“Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.” Atos 4:20.
Havia saído de uma palestra que participara pela manhã há pouco tempo. Nas palavras do palestrante, educação é o grande diferencial na inclusão das pessoas na sociedade em que vivemos. Acredito! Mas também acredito que a falta do Senhor na vida das pessoas torna-se um agravante e nos leva a um grande abismo. Falta acrescentar ao dicionário das pessoas um verbo: crer. Ter uma fé só baseada na Bíblia é mais do que suficiente. Porém, para muitas pessoas isso é um grande problema porque não são convencidas pela Palavra de Deus. Elas querem mais. Elas exigem mais e, na ânsia do querer mais, se perdem, se tornam errantes.
Estes e outros pensamentos, como um doce sorriso que ganhara num encontro horas antes, não saíam da minha mente. Como tinha compromisso profissional, resolvi ir embora na hora do almoço e, ao chegar na saída do prédio, tinha dois caminhos: pela avenida ou pela rodovia. A primeira era mais longa, porém, mais segura; a segunda, mais curta, porém, mais perigosa. Fiquei alguns minutos ali, indeciso. Optei pela mais longa, virei-me e coloquei-me a caminhar.
Não andei muito e um forte desejo impeliu-me para a rodovia. Dando meia volta, rumei a um grande movimento de carros que lá embaixo trafegavam em alta velocidade. Ao chegar à pista da Via Anchieta, escolhi o lado esquerdo para caminhar. Os carros vinham em minha direção de forma assustadora. Continuei resoluto… e caminhando diante de um turbilhão de pensamentos, momentos de oração e quebrantamento.
Uma fina garoa começou a cair quando avistei um andarilho lavando os pés numa bica de estrada. Alcancei-o no momento que também se colocou a caminhar na mesma direção que tomei. Puxei conversa e a primeira coisa que perguntei foi seu nome. A resposta veio seca com uma cara de poucos amigos. Não tenho nome! O homem mediu-me de cima abaixo. Arrepiei-me, mas insisti. Como? Todos têm um nome! O meu é Pedro. Ganhei outro olhar de reprovação. Dessa vez orei em silêncio e, quando reabri os olhos, senti o Senhor comigo. Falei de Jesus, plano de salvação, o amor de Deus e, calado, o homem resumiu-se apenas a ouvir. De forma sutil e misericordiosa, não via um homem maltrapilho e sim alguém que precisava ouvir algo de bom.
Em dado momento da caminhada e do monólogo engatado por mim, ele parou, resmungou algo que não pude entender e se desviou do meu caminho. Parei também e o chamei novamente. Ele virou as costas. Baixei minha cabeça e orei por sua alma enquanto os carros e a garoa eram apenas detalhes. Senti-me bem porque sei que fiz o que podia. Talvez na vida do “eu não tenho nome” faltou alguém para dar uma educação que fizesse a diferença na vida dele ou ainda alguém para falar de Jesus. Ao abrir os olhos, vi, então, aquele homem distanciando-se de mim cada vez mais para se perder por entre os carros mais abaixo atravessando para o outro lado da pista. Acompanhei-o com minha visão e uma oração por sua vida. Queria tanto poder falar mais!
Sei que muitos não ouvirão o que falamos, mas, se pudermos, nem que for por um instante, debaixo de uma garoa e carros velozes passando ao lado, com inúmeras inquietações na alma além da lembrança de um doce sorriso, terá valido a pena.