Sábado a noite, um homem conheci,
Alto, novo, trinta a quarenta anos, assim deduzi.
Mané, não sei do que, um da Silva, comum.
Afinal, mendigos não têm sobrenome algum.
Fora convidado à reunião e ficou sem ter como dizer não
Não era do tipo que checava a agenda,
Estava disponível qual fosse ocasião
Entrou, sentou-se, procurou mostrar respeito, mas cheirava mal.
Era um cheiro muito forte, cheiro de vício, de morte, seu habitat natural.
Que visão! Mané sentado, tentando ser mais um na multidão!
Até ser anunciado como visitante: Fique em pé, Mané!
Eis aqui, nosso amigo Mané, visitante, morador de rua, só de passagem, itinerante
Mané se mexia no banco, inquieto, inquietante.
“Entrou no esquema”, tentou até cantar!
Ouviu a mensagem, a palavra de fé! É pra você Mané!
“Foi bom, gostei, foi legal!
Voltarei de novo, preciso acertar minha vida com Deus”, dizia o Mané no final.
Valeu Mané! Quinta feira, pregação do evangelho e eu passo lá pra te pegar.
Não precisa, virei sozinho, já sei o caminho, não vá se incomodar.
Pô Mané, ficou feio, prometeu e não cumpriu, que será que aconteceu?
Jairo, amigo do Mané, foi procurá-lo na praça.
Voltou chateado, mais que isso, triste, sem graça, e relatou,
O Mané, morreu, não sabia O CAMINHO, se perdeu.
Foi espancado até a morte, no lugar onde dormia,
Seu corpo achado jogado num canto.
Que coisa! Que vida! Que droga! Que sorte…
Mas, pela morte do Mané, houve pouco lamento,
Pois, na boca do povo, o assunto do momento
Era o seqüestro da filha do Sílvio Santos!
Para ruminar vida afora:
“Bartimeu, cego mendigo (…) Parou Jesus e disse: chamai-o” Marcos 10:46-52.