Nem um momento só

“Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” [1]

Nem um momento só
Deixou-me o Seu olhar
Nem quando eu dava dó
Negou-me o Seu amar
Nem quando eu me omiti
Como se pudesse me esconder
Nem mesmo quando não vi solução
Negou-me o Seu perdão[2]

Ângela tem 11 anos. É natural de uma cidade distante a aproximadamente 150Km de Juiz de Fora, em uma região de rodovias bastante esburacadas. Ângela tem “aplasia de medula”. A medula óssea é a responsável pela produção das células do sangue – os glóbulos vermelhos, os glóbulos brancos e as plaquetas. Diz-se que um doente tem “aplasia” quando sua medula não é capaz de cumprir o seu papel. Conseqüentemente, as células do sangue começam a cair e sobrevém anemia, sangramentos (pela falta de plaquetas) e infecções (pela baixa dos glóbulos brancos). O único tratamento possível para ela seria um “Transplante de Medula Óssea”. Entretanto, a dificuldade em conseguir um doador compatível torna esta possibilidade cada vez mais remota.

Há mais ou menos seis dias Ângela está internada. Um único episódio de febre ocasionou sua internação. Ela não tossia, não tinha dor ao urinar ou qualquer outra queixa que nos permitisse encontrar algum foco infeccioso. Entretanto, iniciamos com pesado esquema antibiótico por causa da severa imunodepressão que ela tinha. Desde sua internação, o quadro geral permanece grave.

Sua única queixa da internação era uma dor lacinante no dorso, à direita. Introduzimos morfina como única opção analgésica para pausar a dor. O quadro evoluiu com piora do quadro clínico. Hoje ela parou de falar. Suas reações limitam-se a girar os olhos e emitir alguns gemidos de dor. Ângela está morrendo.

Talvez você possa pensar que lição sádica eu poderia querer tirar deste caso tão triste… A grande lição, creio eu, em toda esta história – que ainda não terminou – não está em Ângela, mas em seus pais. A presença do casal ao lado da criança enferma 24 horas por dia apoiando a criança, conversando com ela, acariciando. O marido sustenta a mulher que chora. A mulher consola o esposo desolado. Ambos se exibem fortes quando os outros filhos visitam a criança e saem chorando do quarto.

Nem sempre a solidão vem para quem está “só” fisicamente. Quando Jesus morreu, estava cercado por várias pessoas e ainda assim se sentiu “abandonado”. Abandonado pelo próprio Pai para lutar pela nossa vida. Era preciso vencer a morte – fria e cruel inimiga da vida. Só Ele seria capaz! Missão cumprida. Pedra removida. Vida afinal.

Às vezes nos sentimos sós. Pode ser no curso de alguma doença, como Ângela, durante uma longa viagem, ou mesmo até cercados de amigos. De uma coisa, porém, não podemos nos esquecer: em nenhum momento Deus nos deixa só. Cristo venceu para estar ao nosso lado em TODOS os momentos. Ele se dispõe a fazer companhia em qualquer situação. Basta convidá-Lo para entrar na sua vida e estar junto a você.

Até a próxima.

Notas:

[1] João 14:18 [2] Sérgio Pimenta