Amigos, muitas pessoas tem orgulho de dizer que são perfeccionistas. Elas acham que esta é uma extraordinária qualidade. Batem no peito e assumem abertamente que são e que fazem questão de ser assim. É como se elas trouxessem ao pescoço uma placa com os dizeres: “Siga-me a faça como eu: é o único jeito de tornar o mundo melhor”. Vivem como se fossem o suprassumo da humanidade, o protótipo do ser humano ideal. São aqueles que se julgam os pais perfeitos, os pastores ideais, os crentes nota dez, os modelos de família mais desejáveis, os exemplos marcantes que farão a diferença na história.
Quando encontramos com estas pessoas, achamos que elas são mesmo tudo isso. Por um tempo chegamos a ficar em dúvida e até a admirar, senão mesmo invejar, seu alto nível de compromisso com as virtudes mais escolhidas da raça humana. Acontece que o perfeccionismo é uma falácia. Simplesmente porque ele se baseia em pressupostos sem alicerces sustentáveis.
Primeiro, porque trata-se de uma mania. É uma coisa quase patológica. Praticamente uma síndrome. Achar que temos condições de fazer qualquer coisa sem falhas, que não erramos nunca, que não temos defeitos é o limiar da loucura absoluta. Não é possível viver assim a vida toda. E o que acaba acontecendo é que em algum momento a falha vai chegar, dando à luz uma vida de hipocrisia farisaica. Quem tem mania de perfeição não consegue conviver com suas próprias faltas. Para ele, isso é a fim. Ele não conseguirá conviver com a realidade, não terá estrutura para enfrentar a verdade. Então, acaba criando um mundo só seu, onde o que importa é a opinião das pessoas, é manter sua imagem perante os outros. Por esta razão, o perfeccionismo é o embrião da falsidade e do farisaísmo.
Segundo, porque o padrão ideal seguido por quem sofre deste mal é criado por ele mesmo. Este modelo é fundido no fundo do seu próprio quintal, no tacho das idiossincrasias, isto é, naquilo que diz respeito ao temperamento, valores e conceitos de cada um. Nem sempre, porém, este padrão é efetivamente o melhor. Para os cristãos, por exemplo, o padrão perfeito e absoluto é Jesus. Imita-lo, tentar ser como ele, deveria ser a maior ambição de um discípulo. Mas vai daí que o perfeccionista passa criar o “Jesus” que mais lhe interessa, como se isso fosse possível. À semelhança de uma facção da igreja dos coríntios, esse pessoal cria um partido e diz que “são de Cristo”, como se o Senhor tivesse lá do seu trono mandado a ficha de filiação para dar seu aval àquele grupelho. Colocam na boca de Cristo palavras que ele nunca sonhou em proferir. Cobram coisas que ele nunca cobrou. Não bastasse isso, ainda querem impor a todo mundo o mesmo padrão. Veja, ele mesmo criou o seu e agora quem não faz exatamente como ele imagina, não serve. Este é o maior estrago causado pelo perfeccionismo: julgar que somente aquilo que fazemos é que tem valor. Só o nosso padrão é bom. Quem não reza pela nossa cartilha, não tem qualidade. Não é “espiritual”, não tem “consagração”. Quem não gosta daquilo que eu gosto, não tem bom gosto.
Agora, não confunda perfeccionismo com a busca pela excelência. A diferença é sutil, mas existe. Muitos perfeccionistas tentam se justificar dizendo-se caçadores de excelência. Excelência é fazer as coisas com o máximo de qualidade que nossos recursos permitem. Perfeccionismo é determinar pelo nosso padrão pessoal qual é esse máximo e exigir que todos o alcancem. Tentar fazer o melhor sempre, dar o máximo em cada coisa que fazemos, caprichar, esmerar-se é bem diferente de traçar um padrão pessoal de perfeição absoluta e gastar sua vida toda perseguindo esta utopia. A excelência é uma virtude admirável. Ela atrai e influencia as pessoas ao redor. Quem trabalha com excelência não vai ficar às voltas com quem mata o serviço. O perfeccionismo, por sua vez, é um defeito asqueroso. Ele isola e torna solitários seus adeptos. O destino do perfeccionista é uma perene frustração. E ninguém gosta de se espelhar em frustrados.
É verdade que muita gente isola também o excelente, porque não é todo mundo que está interessado em ir um passo além e sair da mediocridade. A gente se acostuma a um padrão meia-boca e às vezes não há quem nos faça desistir dele. Mas aí já é um outro problema. Neste caso, a responsabilidade da escolha não recai sobre você, mas sobre aqueles que preferem a estagnação e a falta de qualidade. Problema deles. É o outro extremo.
Quanto a mim e a você, que não queremos errar nem pela falta nem pelo excesso, nos cabe clamar a graça de Deus sobre nossas vidas para que vivamos da melhor forma possível, com sabedoria e discernimento, conscientes de nossas limitações e fraquezas, mas procurando dar o melhor sempre, em todas as circunstâncias.
E se um dia a gente se tornar referência para o que quer que seja, que seja unicamente para glorificar o Servo Perfeito que andou entre nós e que “deixou-nos exemplo para seguirmos os seus passos” (1 Pe 2:21)