O Diário de Jó: Ah, que saudade do tempo em que Deus me protegia!

“Ah que saudade do meu passado, do tempo em que Deus me protegia!” [1]

    Os meus lábios não terão lugar para a injustiça. Bildade, Zofar e Elifaz estão tentando me convencer que toda minha vida é uma grande falsidade diante de Deus e estou sendo punido por isso. O que eu fiz para merecer tamanha desgraça em minha vida?

    `Ó Deus, o Senhor me jogou na lama. Já não sou mais do que pó e cinza. Eu grito pedindo ajuda, mas o Senhor não me responde. Eu me levanto para falar, mas o Senhor não dá atenção. Como o Senhor foi cruel comigo! Lutando contra mim com todo o seu poder. O Senhor me lançou para longe com o vento e me dissolveu com as tempestades da vida. Eu bem sei que o seu plano para mim é a morte, e depois o reino dos mortos, como todos os homens. Minha vida virou um monte de ruínas; por que então deveria eu ficar calado, sem estender a mão para pedir ajuda, sem gritar pedindo socorro?`[2] Eu não seria capaz de enfrentar a grandeza e o poder de Deus.[3]

Todo o lado humano de Jó se torna evidente quando seus `amigos` terminam suas respectivas falas. Jó é pura amargura. Seu coração havia compreendido que Deus queria que ele sofresse.

Apesar de não amaldiçoar a Deus como sugeriu sua esposa e o próprio Satanás, o coração de jó começou a ficar com uma amargura tremenda.

Quando passamos por sofrimentos e provações, qual é a nossa atitude? Muitas vezes o Temor do Senhor nos impede de questionar, o que é louvável. Nosso coração, contudo, começa a cultivar uma amargura crescente contra Deus e a Sua vontade.

Aceitar a Vontade de Deus é diferente de Amar a Vontade de Deus. Mas como eu irei amar o sofrimento? Não sei. Deus sabe. Se a adversidade amplia minha comunhão com Deus, que venha!

Quando se está só
O silêncio é mais profundo
As noites são mais longas
O frio mais intenso
E até a própria sombra
Parece estar mais junta
Como se soubesse
Quando se está só;

Quando se está só,
Um grito é desespero,
Sussurro é loucura.
O estalo mete medo
E a mão forte aparece
Está sempre nos sonhos
Eternos pesadelos
Quando se está só
…[4]

Até a próxima.

Notas:

[1] Jó 29:2 (BV) [2] Jó 30:19-24 (BV) [3]Jó 31:23b (BV) [4] Sérgio Pimenta em Quando se está só. Leia a última estrofe deste poema no último número desta série.