Amigos, lembro-me do Dr. Sócrates, craque do Corinthians e da Seleção Brasileira nos anos 70 e 80, contando o que ele sentiu no dia seguinte ao que parou de jogar futebol. Ele foi ao mesmo restaurante que frequentou durante seu tempo de jogador e onde era recebido com mesa reservada e conta paga. Disse que na primeira visita que fez como ex-jogador até os garçons mudaram a postura. Ele passara a ser um cidadão comum. Não tinha mais regalias, não tinha mais conta paga. Então, ele se deu conta de que as deferências com que tinha sido tratado todo aquele tempo nada mais eram do que o interesse da casa em ter uma celebridade em suas instalações. Não era reconhecimento pelo seu talento esportivo. Era só uma jogada de marketing. É a lei da selva, que impera também no mundo dos negócios. Você não vale nada pelo que já fez ou pelo que conquistou. Na verdade, ninguém é importante. A cadeira que ocupamos é importante. Nós, não. Enquanto você senta nela, você tem valor. No dia em que deixa de ocupar, não tem mais. Sua história, seu passado, suas conquistas, suas realizações, tudo isso se encerra e se apaga no dia em que pedem sua cadeira ou no dia em que você pendura as chuteiras. Você pode ter dado lucro por 10 anos. Se der prejuízo uma única vez, não serve mais. Sai, porque vem outro ocupar seu lugar. Esta é a realidade da vida. Não há o que reclamar ou questionar. É assim que funciona.
A ideia é que você tem que render, tem que produzir, não importa o que aconteça. É tudo uma questão de números, de gráficos, de relatórios. Números são frios. Eles não têm obrigação de avaliar se as condições necessárias foram disponibilizadas ou não, se as estratégias estão certas ou não, se as equipes estão treinadas e motivadas ou não. Números apenas apontam a realidade. Cabe aos que os analisam descobrir o que está acontecendo. Mas, como num time de futebol, se os resultados não aparecem, o culpado é o técnico. Não é possível no meio do campeonato mandar o time inteiro embora e começar de novo. Então, troca-se o técnico. Na maioria das vezes dá certo, mas nem sempre. O Palmeiras já trocou 3 vezes de técnico desde seu último título paulista e umas 15 desde seu último título nacional importante e parece que ainda não se encontrou… Conclui-se, então, que números também podem esconder a realidade. Um time precisa saber porque ganha, mas precisa também saber porque perde.
A vida nem sempre é justa, mas é sempre dura. Ninguém precisa ostentar sabedoria para tentar me ensinar isso, porque esta lição aprendi ao ser forjado no fogo da fornalha da vida. Nunca recebi nada de mão beijada. Recebi tudo das mãos benfazejas do Pai celestial, mas nunca sem ter ido atrás, suado a camisa, levantado cedo e dormido tarde. Trabalho com carteira assinada desde os 13 anos de idade. Porém, em todo esse tempo, nunca trabalhei sem saber que “se o Senhor não edificar”, “se o Senhor não guardar”, todo esforço é inútil. Sou profundamente grato a tantas pessoas que me deram oportunidades na vida, mas sou consciente de que elas foram simplesmente instrumentos de Deus para me abençoar. Elas, assim com eu mesmo, não têm mérito nenhum. O mérito é todo de Deus. É Ele quem fortalece nossos braços para ganharmos a vida, parafraseando Deuteronômio 8:18.
A nós que somos cristãos cabe uma reflexão mais profunda ainda. Quem, de fato, nos sustenta? Ouço missionários e pastores dizendo que são sustentados por Deus. E ouço muita gente falando como se somente os que vivem do Evangelho são por Ele sustentados. Minha Bíblia diz que “o justo viverá por fé”. Não apenas o “missionário” ou o “pastor” viverão por fé, mas o “justo”. Portanto, nunca se engane. Não é o seu patrão, seja ele quem for, quem lhe sustenta. Jamais descanse ou confie em pessoas ou promessas humanas. Já alertava o profeta que “maldito é o homem que confia no homem”. Pessoas mudam de idéia, ao sabor de seus interesses. Empresas trocam de planos, mudam o rumo de seus investimentos, decidem hoje e cortam amanhã. Só existe uma Pessoa (de acordo com a carta de Tiago e de acordo com a experiência pessoal de quem O conhece) em quem não há variação ou sombra de mudança: é o Pai das luzes, de quem derivam toda a boa dádiva e todo dom perfeito. As ofertas de Deus não são passageiras. Não dependem do humor do chefe ou das tendências de mercado. Dependem única e exclusivamente da Sua graça e do Seu poder.
É por isso que podemos repetir como nosso o hino de certeza e de alma lavada do profeta Habacuque: “ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na videira, ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento, ainda que as ovelhas sejam exterminadas, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação. O Senhor é a minha força; toma os meus pés como os das corças, e me faz andar sobre os lugares altos”.
E o povo de Deus diz AMÉM!