Amigos, o boato é como palha ao vento. Depois que foi solto, ninguém segura mais. E palha ao vento é coisa de ímpio, segundo o Salmo 1. O boato é uma Indústria. Para trabalhar nessa Indústria, tudo o que você precisa são duas orelhas grandes e uma boca ainda maior. E, é óbvio, o trabalho é voluntário, já que ninguém ganha nada com isso.
O boato destrói reputações, mata pessoas (o coitado do Luiz de Carvalho já morreu umas 15 vezes), divide amigos, afasta pregadores do púlpito, cria divisões, incentiva preconceitos, segrega e discrimina igrejas inteiras (“a igreja tal não segue os nossos princípios”) e promove muita, mas muita confusão.
O boato atende por outros nomes, tais como fofoca, língua solta, maledicência, mexerico. É tão esguio e sutil, que consegue estabelecer-se em uma igreja sem que ninguém o espante. Ele se movimenta por telefone (fixo ou celular), pelo correio, em conversas de rodinhas, em “visitas” pessoais e até mesmo em pregações. Embora seja elencado na Bíblia ao lado de coisas abomináveis do tipo “impureza, idolatria, adultério, sodomia, avareza e roubo” (I Co 6:10,11), pecados esses que seriam tratados com rigor por qualquer liderança minimamente séria, o boato tem salvo-conduto. Com ele ninguém mexe.
No Velho Testamento, o mexeriqueiro era tido como uma ameaça à vida das outras pessoas (Lv 19:16), e por isso quando um falso testemunho era levantado contra alguém, era punido com a morte (Dt 19:15-21). Mas hoje em dia, o seu status de abominação caiu. Agora ele é aceito e promovido até e principalmente por aqueles (as) que tem um discurso tão “espiritual e santo” que a gente tem até medo que a pessoa seja trasladada enquanto fala com a gente!
Sem entrar no mérito, mas não é sintomático que hoje em dia, pleno século 21, enquanto continuam as cruzadas e as fogueiras da inquisição contra a calça comprida, não se levanta nenhum desagravo contra a língua comprida? Já vi gente ser excluída da comunhão de uma igreja local pelo primeiro motivo (cadê a base bíblica?) mas pelo segundo, ainda estou para ver.
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Há algumas maneiras de se identificar um funcionário da Indústria do Boato. Por exemplo, o fofoqueiro profissional via de regra começa sua conversa com uma dessas expressões: “Você viu o que aconteceu???”; ou “Olha, vou falar isso pra você porque estou muito preocupado com a situação…”; ou “Se eu te falar uma coisa, você promete que não conta pra ninguém??”; ou “Estão falando que…”; ou “Eu acho que…”; ou “Estou te contando isso porque confio muito em você”; “Estou te contando isso porque você tem maturidade para ouvir” e por aí vai.
O mexeriqueiro de plantão também não admite revelar suas fontes. Faz parte do seu treinamento. Nunca espere ouvir nomes, dados concretos ou provas nos seus relatos. Usa muito o artifício gramatical chamado de “sujeito oculto”, mas prefere o “sujeito indeterminado”. Quando chamado a uma acareação, espirra. Age mais ou menos como terrorista: deixa a bomba e corre para o outro quarteirão para assistir a explosão de camarote.
Outra característica muito típica do linguarudo é que ele gosta muito de falar sobre “santificação”. Todo mundo é mundano. Todos são indecentes. A igreja está sempre com o pé no mundo. As roupas são escandalosas, invariavelmente. O pregador prega na carne. O coral quer aparecer. A idéia é tentar provar que, se não fosse os boateiros, tudo já tinha ido para o espaço.
Além do mexeriqueiro-mor, pode-se encontrar também o Auxiliar Sênior de Mexeriqueiro. É aquele que fica na retaguarda, que sabe quem começou a fofoca, mas por questões que chama de “éticas” (“Eu prometi que não ia contar quem falou”) acaba tornando-se uma peça fundamental para que o fofoqueiro não seja desmascarado.
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O Apocalipse apresenta uma faceta do inimigo das nossas almas, que acaba se constituindo num alerta para todos nós: o diabo é “o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite” (Ap 12:10). Portanto, o gerente-geral da Indústria do Boato é o próprio Satanás. Quem é realmente espiritual e santo, não se apresenta como voluntário para este serviço diabólico.
Pensando bem:
“Fofoca é toda informação confidencial dada a pessoas que não fazem parte do problema e nem da solução” (citado por Roberto Lessa, Livro Básico 2) “Sejam como elefantes: orelhas grandes e bocas pequenas” (provérbio chinês)