Bando de loucos

Amigos, começam as aulas nas principais faculdades do país. O que deveria ser um momento de alegria e comemoração para os poucos sortudos que conseguem bons resultados nos vestibulares, acaba sendo também, em muitos casos, um espetáculo de insanidade de (alguns) veteranos. Refiro-me a duas práticas da mais completa imbecilidade, idiotice e estupidez, que ano após ano se repetem por todo o país: o trote e a arrecadação de dinheiro por “bichos” nos semáforos.

Não consigo entender como é que as autoridades, a começar pelas autoridades universitárias, não proíbem isso. Todo ano é a mesma coisa: gente machucada, humilhada e até assassinada em brincadeiras estúpidas e animalescas que nos levam a pensar: que tipo de profissional será vomitado no mercado de trabalho, se enquanto são estudantes se prestam a este tipo de barbárie? Já imaginou ser atendido por um médico no plantão de um hospital, sabendo que quando ele era aluno, participava, aprovava e incentivava essas coisas? Todo dia aparecem na TV as imagens de gente queimada com ácidos, espancada, em coma alcoólico por terem sido obrigados a ingerir bebida alcoólica etc. Um calouro que se preze não deveria se permitir a este tipo de coisa. Tinha que ir à polícia e registrar um B.O., não somente contra quem fez a agressão como também contra a instituição de ensino. Estas precisam, sim, assumir uma posição responsável no meio disso tudo.

A outra besteira que se repete é a maldita petição de dinheiro nos semáforos. Todo mundo sabe que esses vândalos e folgados querem encher a cara com esse dinheiro e ainda tem gente que dá dinheiro para eles. Como é que pode? Deveria haver uma lei que proibisse esta palhaçada. Uma verdadeira pouca-vergonha. Sinceramente, não se pode conceber que um cidadão comece sua vida universitária disposto a se embriagar às custas do dinheiro alheio. Não existe nada mais irritante do que gente folgada. Proponho uma campanha: DIGA NÃO AOS CALOUROS INSANOS NO SEMÁFORO! Se querem beber, que bebam com o dinheiro dos seus pais. Aliás, a maioria deles é filhinha de papai, porque eles são maioria nas universidades públicas do país. Evidente que nem todos os que tiveram a sorte de terem nascido numa família de classe média encaixam-se na categoria do que estamos abordando aqui. Conheço muitos calouros que não participam desses absurdos. Estou falando dos que participam. Os demais não precisam sentir-se ofendidos, a menos que, mesmo sem participar, defendam estas atitudes nefastas.

No fundo, estas práticas evidenciam alguma coisa que não gostamos de encarar. Reclamamos dos políticos, mas nos esquecemos de que eles são nada mais nada menos do que um reflexo da sociedade que os elege. Gente à toa, sem-vergonha, sem valores, sem caráter está em todo lugar. Às vezes até na igreja os encontramos. Se o sujeito vai para a faculdade e começa sua vida acadêmica nesse nível, não se admira que ele venha a se tornar um médico que vai abusar das pacientes depois, como se denuncia na mídia hoje em dia. Se ele não tem escrúpulos em tirar dinheiro de quem passa na rua para pagar a bebida que vai consumir com os colegas, não se admira que ele será um administrador de empresas que sonega, engana o consumidor e tira vantagem em tudo.

Depois falam que o futuro do país passa pela educação! Tem gente respeitável, como Cristóvão Buarque, que acredita na “revolução silenciosa da educação”. Se entendemos por “Educação” o aspecto formal e acadêmico, esta tese já pode ser deitada por terra. Esses trogloditas imbecis que impingem trotes violentos e sem sentido, que exigem que calouros peçam dinheiro para depois encher a cara, já estão na universidade. Já tiveram pelo menos algum tempo para receber este banho de cultura do maravilhoso e decantado “ambiente acadêmico”. E mais: estão refletindo também o que estão recebendo sob influência da tal educação que revoluciona o país. É para isso que lutaram tanto? É essa a universidade que vai mudar a nação? Prefiro o analfabetismo, então!

Claro que não nego o valor da educação nem seu papel na modificação das desigualdades sociais em uma nação. Mas evidentemente acreditar na educação como uma solução isolada para todos os males do mundo é, para dizer pouco, uma inocência pueril e onírica.

Sejamos mais claros: o que estes jovens estão mostrando nas ruas das nossas cidades é o resultado dos valores que recebem em casa. Portanto, são responsáveis também os pais desses animais, que não sabem ou não se importam com o que fazem seus filhos quando saem de casa. Tem muita gente que me lê neste instante que foi calouro e veterano e nunca teve coragem de participar dessas coisas, em razão dos valores e do respeito que aprenderam a ter pelos semelhantes, valores esses que receberam em casa com seus pais. À semelhança dos bandidos de classe média que atacam mendigos e domésticas na rua, esses “veteranos” acham que podem fazer o que querem, porque não aprenderam a ouvir “não” ou “chega”. Não conhecem limites. Não aprenderam nada sobre respeitar o espaço alheio.

Talvez acostumaram a ver pais alcoólatras, que discutem na frente dos filhos, egoístas buscando sua própria felicidade a todo custo, correndo o tempo atrás do lucro a qualquer custo. Quando não, viveram divididos entre as casas do papai e da mamãe, os quais, separados, buscavam em outros relacionamentos afogar suas paixões inomináveis. Aprenderam com estes exemplos a pensarem somente em si mesmos, em fazer aquilo que “o coração manda”, em fazer qualquer coisa desde que “se sintam felizes” – mesmo que esta “felicidade” surja do prazer diabólico de quebrar a costela de um coitado de um calouro.

Que diremos, pois, à vista destas cousas? Bem, quanto a mim, eu diria: LAMENTÁVEL.