Me considero um cinéfilo jovem. Não vejo muitos clássicos do cinema, acho que não tenho muita paciência… Saber da estréia de um filme chamado O Dia Em Que A Terra Parou (The Day the Earth Stood Still) me fazia lembrar mais do Raul Seixas do que do clássico homônimo de 1951.
Logo quis ver. Gosto de superproduções, invasões alienígenas, fim do mundo, essas coisas. Fiquei bem animado e fui ao cinema sabendo nada além disso, já que não conhecia o filme original.
O início do filme deliciosamente atendeu às minhas expectativas. Percebi um realismo na reação do governo (estadunidense) e das pessoas à chegada iminente de algo desconhecido. Gostei da sequência inicial onde a protagonista Helen Benson (Jennifer Connelly) se envolve com o fenômeno, e como tudo isto acontece.
Gostei ainda mais de todo o lance científico (!?) que explica a chegada do alienígena Klaatu (Keanu Reeves) ao nosso planeta. Sério: ficou bacana e lógico um alienígena com a cara do Neo e a roupa do Constantine, que funcionaram bem.
Somando-se ao bolo os impecáveis e belos efeitos especiais, prontamente comprei o filme. Torci para que o desenvolvimento e conclusão do mesmo tivessem a mesma qualidade, mas aí me decepcionei.
Todo aquele realismo inicial desapareceu. A trama se desenvolve de uma forma bem atrapalhada. Há um drama familiar entre a Helen Benson e seu filho, Jacob (Jaden Smith – mais conhecido como filho do Will Smith), que não se justifica. Sempre há um risco em se usar estes dramas num filme onde este não é o foco. Precisa ser justificado, crível e bem desenvolvido. Não foi o caso.
A conclusão é constrangedora. Não vou entregar nada aqui, mas é mesmo decepcionante. A oportunidade de fazer um grande filme e uma ótima releitura foi desperdiçada. Não me arrependi de ver, não, mas será um desses filmes dos quais você se esquece facilmente, sabe?
Após ver o filme fiquei curioso em ver o original, e achei-o facilmente. É bem legal ver as referências e tudo o que foi melhorado na nova versão, trazendo ainda mais tristeza da oportunidade perdida.
Legal ver mãe e filho presentes nas duas versões. Na primeira, a personagem é uma mulher frágil e vulnerável, bem diferente da versão 2009, onde é uma das melhores cientistas dos EUA. A conclusão da primeira versão também não é lá muito perfeita, não, e a ameaça é bem menor, mas pode-se justificar isso com a ingenuidade própria da época. O robô sinistrão GORT também está nas duas versões, e este foi muito melhorado. É um ponto forte do novo filme que precisa ser destacado, especialmente seu visual, que ao mesmo tempo em que remete ao original, consegue melhorá-lo e deixá-lo ainda mais clássico. Como eu queria achar um desses num McLanche Feliz da vida!
A maior pretensão da nova versão é transmitir uma mensagem ecológica contundente, que não havia no filme original. Uma mensagem até cliché, mas que reflete nossa preocupação com o ambiente (a metade que nos resta não é, Paulinho?) de uma forma bem colocada. [SPOILER] Tão bem colocada que te leva a preferir o final mais trágico, muito melhor que a solução piegas e sem sentido utilizada. O finalzinho “os humanos são maus e destrutivos mas têm coração e no fundo, no fundo, são bonzinhos” definitivamente não convenceu. Ao menos que o Klaatu conseguisse falar com os tais líderes mundiais, na ONU, G8 ou o que fosse.[/SPOILER]
Um outro fator presente nas duas versões é o retrato da situação política das respectivas épocas. No clássico de 1951, não se conseguia reunir as lideranças do mundo por causa da competição entre as nações, e toda a tensão de início de Guerra Fria. No nosso tempo, retrata-se a arrogância e pretensão dos EUA, representados na secretária de estado Regina Jackson (Kathy Bates), ao prender informações e se apropriar de descobertas e decisões, ignorando-se as demais nações. É possível reagir e se indignar com isto, o que é um outro ponto positivo do filme.
Ao final, foi uma boa experiência visitar o clássico e ver efeitos especiais bacanas, mas fica aquele triste gostinho de “não foi dessa vez”. Talvez a versão de 2070 seja bem melhor, mas acho que até lá não estaremos mais aqui…