O crescimento da igreja evangélica e o genuíno despertamento espiritual (1)

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1. Uma espiritualidade carnal ou uma carnalidade espiritual

A conversão ao cristianismo leva necessariamente à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida (seria o evangeliquês?). O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberta na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus.

Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem alguns tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, freqüentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.

Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têm cara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27). Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc.

Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas Satanás habilmente planta o joio no meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café amanhecido da religiosidade (numa linguagem bem brasileira). A tarefa de arrancar o joio do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial – é impossível aos homens, segundo Jesus.

Da mesma maneira, o joio está misturado no coração de todas as pessoas. O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. O importante é saber regar e adubar as melhores plantas.

O melhor é reconhecer humildemente as grandes semelhanças entre a espiritualidade dos religiosos e dos genuínos cristãos! Quantas vezes determinadas denominações e comunidades isolam-se dos outros grupos por considerarem-se mais espirituais, separam-se para viver em comunidades orgulhosas e egoístas! Quão difícil é separar o joio do trigo! O Deus onisciente, o conhecedor dos corações, é o único que tem prerrogativa para separar as ovelhas dos cabritos, estes para o castigo eterno, aqueles para a vida eterna (Mt 25:31-46).

2. A presença de um sub-cristianismo confirmado pela superficialidade das conversões