Neste artigo, estuda-se o crescimento da igreja evangélica como sendo um dos indicadores de um genuíno despertamento espiritual. Para isso, cinco abordagens são oferecidas para análise, a saber: (1) a dialética de uma espiritualidade carnal ou de uma carnalidade espiritual, cuja ênfase recai sobre as experiências cristãs e humanas; (2) o problema das conversões superficiais que originam um tipo de subcristianismo, ou seja, um evangeliquês sem consciência de pecado; (3) a ênfase no emocionalismo e na experiência mística, cuja busca é pelos fenômenos; (4) a esterilidade evangélica atual como conseqüência da ausência de frutos; e (5) a desenfreada busca pelos modelos milagrosos ou por chaves mágicas que fazem a igreja crescer. A conclusão é que a igreja evangélica brasileira vive um despertamento espiritual porque está crescendo!
Introdução
Nos dias 19 e 20 de março de 2007, o Datafolha[1] realizou uma pesquisa religiosa comprovando aquilo que todos nós já sabíamos: os evangélicos continuam crescendo em quase todo o Brasil: eles são 22% da população brasileira! Interessante notar que nesta pesquisa, eles foram subdivididos apenas em dois grupos: evangélicos pentecostais (17%) e evangélicos não-pentecostais (5%), o que comprova mais uma vez que a grande maioria (quase três quartos) da igreja evangélica é fruto do movimento carismático e pentecostal.
A pergunta que vale um milhão de dólares (ou euros, com a desvalorização): Estamos realmente passando por um avivamento no Brasil? Será que as características e qualidades deste crescimento tipificam um genuíno avivamento? Será que este crescimento não demonstraria apenas um despertamento geral da população brasileira para as questões espirituais, decepcionada com a modernidade e suas promessas de realização e felicidade?
Para responder esses questionamentos, precisaremos saber que tipo de igreja está crescendo e avaliar algumas características da espiritualidade brasileira. Inicialmente devemos reconhecer que o Espírito de Deus tem agido em muitas regiões do Brasil, aumentando a sensibilidade das pessoas, trazendo-as ao reconhecimento de suas necessidades espirituais, restaurando pessoas e transformando famílias. É inegável que multidões foram trazidas a uma nova convicção da verdade do evangelho, persuadidas a Cristo, o Filho de Deus, como o único Senhor e Salvador da humanidade. É notório que vários aspectos do avivamento estejam presentes no Brasil. Talvez este seja um tempo de colheita! Colheita, porque as terras brasileiras foram fertilizadas pelas sementes, sangue, suor e lágrimas de muitos pregadores por mais de um século, desde que os primeiros missionários chegaram ao Brasil nos idos de 1850 e elas frutificaram a cem, a sessenta e a trinta por um (Mt 13:23). Entretanto, há sinais claros de fumaça no horizonte, sinais de que nem tudo vai bem no arraial evangélico. Este artigo procura destacar algumas impressões sobre o crescimento da igreja evangélica no Brasil nas últimas décadas.
- 1. Uma espiritualidade carnal ou uma carnalidade espiritual
- 2. A presença de um sub-cristianismo confirmado pela superficialidade das conversões
- 3. O enfoque no emocionalismo e na experiência mística
- 4. A esterilidade de muitos evangélicos
- 5. A busca de chaves mágicas e modelos milagrosos
Notas:
[1] Foram realizadas 5700 entrevistas em 236 municípios brasileiros. A margem de erro máxima decorrente desse processo de amostragem é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.
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