Maldição hereditária

Amigos, se há uma coisa que me intriga na política nacional esta coisa é: como é possível que depois de todas as falcatruas, denunciadas, expostas e investigadas pela mídia e pela justiça, ainda subsistam raposas velhas e safadas do quilate de um Jáder Barbalho (que lidera as pesquisas para o governo do Pará), de um ACM (idem para o da Bahia), de uma Roseana Sarney (até recentemente fortíssima candidata para a Presidência) e até mesmo de um Paulo Maluf (que certamente será candidato ao governo de São Paulo)? Se existe a tal maldição hereditária, então é isso. O comando vai passando de pai para filho, como nos antigos modelos de sucessão monárquica. E assim caminha este país, passando o trono de mão em mão desde que, é claro, a mão seja a de um sobrenome poderoso.

Mercê desta patifaria, a miséria campeia. Rola solta no Maranhão de Sarney, no Pará de Barbalho ou na Bahia de Magalhães. Colhemos os frutos do São Paulo de Maluf até hoje. E o mais engraçado: o próprio povo que sofre as conseqüências é o mesmo povo que os elege. Massa de manobra na mão dos que se aproveitam da ignorância para perpetuar seus maus intentos e enriquecerem suas contas milionárias nos paraísos fiscais.

Quando esses dois fatores se encontram, os resultados são catastróficos. De um lado, o domínio dos que têm sobrenome poderoso, através do voto de cabresto. De outro, o comodismo e o conformismo dos ignorantes, dos que acham que se assim está ruim, ainda pior ficará. Esta conta tem um só resultado: desgraça.

Difícil mesmo é quando o mesmo espírito da politicagem de interesses, da trama rasteira que se agarra ao poder a qualquer custo, do uso do sobrenome, da tradição familiar, quer seja boa ou ruim, acaba encontrando espaço nos redis do povo de Deus. Igrejas há, e não poucas, onde o comando se perpetua de geração em geração e transforma as igrejas em currais familiares, em centros de projeção pessoal e dos próprios rebentos. A exacerbação do ego, projetados nos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, em toda a linhagem, enfim. É o desejo (que muitos nem fazem questão de esconder) de ver os descendentes chegando ao poder não para ministrar os oráculos de Deus, mas apenas para fossilizar o status quo. Quando se chega a este ponto, começam as comparações grosseiras, começa a “distribuição dos cargos públicos”, o “nepotismo eclesiástico”, os negócios de “pai-para-filho”. Estabelecem-se os “intocáveis”, aqueles com quem ninguém mexe, mesmo que seja preciso. Implanta-se a política do “sabe-com-quem-está-falando?”. Transforma-se o ambiente da igreja local num muito parecido com o de Israel nos dias de Eli. Os filhos estão acima da lei, eles podem fazer e desfazer (Seria aconselhável pelo menos lembrar o que aconteceu com Eli e seus filhos).

Na outra ponta da culpa está a igreja que a isto se submete. Seja por comodismo, por falta de visão, por falta de conhecimento, por interesse pessoal ou o que quer se enumere, quem aceita tal situação é como aqueles que votam nos políticos mesmo sabendo que não prestam. Estou cada dia mais convencido de que uma máxima que combati por muito tempo era mesmo verdadeira: o povo tem o governo que merece. Foi o povo pediu um rei, então tome-lhe Saul. O povo que pediu carne, então dá-lhe codorna até sair pelo nariz. O povo quer que tudo fique como está? Então ficará como está. Mas por favor, não reclame depois. Hoje em dia não se acha um que votou no Fernando Henrique…

O resultado? Toda igreja familiar é uma lástima. Seguirá seu curso de incompetência e ineficácia até finalmente ver seu candeeiro removido. O que colheremos serão igrejas fracassadas, preocupadas muito mais em defender seu modelo do que em seguir “o” modelo. Ditadores de opereta, julgando-se os donos de uma verdade que nunca funcionou, desde os tempos dos seus antepassados.

Que Deus nos livre desse mal! E que nós descubramos como.