Milhares de manifestantes contra o aborto se aglomeraram nas ruas do centro de Madri neste domingo, em protesto contra mudanças na lei espanhola que tornarão mais fácil para as mulheres interromperem a gravidez.
Manifestantes de boa condição social, muitos acompanhados por crianças pequenas e segurando balões vermelhos em formato de coração com a mensagem “O Direito de Viver”, marcharam pela segunda vez em seis meses contra as mudanças, que devem se tornar lei em julho.
A mídia local estimou que milhares de pessoas participavam dos protestos. A manifestação anterior, em outubro, atraiu dezenas de milhares de cidadãos espanhóis em uma das maiores passeatas desde os protestos contra a guerra em 2003 e 2004.
A lei inflamou a oposição ao governo socialista espanhol e ao primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, criticado pelo seu gerenciamento da crise econômica, marcada por altos níveis de desemprego.
Os manifestantes, muitos empunhando bandeiras espanholas, marcharam sob cartazes com os dizeres: “ZP (Zapatero) 007: Licença para matar” e “Espanhóis em apoio à vida”.
Apesar de ter sido descriminalizado em 1985, atualmente o aborto só é permitido dentro da lei espanhola em caso de estupro ou se o feto ou a gravidez colocarem em risco a saúde física ou mental da mãe.
A nova lei permitirá o aborto na maioria dos casos até a 14a semana de gestação, sem risco de acusação às mulheres procurando abortar por qualquer razão.
“Nenhuma mulher pode ser mandada para a cadeia por interromper a sua gravidez ou ser ameaçada por isso. Essa é a diferença”, disse o primeiro-ministro Zapatero em um comício político no sábado.
O governo de Zapatero acelerou a transformação da Espanha conservadora e católica em uma sociedade liberal durante os seis anos que esteve no poder, com a legalização do casamento entre homossexuais e a redução do papel da religião.
Mesmo que os números de abortos tenham duplicado na última década, a prática é controversa no país tradicionalmente católico.
Maruchi Barosa, de 68 anos, acompanhada por três crianças enroladas em bandeiras espanholas, disse que a passeata é social, e não política. “Para mim, é uma demonstração em apoio à humanidade.”