“Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração.” 1 Samuel 16:7.
Essa quinta-feira do feriado de Corpus Cristi teria tudo para ser igual a todas as outras que já havia vivido, porém o Senhor acrescentaria nela algo que nunca imaginaria acontecer. Algo que marcaria, mais uma vez, minha vida. O compromisso assumido com um grande amigo me levou ao Jabaquara para um aniversário e lá, antes de cortarmos o bolo, li uma passagem bíblica para os convidados e orei pelo aniversariante.
Tempos depois, um abraço e um aperto de mãos com cada um presente naquela casa era minha despedida. Na rua, em direção ao terminal de tróleibus, pensei em inúmeros fatos que aconteceram durante a semana e na oportunidade que havia tido falando de Jesus, instantes antes, para um grupo tão diferente. Quando cheguei próximo do local de embarque, dois caminhos surgiram na minha frente. Um era largo e mais perto da entrada, o outro, estreito e mais longe, porém seguro já que na outra opção teria que atravessar fora da faixa e correr desviando dos carros. Estava sem pressa, então escolhi o mais estreito e seguro. Ao chegar no meio dele, passei por uma senhora deitada no chão da praça que me pediu ajuda. Apenas sorri e continuei meu caminho. Não andei 10 metros e uma voz falou dentro de mim: “Você acabou de falar sobre pessoas que estão à beira do caminho e passa direto?”. As lágrimas vieram ao meu rosto, pedi perdão ao Senhor e dei meia volta. Sentei-me do lado daquela mulher e, ainda chorando, perdi perdão a ela também. Começamos a conversar.
Meu nome é Pedro, qual o seu?
Nilza, “Nilza Cristina” enfatizou.
Seu nome é bonito, assim como seus olhos, são verdes, não são?
Sim, verde folha seca. Respondeu. Rimos juntos.
De onde veio, Nilza?
Do Espírito Santo.
Ah, e sua família, mora por lá?
Sim, minha mãe e meus filhos Jean, Juliete e Juliano. Nesse momento, ela começou a chorar e pedi que se levantasse para que pudéssemos conversar melhor. Queria vê-la melhor. Ela se levantou e a conversa prosseguiu com ela afastando um cobertor sujo pelas folhas do chão que se encontrava. Soube então que sua vinda para cá foi devido ao padrasto que não a queria por perto, soube que sentia enorme saudade dos filhos, dos tempos que congregava numa certa igreja evangélica de sua terra natal, das dificuldades que estava passando e que, há pouco tempo, tinha visitado uma igreja batista e gostado. Segurei a mão dela e disse que o Senhor poderia tirá-la da beira do caminho, reerguê-la e fazer um grande milagre na vida dela. Perguntei se sabia ler; disse que sim. Tirei um material que costumo carregar e ofereci a ela, assim como uma oração. Ela aceitou ambos. Baixei minha cabeça e, mais uma vez, esvaziei-me diante do Senhor chorando muito e intercedi pela jovem Nilza, de apenas 36 anos.
Já era noite e nem percebi que havia ficado muito tempo com ela. O vai-e-vem dos carros e das pessoas ao nosso redor era apenas detalhe de um mundo que não ouve seus aflitos. Senti uma grande alegria quando ela me disse que iria à igreja e voltaria para a casa de uma senhora que a acolheu há pouco tempo. Naquele feriado santo, aprendi que um sorriso não é suficiente para alguém caído. É preciso parar, ouvir, compartilhar. Chorar, se alegrar e mostrar o amor de Jesus ao próximo, não importa onde. Quando ela decidiu abandonar a capa, como Bartimeu fez, aquela mulher provou para mim que o Senhor reanima de fato os cansados, enxuga as lágrimas dos que choram e os coloca de pé. E o incrível de tudo isso é que horas atrás tinha falado justamente sobre isso.