Quem gosta de futebol e acompanha as últimas do esporte paixão do brasileiro, soube do que aconteceu no jogo Atlético Paranaense versus Império, no último dia 20 de Fevereiro.
O jornal Diário de São Paulo apresentou uma página inteira falando do assunto, com a manchete “Um Chute na Ética” (Edição de Sábado, 26 de Fevereiro).
No jogo, o jogador Willian, meia do Atlético, comemorou com entusiasmo um gol que ele sabia que não havia acontecido. Como viu que a bola não entrou, Willian, ainda no solo, lamentou a chance perdida, mas percebendo que a arbitragem correu para o meio campo confirmando o gol, levantou e comemorou. Na verdade ele chutou a bola para fora, ela caprichosamente, passou rente à trave, bateu num poste e correu por trás do gol, balançando a rede. O juiz e o bandeirinha foram enganados pela imagem e confirmaram o gol.
Depois disso, vários jogadores e técnicos famosos e badalados (Robinho do Santos, Carlos Alberto e Wendel do Corinthians, Candinho, técnico do Palmeiras, Túlio do Volta Redonda, e outros) foram unânimes em concordar que “a atitude de Willian foi correta e que nada foi anti-ético”.
Bem diferente do que tem acontecido em campeonatos europeus em que alguns casos ficaram até famosos, como o do jogador Robbie Fowler, do Liverpool, que, num lance na área adversária, caiu e viu o juiz marcando pênalti a favor do seu time. Ele se levantou e disse ao árbitro que não havia sido falta, mas o juiz não voltou atrás em sua decisão e confirmou o pênalti. Então, Fowler cobrou a penalidade e propositadamente chutou a bola para fora.
Na verdade, a Europa não é melhor que o Brasil quando o assunto é ética, mesmo porque atitudes com a de Fowler já foram muito criticadas por outros jogadores do Velho Continente. Mas, de qualquer forma, o exemplo está aí para quem quiser ver.
O fato é que nós brasileiros vivemos debaixo do paradigma “o importante é levar vantagem em tudo” (Lei de Gérson). O mundo é dos espertos e a esperteza, ou o jeitinho brasileiro, são considerados virtudes em nosso meio.
É realmente um “chute” na ética. Já não dá mais para saber o que é certo ou errado com tanta facilidade. Haja visto as sutilezas encontradas pela consciência do povo (eu me incluo também) que, na tentativa de alcançar a vantagem como um fim, já não se importam com os meios.
Como cristãos, temos que nos opor decisivamente a este estado de coisas. Deus já disse que quem for fiel no pouco também será no muito. Ou seja, quem não consegue ser fiel nos momentos em que o que está em jogo é algo de pequeno valor, jamais conseguirá ser fiel quando o que estiver em jogo for algo importante.
Pensando assim, quem não consegue ser dizimista, por exemplo, também não será fiel se precisar entregar a própria vida. Quem não consegue ser fiel aos pequenos compromissos, também será capaz de trair a esposa ou o marido. Quem não consegue ser verdadeiro diante das pequenas demandas da vida, também será capaz de contar grandes mentiras. Quem rouba uma bala no supermercado, também será capaz de um grande desfalque no trabalho. Quem nega a Jesus nos momentos em que não há nenhuma pressão ou constrangimento para se posicionar diante de outras pessoas, também o negará quando o momento for crucial. E não sou eu quem está afirmando isso, foi o próprio Jesus quem afirmou em Lucas 16:10.
Não podemos desprezar a ética cristã. O Reino deve se tornar concreto e as nossas ações são expressas por nossas mãos, olhos, boca… Não podemos conviver com mentiras, desonestidade, falsidade, traição de confiança, egoísmo, orgulho e coisas do tipo, mesmo quando a vantagem a se levar for insignificante e o erro for quase imperceptível ou até entendido como comum. O famoso “jeitinho brasileiro” não pode ser encarado como esperteza aceitável. Tudo o que Deus considera errado, é pecado. Não podemos relaxar o padrão ético do Reino de Deus. Porque o nosso Deus é Santo e odeia o pecado. Ama o pecador, é verdade, mas odeia o pecado. E apenas Ele, por Sua Palavra, pode determinar o que é pecado.
E você pode perceber que as pessoas que agem com esse tipo de esperteza também são capazes de cometer pecados com conseqüências muito mais graves.
Realmente Jesus estava certo: Quem não for fiel no pouco, não será fiel no muito. Por isso temos que ensinar e aprender que nós demonstramos quem de fato somos, a quem pertencemos, de que material somos feitos. A ética do Reino de Deus deve se aplicar inteiramente a nós, mesmo quando a situação for o que todo mundo faz, num momento ou situação em que ninguém vai se importar ou mesmo quando ninguém estiver olhando. Como alguém bem disse, precisamos aplicar a ética cristã às pequenas coisas. Na verdade, ou procuramos ser cristãos em tempo integral, recusando vender a nossa consciência por qualquer preço, ou essas pequenas brechas, as pequenas concessões que fazemos, vão se transformar em um grande abismo. E sobre isso a Bíblia ensina que “um abismo chama outro abismo” (Salmo 42:7).
Meu irmão, não se engane, o pecado ainda gera a morte.
por Clóvis Jr.