Copa do Mundo

Amigos, esta é a terceira Copa do Mundo atravessada por Colunet. Estivemos juntos no Penta em 2002, no fracasso frente à França em 2006 e agora nesse início de 2010, ainda completamente indefinida. Sei que futebol não empolga muito aos meus queridos leitores, mas é praticamente impossível passar incólume pelo tema, que ocupa todas as manchetes, programas e conversas de norte a sul do Brasil varonil. Nosso editor pensou em fazer um Podcast relâmpago após cada jogo do Brasil. Boa idéia, mas até que ela saia do papel e por falta de melhor assunto, vou dar aqui alguns pitacos, e com eles espero trazer à tona algum assunto que edifique nossas vidas. Desta vez, vou apenas citar alguns fatos e deixo com o inteligente leitor a extração da aplicação de alguma lição que fique para sua vida a partir de cada um deles. Se conseguir isso, a virtude é sua. Se não conseguir, a culpa foi minha. Por enquanto, o que se pode dizer em lances de longa distância, a respeito da Copa da África é que:

1. Está valendo mais pela celebração e afirmação de um país marcado pela segregação odiosa, que se expõe ao mundo como capaz de solucionar seus problemas e viabilizar um gigantesco evento mundial como esse. Algo que nós, brasileiros, ainda teremos que provar. A próxima é nossa e, pelo andar da carruagem, teremos sérios problemas para cumprir cronogramas, manter orçamentos e receber com o mínimo de condições as delegações e turistas que lotarão o país em 2014. Vale mais, portanto, pelo desempenho do país África do Sul como anfitriã, porque do ponto de vista técnico, chega a ser um horror. Observem quantas bolas matadas de canela, quantos passes errados, quanto falta de criatividade, que média de gols baixíssima. Escrevo logo ao final de maior goleada, Portugal fez 7 gols num só jogo. De resto, outras partidas que deveriam ter placar semelhante, ficaram no 0x0 ou no 1×1. O nível é horroroso. Um dos piores de todos os tempos. Pode ser que melhore na segunda fase, mas por enquanto é frustrante.

2. Alguma coisa errada está acontecendo com o futebol. Este esporte cujo principal objetivo sempre foi o de fazer gols, agora inverteu-se por completo. As equipes entram em campo para evitar o gol. Só depois disso é que se preocupam com fazer o gol. Começo a entender porque os estadunidenses até pouco tempo não se interessavam pelo soccer: eles achavam sem graça um esporte que poderia terminar em 0x0. Estou começando a concordar com eles. 0x0 deveria ser punido com a perda de um ponto para cada time. Quem não consegue empolgar, quem não se esforça para ganhar, quem não faz questão de alcançar a meta (ou o gol), não merece nenhum tipo de recompensa.

3. Não estou entre aqueles que odeiam o Dunga ou que não veem nele nenhuma virtude, apesar de não acha-lo o mais indicado para a função. Por isso, estou à vontade para dizer que Dunga tem mania de perseguição. Talvez antevendo ou precavendo-se de um possível fracasso (algo absolutamente normal em qualquer área da vida, especialmente o esporte coletivo, onde muitos disputam, mas só há espaço para um campeão), o técnico da Seleção inventou uma briga com os jornalistas. Assim, se der errado lá na frente, ele já terá o álibi: a culpa foi da imprensa. Com este inimigo imaginário, Dunga se posiciona nas coletivas como um pitbull acuado, rangendo os dentes e pronto para atacar. Ataca com ironias, com factoides, com mentiras, respostas atravessadas e até mesmo com palavrões, como foi o caso da entrevista após o jogo contra a Costa do Marfim. Nisso revela completa falta de equilíbrio emocional, despreparo para conviver com a crítica e incompatibilidade para exercer um cargo público da envergadura de treinador do time de futebol nacional pentacampeão do mundo.

4. Quanto ao time brasileiro, vejo pontos positivos e negativos. Os positivos são a força do conjunto, a disposição e empenho para treinar e jogar (diferente do time de 2006), algum talento individual (casos de Robinho, Kaká, Luiz Fabiano, Júlio César, especialmente) e coragem para enfrentar caras feias e adversários violentos e desleais. Isso tudo pode nos levar a um triunfo pela 6ª vez. Os negativos são a falta de criatividade do meio-campo (quem já teve vestindo a camisa 5 craques como Clodoaldo, Falcão e até Mauro Silva, ter que aturar Felipe Melo é dureza!) e a falta de opções no banco de reservas. Pesados prós e contras, temos chances. Ganhar ou perder faz parte do jogo. O importante é fazer o melhor.

5. Pode ser somente a minha impressão, mas por enquanto a torcida brasileira ainda não se empolgou com a Copa. Ou a Copa não empolgou a torcida. Observo da janela do meu apartamento que durante os jogos do Brasil duas coisas nunca vistas acontecem: pouquíssimos fogos nos gols do Brasil e muita gente andando pela rua, de carro, a pé, de bicicleta, como se nada estivesse acontecendo. Até o último Mundial, tais cenas seriam inimagináveis. Parece que está muito mais legal pegar no pé nos pobres corintianos que perderam mais uma vez a Libertadores ou ouvir os outros tripudiando o meu Verdão do que a antes fortíssima “corrente pra frente” para ver a Seleção jogar. Há empresas que sequer vão dispensar seus funcionários, por absoluta falta de interesse desses em ver os jogos de durante a semana. Minha conclusão é de que se o espetáculo não for importante para quem assiste, ninguém atribui valor a ele e em breve serão trocados por outra coisa.

6. Ah, sim. Para dizer que não falei das flores. As vuvuzzelas são um terror. Uma chatice sem tamanho. Não tem ritmo, não tem melodia, não tem nada. Só barulho. Não expressam nada a não ser o som continuo e monótono. E pior, parece que a moda pegou por aqui. Era só o que faltava. Ainda bem que a Chamada Final será com trombeta. Mas isso fica para uma outra ocasião.