E todo o povo dirá: Amém!

“Maldito aquele que fizer o cego errar o caminho. E todo o povo dirá: Amém!” [1]

Toda terça-feira à tarde os alunos do terceiro período de medicina têm aula de neurofisiologia – uma disciplina que ensina (ou pelo menos tenta) como é o funcionamento orgânico das funções cerebrais. Lembro-me bem de uma dessas sonolentas tardes quando o professor introduziu a aula sobre os órgãos da visão com a seguinte pergunta: “Como vocês acham que o cego enxerga? Ele vê tudo escuro, ou tudo como um clarão…” Após um breve silêncio, o professor respondeu a si próprio dizendo: “Ora, se é cego, ele não enxerga, seu cérebro não recebe qualquer informação visual, logo ele não tem qualquer sensação de claro ou escuro. A sensibilidade visual simplesmente não tem significado para o cego porque ele não tem como absorver este estímulo!” O cego é insensível à luz.

Na Bíblia, a cegueira está presente nos milagres de Jesus, na incredulidade dos discípulos, nas reprimendas aos fariseus, além de outras passagens. Normalmente associa-se a expressão “cegueira espiritual” para as pessoas que não tiveram uma experiência de salvação – os incrédulos. De fato, quem não está em Cristo, permanece em `trevas` espirituais. “De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida.”[2] “Mas quem não tem essas coisas é como um cego ou como alguém que enxerga pouco e esqueceu que foi purificado dos seus pecados passados” [3].

A Lei chamava de `maldito` todo aquele que fizesse o cego errar o caminho. Este versículo me chamou muito a atenção nestes dias em que nos aproximamos da celebração de mais um ano novo. Estive lembrando quantas vezes as minhas atitudes, minhas palavras e até minhas omissões fizeram cegos espirituais errarem. Quantos cegos caíram em enormes buracos porque eu deixei de avisá-los do perigo. Quantos foram tomados pelas hostes de satanás porque eu não tive coragem de falar a respeito do Caminho da Verdade…

Há ainda os que, vendo, se tornam como cegos. Sofrem de `catarata espiritual`. Seus olhos ficam obscurecidos por uma fina, as vezes imperceptível escama causada pelo pecado, comodismo, apego ás instituições humanas.

E eu não fiz nada. Eu não orei. Eu não alertei… Fui um mau atalaia.

“Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé” [4]. Uma irmã muito sábia esteve pregando em nossa igreja há algumas semanas atrás a respeito deste texto. O tema da mensagem era: “Aparelhando a arca”.

Fui profundamente tocado pelo Espírito de Deus através desta mensagem. Noé não sabia como construir um barco. Ele teve que aprender como fazê-lo. Ele teve que criar ferramentas que não existiam até então para trabalhar com madeira, aprender técnicas de calafetagem e construir um enorme barco em uma região seca! Através da fidelidade de Noé e sua disposição em realizar a vontade de Deus, toda sua família foi salva.

Neste novo ano, eu preciso assumir a postura de Noé. Fomos chamados por Deus para conduzirmos nossos semelhantes à arca da graça. A arca simboliza o meio pelo qual Deus quer salvar os homens perdidos – cegos – o perdão, a reconciliação em Jesus. Nós somos os agentes – os ministros – da reconciliação.

Eu preciso disto para minha vida.

Eu quero isto para minha vida.

Eu estou disposto a fazer o que for necessário para orientar o cego no caminho certo e impedir que os que vêem se desviem.

Assim sendo, tem misericórdia de mim, ó Deus, e desperta mais atalaias no meio do Teu povo…

Amém!

Notas:

[1] Deuteronômio 27:18 [2] João 8:12 [3] 2 Pedro 1:9 [4] Hebreus 11:7