O Marcos vai parar?

Amigos, na semana passada após mais uma vexatória derrota em casa do Palmeiras, uma bomba caiu sobre o Parque Antártica e sobre o futebol brasileiro: o goleiro Marcos, ídolo da torcida brasileira, anunciou que está pensando seriamente em abandonar a carreira. Seria algo natural, não fossem as circunstâncias do anúncio. No intervalo entre o primeiro e o segundo tempo, com um bando de repórteres sedentos por uma polêmica, em meio a uma crise técnica do time, que amarga resultados pífios desde o ano passado, as palavras do arqueiro consagrado assumiram uma repercussão extremamente negativa.

Isso porque o Marcos não é um jogador comum. Ele está acima da média por vários motivos. Apesar de ter sua carreira absolutamente ligada a um time apenas, os torcedores de todas as outras agremiações gostam dele. É uma unanimidade, caso único no futebol atual. Somente gigantes como Pelé ou Garrincha tiveram esta honra. Ele é um campeão mundial, ganhou tudo na carreira, nunca esteve envolvido em nada que o desabonasse como pessoa e como profissional. Foi campeão da Libertadores, mas também caiu com o time para a segunda divisão e, ao contrário de outros, não pediu para ser vendido. Ficou lá até voltar. Ele é um torcedor apaixonado, não apenas um profissional que está ali para ganhar seu dinheiro e pronto. Ele é uma referência no esporte, uma exceção.

Marcos fala o que pensa. É sua característica marcante. Não coloca muitos filtros, não se preocupa em ser politicamente correto. Todos pensam, mas só ele diz certas coisas. Tem gente que morre de vontade de ter a coragem que ele tem de dar certas entrevistas. Só que esta é uma virtude que pode se transformar em defeito. Se não for usada com sabedoria, pode trazer problemas. Algumas coisas precisam ser tratadas e discutidas dentro do vestiário, não nos microfones e câmeras. Nem todos os assuntos são para todo mundo. Nem todas as verdades podem ser ditas.

Marcos está ferido. Ele convive com contusões crônicas que limitam seus movimentos. Só entra em campo com dores. Os anos de esforço deixaram marcas. Para um esporte de alto nível como o futebol, ele já não é mais um menino. O tempo amadurece, mas também judia. É muito difícil ter que conviver com dores que não nos deixam nunca.

Marcos está cansado. Ele é um vencedor e não gosta de perder. Nos últimos anos ele acumula mais fracassos do que triunfos. A diretoria não contrata, o treinador não dá padrão de jogo, os jogadores não se comprometem. Uns chegam e outros saem, sobra sempre o pobre do Marcos para dar explicações. Chega uma hora que isso dá nas tampas. Ele não aguenta mais. Sua história é muito melhor, muito mais rica e muito mais vitoriosa de que a de todos os que incompetentes que o rodeiam, sejam dirigentes, sejam membros da comissão técnica, sejam jogadores. Ele tem o direito de estar de saco cheio. Ele dedicou sua vida ao clube. Abriu mão de muita coisa, inclusive de dinheiro, para ficar enquanto outros iam. É duro para quem se dispõe a encarar a vida desta maneira perceber que, enquanto isso, os demais estão mais preocupados em jogar truco na concentração e negociar seu passe para a próxima temporada em outro clube. É difícil se descobrir nadando contra a maré, dentro do mesmo barco.

Marcos precisa tomar uma decisão. Eu não sei o que seria mais adequado. Há prós e contras. Motivos não faltam para uma ou para outra escolha. Alguns dizem que ele deve parar antes que sua bela história seja manchada por erros e destemperos. Outros dizem que ele não precisa provar mais nada a ninguém nem se preocupar com as críticas, por vezes injustas, ao seu trabalho. Afinal, o que ele já fez em 10 anos, poucos farão durante sua vida inteira.

Será que o Marcos vai mesmo parar?