Revendo amigos

Amigos, acabo de retornar a Piracicaba, terra da pamonha, do sarto, do arco, tarco e verva. Quer dizer, das quedas do Rio Piracicaba, do álcool, do talco e da água velva. Por motivos que só os planos de Deus explicam, cá estou eu de novo. Morando, trabalhando e servindo a Deus na cidade onde, embora não tenha nascido, fui criado e saí somente depois de casado. Como fiquei mais de 9 anos fora daqui, está acontecendo um fenômeno interessante. Volta e meia cruzo com alguma pessoa que conheci há muitos anos e com quem perdi completamente o contato. Aconteceu umas 3 ou 4 vezes na semana passada. Ontem fui ao banco e enquanto aguardava na fila, pensava nisso. Chegou a minha vez, entreguei o cartão ao caixa que me atendia, ele fez o que eu pedi e então, ao devolver-me o cartão, disse: “Senghi!”. Bem, ninguém me chama assim. Olhei para ele surpreso e ele continuou: “Em” que ano você fez o Tiro de Guerra?”. Aí caiu a ficha. Fomos companheiros de tropa em 1988. Ao seu lado, um outro ex-companheiro de trabalho, o Marinho. Trabalhamos juntos em 1984 numa distribuidora de medicamentos. De repente você entende o sentido de “tudo passa rapidamente e nós voamos”. Alguns encontros são surpreendentes. E o papo segue mais ou menos a mesma linha:

“E aí, rapaz, casou? Quantos filhos?”
“Tá fazendo o quê da vida?”
” Eh, meu, essa barriguinha não tava aí naquela época, hein?”
“Você continua jogando bola com toda aquela habilidade?” (eles é que me perguntam isso, obviamente…)
“Precisamos marcar um dia para rever a turma”
E vai por aí.

Fiquei imaginando que o nosso primeiro “dia” no céu será semelhante. Evidente que a principal atração do céu não serão nossos amigos, nem os grandes vultos da história, nem mesmo os anjos, mas o Cordeiro. Isso nem se discute. Porém, vamos também encontrar muita gente, desde os heróis da Bíblia que aprendemos na Escola Dominical, os grandes vultos do Cristianismo , como os Apóstolos, Agostinho, Policarpo, Lutero, John Huss, Moody, Spurgeon, George Muller, enfim, toda essa galera. Também estarão lá nossos contemporâneos, além dos querubins e serafins, arcanjos etc.

Já pensou como serão alguns dos diálogos? Sugiro o seguinte script:
(Carlos, com cara de espanto): “Chico, o que você está fazendo aqui?!?!?!”
(Chico, bem-humorado): “Ora, Carlão, o mesmo que você!”
(Carlos, ainda surpreso): “Pôxa, Chico, mas como é que você chegou aqui?
(Chico, mostrando paciência): “Carlão, parece que você continua o mesmo. Você não sabe? Todo mundo chega aqui do mesmo jeito!”

(…)

(Vlade, com um largo sorriso): “Rui, meu querido, que bom ver você aqui. A gente trabalhou tanto tempo juntos, e eu nunca soube que você era crente!”
(Rui, meio sem graça): “Pois é, Vlade, eu também não…:”

(…)

(Rita, com alegria esfuziante): “Verônica! Que legal que você veio! Eu tanto que falei pra você ir à minha igreja e você não foi. Onde que você se converteu?”
(Verônica): “Ah. Naquela igrejinha da Vila Amélia. Lembra?”
(Rita, meio desconfiada): “Mas a gente não tinha trabalho na Vila Amélia!”
(Verônica, confiante): “Não, não foi na sua igreja. Foi na igreja da Vila Amélia. Aquela que você dizia que era `penteca`. Bom (risinho abafado), na época eu nem sabia o que era isso, né?”
(Rita, olhando para baixo): “É, acho que eu também não…”

(…)

(Fabrício): “Mas isso aqui é ótimo! Como é que eu pensava tão pouco no céu?”
(Caio): “É, adolescente era fogo. Quanto tempo a gente perdeu brincando com as coisas”
(Rê): “E o Reinaldo? Cadê o Reinaldo?
(Lu): “Qual Reinaldo? O da Silva ou o dos Santos?”
(Rê): “O Reinaldo, o nosso líder.”
(Lu): “Você não sabe ainda? Ele não veio.”
(Fabrício, Caio e Rê, entreolhando-se): “Iiiihhhhhh!!!”

(…)

(Forma-se uma rodinha de amigos que trabalhavam juntos naa repartição pública, pessoal de várias igrejas)
(Henrique): “Mas que bênção foi a idéia do Almeida de fazer aquele grupo de estudo bíblico depois do expediente, hein?
(Souza): “É mesmo, rapaz. Sabe que eu conheci a Cristo ali, né? Eu vivia saindo do serviço e indo direto pro bar, chegava tarde em casa. De tanto ele insistir, acabei ficando um dia. Se não fosse por isso…”
(Roberto): “É, nem todo mundo que ouviu quis saber, mas pelo menos a gente fez alguma coisa”
(Almeida): “Por falar nisso, vocês já viram por aí aqueles irmãos da “Casa de Oração” que não ficavam no grupo porque a gente era de outra igreja?”
(Oliveira): “Ah, sim. Eles estão meio atrasados, mas daqui a pouco eles aparecem.

(…)

(Hernandes, com aspecto preocupado, falando à meia-voz): “Será que vão colocar todo mundo pra tomar ceia junto?”
(Ferreira, sussurrando): “Sei lá, mas espero que pelo menos não sirvam em copinhos”
(Passando por ali, Hildebrando é chamado, ouve as perguntas e diz, com naturalidade): “Não, gente, aqui não se celebra mais a Ceia. Não precisa mais”
(Hernandes e Ferreira, juntos, espantados): “Aaahhhhhhhhh!!!! Então, tá, então!”

(…)

(Astrogildo, em tom grave): “Davi, como é que você foi dançar tocando tamborim, rapaz? Na minha igreja você nunca faria isso!”
(Rei Davi, músico e compositor, suspirando aliviado): “Ufa! Ainda bem que eu nasci antes da sua igreja!”

(…)

(Anjo dirige-se apressado a Miguel, Arcanjo): “Miguel, tem uns irmãos aí querendo falar com você. Eles dizem que é fundamental e urgente.”
(Miguel Arcanjo, curioso por saber o que pode ser urgente no céu): “Verdade? Você tem idéia sobre o assunto?
(Anjo): “Não tenho certeza, mas eles mencionaram alguma coisa sobre hinário, instrumentos, sei lá.”
(Miguel, mostrando que entendeu): “Ah! Eu já sei quem são.”

Pensando bem:

No céu não vai ter tristeza. Mas será que terá surpresas?