Rui Barbosa e o iletrado

Amigos, uma das maiores inteligências deste país foi, sem dúvida, Rui Barbosa. Alcançou notoriedade internacional ao discursar brilhantemente em Haia, sendo por isso mesmo apelidado de “O Águia de Haia”. Escritor, senador, homem brilhante, no final da vida foi perdendo gradativamente a visão. Um dia, tentava enxergar o letreiro do bonde que vinha rua abaixo e mesmo com muito esforço não conseguia decifrar o destino do coletivo. Perguntou, então, a um homem que estava ao seu lado: “O senhor poderia me dizer para onde vai aquele bonde?” O homem respondeu incontinenti: “Desculpe-me, senhor, eu sou analfabeto também, igual ao senhor”…

É brincadeira? Chamar o grande Rui Barbosa de analfabeto, só porque ele não conseguiu ver o letreiro? Pois é, é a velha mania de julgar os outros pelo seu próprio contexto. Achar que todo mundo padece dos mesmos males que a gente. Se ele não consegue ler, é porque não sabe ler. Dedução rápida, lógica, porém absurda, especialmente naquele caso.

Não é assim que agimos, com freqüência? Não é verdade que julgamos os outros baseados em nossas próprias atitudes, preconceitos e idiossincrasias? O marido infiel sempre desconfia da esposa, mesmo que ela lhe seja fiel. Por quê? Porque acha que ela está agindo como ele age quando está sozinho. O desonesto sempre vê perigo quando negocia. Por quê? Porque pensa que todos são trapaceiros como ele. O mentiroso desconfia da palavra de todo mundo, porque acha que todos mentem como ele. Quem costuma usar o púlpito para mandar recado, acha que todo pregador está mandando recado para ele. E assim por diante. Muitas vezes, com a base falsa da nossa própria realidade falida, emitimos julgamentos precipitados, que podem inclusive denegrir e até destruir a reputação e a honra de uma pessoa.

Seria melhor que antes de darmos nosso “veredicto” sobre uma pessoa, a gente tivesse um pouco mais de maturidade. Às vezes pode ser que o nosso “mundinho”, o curral apertado onde confinamos nossa experiência de vida, é pequeno demais, é mesquinho demais. Por isso, ao tentarmos reduzir os outros que estão à nossa frente (simplesmente porque não se conformaram com um universo tão restrito para suas vidas) aos mesmos padrões de mediocridade e estagnação que nós, cometemos tremendas injustiças no julgamento.

Pensando bem:

“Pense antes de agir; pense duas vezes antes de falar” (de Our Daily Bread)