O lixo de sua majestade

Amigos, dias atrás o país ficou sabendo que dezenas de containeres de lixo britânico acabaram sendo despejados em vários portos do Brasil. Até a última notícia que acompanhei eram 89, com cerca de 800 toneladas de detritos. Supostamente material para reciclagem, a verdade é que se tratava de lixo comum, inclusive hospitalar. Como é que alguém iria reciclar baterias velhas, fraldas usadas, seringas, preservativos e restos de comida? Parece que Sua Majestade resolveu exagerar, assumindo que os países em desenvolvimento, que historicamente serviram para enriquecer as nações hoje chamadas de desenvolvidas, agora devem continuar se prestando a ser o vaso sanitário dos dejetos de sangue azul. Você acha que já viu tudo, mas não. Cada dia vai revelando a inacreditável capacidade do ser humano em se superar na produção de cachorradas vis. Depois de sermos roubados em nossa riqueza desde o descobrimento, agora somos obrigados a engolir o que sobrou, literalmente.

O mais curioso desta história é imaginar como é que toda essa sujeira tenha vindo para cá sem que ninguém suspeitasse de nada. Trabalho numa empresa que importa inúmeros produtos, de vários países do mundo. Só quem mexe com estas transações sabe a burocracia e as exigências feitas pelos vários órgãos do governo para que se consiga liberar um container num porto como Santos. É impossível que estes desembarques tenham sido autorizados em um porto brasileiro sem a conivência das autoridades portuárias brasileiras. Nem vou mencionar que deveriam ter sido verificados pelas autoridades britânicas, porque é óbvio que elas queriam se livrar da porcaria. Agora vem esse Holywoodiano ministro do Meio Ambiente, o tal de Carlos Minc fazer cena. Por que a alfândega permitiu que esse monte de lixo saísse dos navios onde estavam? Alguém sabia disso, tanto lá como cá. São estes que precisam ser punidos exemplarmente.

Acontece que a vida toda fomos explorados porque sempre houve alguém que levou vantagem nessa situação. Sempre houve uma minoria que vendeu a dignidade da nação para ganhar o seu. Desde o tempo do Brasil Colônia, passando pelo Brasil República, chegando à Nova República. Não houve época na nossa história em que isto não tenha acontecido. Até mesmo as realizações mais auspiciosas, como a construção de Brasília, até o sucateamento do patrimônio nacional nas vergonhosas privatizações (não pela decisão ou pela filosofia, mas pelos preços ridículos que foram pagos), tudo isso sempre foi cercado de denúncias de superfaturamento e subornos. Alguém sempre levou o seu, e não foi pouco. Esta história do lixo da Inglaterra é mais um caso de sujeira pura, com o perdão do trocadilho.

Tenho uma proposta conciliadora. A gente até fica com o lixo de Sua Majestade. Damos um jeito de incinerar, reciclar, enterrar, sei lá o que. Mas em troca, nós mandamos um avião fretado (nem precisa ser container) com José Sarney, Jáder Barbalho, Collor de Mello, Paulo Maluf, José Serra, José Dirceu, José Genoino, Renan Calheiros e Edmar Moreira. Só para começar. Depois a gente, com calma, vai fazendo uma nova lista. Para cada container de lixo, mandamos 10 nomes. De 6 em 6 meses, para não acumular muito. Também, a gente precisa ter consideração com os europeus.

Mas com duas condições inegociáveis: a primeira, eles não poderão ser devolvidos nunca mais. Nem mortos. A segunda, eles terão que continuar atuando como políticos no Reino Unido. Aí a troca é justa. Se a Inglaterra não aceitar, eles que peguem de volta esta indesejada encomenda. Já temos lixo suficiente por aqui.