A Brasília que queria ser Audi

Amigos, aquilo era muita pretensão. Desculpe-me se o dono estiver lendo, mas um dia desses viajava pela Rodovia Anhangüera quando, à minha frente, atrapalhando o trânsito ia uma Brasília, não mais do que 76, com algumas peças balouçando ao vento que os 60Km/h lhe permitiam enfrentar. Não me lembro bem da cor do carro, nem outros detalhes de acessórios, porque assim que a vi, meus olhos foram atraídos para uma plaquinha colada na tampa traseira do veículo (??), dessas que trazem o distintivo do fabricante. Ao invés do que seria natural de se esperar em um veículo fabricado pela Volkswagen, vislumbrei quatro argolas entrelaçadas, refletindo a luz de uma bela manhã de sol no interior paulista. O símbolo era da Audi!!

Já imaginou? Uma Brajola 76 achando que tinha vocação para Audi. Se A3, A4 ou A6, não sei. Mas Audi. Nada contra quem tem Brasília, absolutamente. Foi um carro excelente para a sua época e até hoje quem possui um exemplar não se decepciona. Não é este o ponto. Mas que não deixa de chamar a atenção (e imagino que foi isso que aquele bem-humorado motorista quis fazer), isso não deixa.

Quem dera fosse fácil assim. Compro um Fusca, transformo-o em Mercedes. Compro um Fiat 147 L e meto-lhe um adesivo, e tenho uma BMW. Já pensou que maravilha??! Mas você e eu sabemos que isso é piada. Não funciona assim, nem para o carro, nem para a vida, nem para a igreja.

É verdade que tem muito crente que acha que o nome de “cristão” faz dele um seguidor de Cristo. Que o nome dele no rol de membros da igreja faz dele um discípulo. Que a Bíblia debaixo do braço vai fazer com que ele conheça as verdades nela contidas (talvez por um processo de “axilosmose”…). Criamos até uma “etiqueta do crente nota 10”. Não bebe, não fuma, não vai ao cinema, não joga na loteria,. Se for mulher, usa roupa assim ou assado, só usa esmalte incolor e não põe brinco. Para ambos, se forem assíduos freqüentadores das reuniões, ótimo. Nem que seja para ir dormir no banco ou ficar lá reparando na saia das outras, ou no tamanho da mensagem, ou coisa que o valha.

Não estou aqui para discutir o que dentre essas coisas está certo ou errado. Isso já tem uma pá de gente que se propõe a fazer. O que eu quero chamar à reflexão é: por acaso a gente não está colocando etiqueta de Audi em Brasília velha? Será que não estamos tentando gerar espiritualidade colocando um rótulo que não condiz com o produto? Sem esperar transformação de caráter, sem esperar maturidade, sem esperar crescimento, só um rótulo?

O mesmo se aplica à igreja como um todo. Fazemos tanta questão, brigamos tanto por causa da maneira como queremos ser conhecidos e chamados, e preferimos o título de “igrejas neo-testamentárias”. Mas será que é o rótulo que interessa? O adesivo de Audi vai transformar a Brasília?

Já falei e repito: cuidado com o Procon! Daqui a pouco alguém vai ser autuado por propaganda enganosa!! Não seremos neo-testamentários só por definição ou exigência dos nossos ensinadores, nem porque escolhemos 3 ou 4 ensinos do Novo Testamento para seguí-los com afinco, em detrimento de outros tantos que negligenciamos.

As igrejas que aparecem em Atos dos Apóstolos fazem parte do Novo Testamento. E eram bastante diferentes, em forma e essência, de qualquer uma das igrejas que hoje reivindica para si esta condição.

Infelizmente, quem nasceu para ser Brasília, nunca vai chegar a Audi. Nem colando o adesivo.

Pensando bem:

“O hábito não faz o monge” (Sabedoria popular)