Contexto

Amigos, se pudéssemos fazer uma pesquisa sobre “Quais são as páginas mais brancas da sua Bíblia?”, arrisco o palpite de que mais de 70% responderiam: “as dos profetas”. Ninguém dá muita bola para eles. Ah, sua mensagem é difícil, a gente lê e não entende nada, é cheio de nomes e lugares que nem imaginamos de onde sejam. Além disso, eles eram muito bravos. Só falavam de julgamentos, maldições, castigos. Uma coisa meio down, meio deprê. A gente precisa de uma coisa mais light, manja, véio?

É, parece que a sina dos profetas era mesmo essa. No seu tempo, as pessoas falavam a mesma coisa. Ou você acha que os profetas eram celebridades que saíam nas colunas sociais e na revista Caras? Não, certamente os profetas não eram convidados para os casamentos do ano, não eram entrevistados nas páginas amarelas da Veja e se fossem ao Jô Soares, seriam ridicularizados.

Por que era assim? Não é para menos. Pense na figura de Elias. Um “tesbita”. Bem, esta a maneira geográfica de se dizer “um caipira”. Vem lá de onde o Judas perdeu as meias (as botas ele perdeu bem antes). Não fala na gíria, não usa piercing e não vai para balada. É um estranho no ninho e fora do ninho é um perturbador. Quando ele entra no palácio, sua própria presença estraga qualquer festa. Tudo está indo tão bem e ele tem que chegar bem agora para falar que a Sabesp vai cortar o fornecimento. Que cara mais descontextualizado! Que anti-social! Por que não chegar de mansinho, fazer amizade com a Jeza, participar de alguns “Embalos de Sábado à Noite” no palácio, tomar um chazinho da tarde com o sacerdote de Baal? Por que não assistir a umas peças de teatro ou a um filminho na companhia doce e agradável de Acabe? Depois, ficaria muito mais fácil ser ouvido.

E João Batista? Como é que você quer que seja aceito um pregador que não veste griffe e não vai a restaurante? O cara é um esquisitão. Ao invés de chegar com uma abordagem moderna, intelectualizada, o chamado “papo-cabeça”, o homem vem falando que os fariseus são um bando de cobras venenosas!

Realmente. Eles eram radicais. Impopulares. Rejeitados. O mais incrível? Deus gostava deles. De João Batista, Jesus Cristo disse que “nascido de mulher, não houve ninguém maior do que ele”. Elias foi trasladado numa carruagem de fogo!

E nós estamos aqui, em pleno terceiro milênio, cheios de modernidade, tão integrados ao contexto que às vezes nem sabemos quem é quem, falando na língua da imbecilidade contemporânea, plugados nas últimas tendências da moda, do teatro, do cinema e da TV, absorvendo facilmente o pensamento do século 21.

Não seria o caso de começarmos a ler mais aquelas páginas limpinhas da minha pesquisa?

Pensando bem:

Banana anda comendo macaco.