que ela seja respeitada e ouvida. O que se tem de político cristão hoje em dia, rotulados pelo eclético rótulo de “evangélicos”, chega a ser vergonhoso. Os cristãos que se elegem passam a conviver e a defender cada tipo e cada coisa, que dá medo. O atual sistema político, depravado e imoral que temos em nosso país torna muito difícil, se não impossível, uma atuação isenta, austera e digna nesse meio. Ou você se deixa levar pela correnteza, ou você é alijado do processo. (É verdade que há outros poderes, como o judiciário, ou outros níveis de governo onde ocorrem estas mesmas dificuldades, e ninguém reclama de um crente participar deles.)
Além disso, um governador, presidente ou deputado cristão não poderá sê-lo apenas para governar para os cristãos. Deverá ser o político de todos, inclusive dos ateus. Não podemos cair na armadilha terrível que a Igreja já caiu do casamento tenebroso da Igreja com o Estado. Isto já produziu conseqüências tão nefastas, que repetir seria fatal. Então, será mais fácil influenciar usando a liberdade que temos dos nossos púlpitos do que usando a mordaça política das tribunas “democráticas” de nossas instituições.
Talvez a grande questão hoje é se precisamos de políticos crentes ou de crentes políticos. Não é mero jogo de palavras. O político crente é aquele que antes de tudo é político. Age, pensa, decide, prioriza como político. Por acaso, é crente. O crente político é aquele que antes de tudo tem a Cristo como Senhor. Isto é que pauta a sua vida. Ele age, pensa, decide, prioriza como servo de Deus. Por acaso, ele é político. Mas este é raro, se é que existe algum. Este não se deixa levar por negociatas, escolhe com que se senta à mesa para trabalhar junto, não procura seus interesses nem os interesses mesquinhos dos poderosos que lhe financiam as campanhas e assim por diante.
Eu fico triste de pensar que depois de quase 2 séculos de história, a igreja brasileira não tenha ainda atingido este estágio. Mas deve haver uma maneira de sermos cristãos sem deixarmos de ser cidadãos. Deve haver maneiras de se testemunhar ao mundo a diferença entre o sal e a podridão, entre a luz e as trevas. Deve haver, porque Jesus ensinou que as nossas boas obras devem ser vistas pelos homens, para que eles glorifiquem ao Pai celestial.
Pensando bem:
O cristão no exercício da sua cidadania deve ser o melhor cidadão de um país.