Memórias póstumas de um legalista convicto

Já fui criança um dia! Agora sou um tolo.
Não faço mais travessuras e quando vou a festas, não furo mais o bolo.
Virei alguma esquina errada, perdi o caminho.
Tinha uma família, muitos amigos, e hoje estou velho e sozinho.

Meu mundo “sério”, rígido, não tem lugar pra mudanças.
Porém, às vezes sinto saudades, dos meus dias de criança.
Nada era tão assim, “preto no branco”, mas tudo era colorido!
É com certo receio que uso esta palavra, mas tudo era mais… divertido!

“Excelentíssimo Deus”, era “Papai do céu”! Quanta irreverência!
Pedia pelo meu gatinho e outros “inhos”! Vê-se logo que criança não pensa!
Hoje, peço pela paz mundial, inflação e outros “ãos”. Como o tempo voa!
Deus se ocupa com assuntos importantes, ou ainda prioriza as pessoas?

Corria no salão de lá pra cá! Cada encontro era uma celebração!
Cantávamos, sorríamos. Eu contemplava tudo com olhos de fascinação!
Hoje, isso tudo mudou! Como os sonhos, a vida passa.
Maturidade cristã torna a vida amarga e sem graça?

Estou há tanto tempo assim que já não sei o que é ser diferente.
O mundo descambou! Só eu vejo, só eu estou certo! Deveria estar contente!?
Esse sou eu: dias iguais, pessoas “normais”, reuniões, rituais… Deus igual.
Revisei as escrituras segundo o meu dicionário e fiz “dela” o meu manual.

Para ruminar vida afora:

“Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo. Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas, porque percorrem terra e mar para fazer um convertido e, quando conseguem, vocês o tornam duas vezes mais filho do inferno do que vocês” Mateus 23:13,15.