Os cristãos que vivem no Paquistão sentem que as controversas leis de blasfêmia estão sendo acusadas de aumentar a violência sectária na nação, colocando as vidas das minorias em risco.
No dia 12 de novembro, o país testemunhou o pior ataque anticristão dos últimos anos, quando aproximadamente 2 mil muçulmanos em Sangla Hill, provocados pelo discurso dos clérigos muçulmanos locais, atacaram e destruíram três igrejas, uma escola de um convento, um abrigo de freiras e diversas casas cristãs.
Os muçulmanos, segundo as reportagens, ficaram furiosos quando ouviram a notícia de que um cristão teria queimado páginas do Alcorão.
Os ataques do dia 12 de novembro chocaram toda a minoria cristã do país, deixando-os com um sentimento de insegurança. E, mais uma vez, as leis de blasfêmia foram culpadas por piorar as relações religiosas na nação, onde cristãos, hindus e outras minorias compõem apenas 3% da população, enquanto 97% são muçulmanos.
De acordo com o código penal, a profanação do Alcorão é punida com prisão perpétua, e qualquer insulto ao profeta Maomé é punido com pena de morte.
Muitos cristãos sentem que essas leis estão sendo mal-utilizadas para justificar os ataques feitos a eles e para “acerto de contas pessoais”.
Recentemente, o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, visitou o Paquistão em dezembro, exigindo que o presidente, general Pervez Musharraf, revisasse a lei.
“Minha reação foi de grande choque, uma grande consternação de que isso ainda continue a acontecer”, disse o arcebispo Rowan em uma entrevista à BBC. “Isso é parte da história do abuso das leis de blasfêmia no Paquistão, que acredito ser o grande problema do país e que deve ser tratado.”
“O problema não é tanto a idéia de uma lei contra a blasfêmia”, ele disse, “mas sim sobre uma lei cuja pena é muito severa e cuja prática dá muita abertura às pessoas que querem se vingar de outras.”
E isso, segundo alguns moradores de Sangla Hill, foi o que aconteceu em novembro. Desde então, 88 pessoas foram acusadas de saquear e queimar igrejas e propriedades, e três policiais foram suspensos por negligência.
Yousaf Masih, um cristão local, foi identificado como o profanador do Alcorão, mas algumas investigações revelaram que as alegações foram inventadas por um homem que devia uma aposta a Yousaf. O cristão está preso agora em um local desconhecido.
O reverendo Tajammal Pervez, que teve sua igreja presbiteriana destruída na confusão, crê que as autoridades, incluindo os policiais, foram insensíveis a essas preocupações. Diversas ligações à polícia, pedindo segurança para sua casa e igreja não foram atendidas, ele disse.
Segundo Tajammal, embora a relação entre os cristãos e muçulmanos de Sangla Hill tenha sido cordial por gerações, a violência mudou tudo.
No dia 4 de dezembro a Comissão Nacional pela Justiça e Paz convocou uma reunião da Consultoria Nacional sobre a “Infindável Intolerância Religiosa”. A conferência em Lahore reuniu líderes civis e religiosos de todo o país.
A consultoria resultou em uma resolução conjunta que condenou a recente agressão anticristã e condenou as autoridades do Paquistão por “não ter feito nada para neutralizar a tensão”, e por “não conseguir reparar a situação”.
Os delegados presentes na consultoria também exigiram que as autoridades do governo paquistanês levassem os perpetradores da violência à justiça, e que o governo fosse corajoso e rejeitasse as notórias leis de blasfêmia que são a causa de tantos conflitos inter-religiosos.
Os delegados assinalaram em especial o amplo abuso das leis de blasfêmia do Paquistão desde 1986, afirmando que casos de blasfêmia são geralmente abertos nas cortes locais como um pretexto para vinganças. Eles também crêem que Yousaf foi “claramente feito vítima devido à sua religião”.