Amigo, o Brasil assiste a uma onda de críticas e acusações contra nossos programas de biocombustíveis. A comunidade internacional decidiu agora que somos os culpados pelo aumento recente no preço mundial dos alimentos. Dizem que estamos plantando mais cana do que milho e por isso os preços dispararam. Começam a pressionar para que o país reveja os investimentos nesta tecnologia e diminua as áreas de plantio. Esquecem, propositalmente, que a especulação criminosa com o preço do petróleo, que bate recordes quase diariamente, tem um impacto muito mais efetivo e direto sobre os preços, não somente de alimentos, mas sobre toda a economia mundial. Não falam que os Estados Unidos estão fazendo etanol de milho, isto sim um crime contra a humanidade e contra a vida inteligente. O que se gasta para encher um (1 mesmo, número cardinal, indicando quantidade) tanque de combustível é suficiente para alimentar um ser humano durante 1 (um) ano. Então, quem está pressionando os preços? Quem produz energia de fonte renovável ou quem joga milho fora?
Não satisfeitos, querem também colocar o bico na Amazônia. Querem dizer o que nós devemos fazer com as florestas, mesmo sendo eles os maiores poluidores históricos do planeta e tendo dizimado suas próprias reservas e povos indígenas, como aconteceu na América do Norte e na Europa, pelo menos com as florestas. Em outras palavras: julgam-se os donos do mundo. Destruíram tudo, poluíram e arrebentam o meio-ambiente em seus países e agora têm a cara-de-pau de vir dar palpite aqui. Evidente que não defendo que façamos a mesma coisa com os recursos naturais que os países ricos fizeram. Aliás, são ricos porque exploraram os seus e roubaram as nossas riquezas. O ouro que recobre os palácios e castelos europeus foram arrancados pelos colonizadores da América do Sul e da África. Ou alguém acha que caiu do céu, como fruto da bênção de Deus sobre os descendentes de Jafé?
Esta situação me ensina duas coisas. Primeiro, que o Brasil deve soberanamente mandar essa gente ir se catar. Eles que cuidem dos seus problemas. São hipócritas. Tem uma trave no olho e querem tirar o cisco do olho alheio. Eles não detêm os direitos do melhor do planeta. Em função das políticas imperialistas das chamadas nações de Primeiro Mundo, com a exploração das riquezas e da inteligência dos países em desenvolvimento é que chegaram onde estão. Então, os governos que forem sérios não vão permitir que este discurso orgulhoso, arrogante e prepotente fique sem uma resposta à altura. Neste sentido, por mais que se possa criticar o presidente Lula em vários aspectos da sua administração, não se pode negar que sua posição tem sido austera na questão. Nós, cidadãos sul-americanos e africanos, esperamos mesmo um posicionamento coerente com nossa dignidade.
Em segundo lugar, porém, a discussão me ensina que precisamos fazer a lição de casa. Se os países ricos precisam cuidar da sua vida, nós também precisamos aprender a cuidar da nossa. Sabemos que o argumento de que a cana-de-açúcar é responsável pela inflação nos alimentos é estúpido e mentiroso. Mas não podemos negar as denúncias de trabalho escravo, de condições de trabalho sub-humanas nos canaviais do interior de São Paulo, estado mais próspero da Federação. Quando os trabalhadores recebem, é uma miséria. Há um aumento assustador no índice de viciados em drogas entre os cortadores de cana. Os usineiros também não são a Madre Teresa de Calcutá. Eles também cobram mais do que precisa. O preço do álcool também não é justo. Também existe especulação, cartel e outros indícios de banditismo explícito. Esses dias o álcool subiu porque o petróleo subiu. Isso tudo também precisa acabar.
Em relação à Amazônia, ela é mesmo nossa e de ninguém mais. Por isso mesmo, precisamos cuidar melhor dela. O desmatamento continua desenfreado. Os conflitos de terra continuam matando e com bandidos dos dois lados. A extração de uma árvore no meio da mata estraga toda uma área no seu entorno, porque o trator destrói tudo do caminho até chegar a ela. O que se faz, especialmente no estado do Pará, é um crime. Não dá para somente dizer que é nosso. Quem ama, cuida. O privilégio de sermos donos na Amazônia implica na responsabilidade de cuidar dela.
Vê-se, portanto, que a solução para o problema está longe de ficar na retórica e na troca de farpas. Como brasileiros, precisamos defender nossa soberania e o direito de legislarmos sobre nossos próprios problemas, sem ingerências nem palpites daqueles que não conseguiram cuidar de preservar sua própria natureza. Mas como brasileiros precisamos também aprender a lidar com as coisas com responsabilidade. A corrupção que se instalou aqui desde os tempos do Marquês de Pombal só vai acabar quando cada um dos brasileiros rasgar a Lei de Gérson.
Não sejamos hipócritas. Há corruptos no mundo todo. Fraudes bancárias, adulteração de balanços patrimoniais, vazamento de informações confidenciais, especulação de preços, acontecem no mundo todo. Não sejamos ingênuos. O ser humano é falido em qualquer parte do mundo. Se de um lado defendemos a soberania nacional, por outro precisamos aprender a defender a vergonha na cara nacional. A questão que precisa ser posta é que enquanto ficarmos jogando a responsabilidade de nossas ações para cima dos outros, todo mundo vai continuar pagando a conta, especialmente os mais pobres.
O que me irrita, tanto da política internacional, como nas relações interpessoais em todos os níveis é a mania que temos de querermos nos imiscuir na vida alheia com contundência, enquanto deixamos o erro, a maldade e a injustiça correr solta na nossa própria. Santa hipocrisia. Eu posso e devo exigir coerência entre o discurso e a prática dos outros, mas não o direito de fazê-lo sem antes arrumar minha própria vida.
Já viram como é fácil resolver os problemas da humanidade, do vizinho, dos irmãos da igreja, da empresa, do governo, dos professores, dos nossos pais ou dos filhos dos outros? Tudo parece tão claro, as respostas e as soluções são tão óbvias, que só não enxerga quem não quer. O difícil mesmo é resolver o nosso próprio problema, tratar das nossas próprias mazelas, expiar a nossa própria culpa.
Foi o inspirado o apóstolo Paulo quem disse: “Que ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem. Por sua vez, seja um exemplo para os outros fiéis, seja pelo que você diz, pelo que você faz, pelo modo como você ama, por aquilo em que você crê e pela pureza do seu caráter” (paráfrase de I Tm 4:12). Muitas vezes os jovens não são ouvidos porque, apesar de terem boas idéias e bons ideais, a liderança não pode contar com eles. Falta-lhes responsabilidade, compromisso, seriedade. E aí, suas reivindicações caem no esquecimento.
Foi o inspirado apóstolo Pedro quem disse aos pastores: “tornem-se modelos do rebanho”. Muitos líderes não são ouvidos, porque os liderados sabem que eles são incoerentes. Pregam uma coisa que não vivem. Seus discursos são vazios. E aí, suas orientações caem no esquecimento.
Impressionante como os princípios da palavra de Deus valem para qualquer esfera da nossa vida, desde a nossa família até às decisões da ONU.
Se eu não posso influenciar a ONU, que pelo menos as minhas decisões pessoais sejam influenciadas por aquilo que a Bíblia diz.
Pensando bem:
“Médico, cura-te a ti mesmo” Jesus Cristo