Amigos, tenho algumas certezas insofismáveis, inabaláveis, absolutas. Nem todos parecem ter as mesmas, mas eu tenho. Antes de mais nada, eu nego tudo. Nego até sob tortura.
Amigos, creiam-me: eu não matei Isabella. Eu não estava de plantão no dia do acidente da TAM, mesmo porque não sou controlador de vôo. Eu não levei dólar na cueca. Não foi meu o voto que decidiu aumentar a taxa de juros. Não indiquei Barack Obama para candidato nem vendi o espaço para a propaganda da câmera 3 em 1 que não precisa de comprovante de renda nem de cartão de crédito.
Amigos, eu não elegi o presbitério da sua igreja, não torci para que você casasse com ela nem com ele. Não pedi para entrar nem para sair. Não mandei a Vale do Rio Doce a leilão. Não tenho secretário no Rio de Janeiro nem em Paris nem em Mombuca. Não deleguei procuração a ninguém para falar em meu nome nesses lugares ou em qualquer outro deste planeta. Não tenho ninguém que cuida da minha agenda, a não ser eu mesmo. Não assinei o que não escrevi, nem gravei o que não preguei.
Nunca estive no Norte. Não conheço pessoalmente Cesar Castellano, César Sampaio nem Júlio César. Não sou parente, nem distante, do R.R.Soares. Não sou responsável pelo aumento do preço do petróleo nem estabeleço o preço do álcool na bomba. Não foi minha a sugestão para voltarem a CPMF. Não estou em disciplina na minha igreja. Não tenho nenhum disco, CD ou DVD de Zezé de Camargo e Luciano.
Amigos, acreditem: nunca bati na minha mulher e não apoiei a passeata gay em São Paulo. Não decidi o resultado no Supremo sobre células-tronco. Nem sequer sobre as células-galho. Não, não foi para mim que o rei da Espanha disse “Por que no te calas?”. Não sei tocar violão e nunca fiz aula de bateria. Não ganhei nenhum prêmio de loteria. Não sou pastor ordenado nem ordenhado.
Não mudei de casa, não voltei para Piracicaba. Nunca, em hipótese alguma, votei em Paulo Maluf. Não sou contra a celebração semanal na Ceia. Não tenho carro importado. Não botei fogo em Roma e não torço para o Botafogo, de Ribeirão Preto, do Rio ou de qualquer outro incêndio.
Não fui preso por falsidade ideológica. Não dei cheque sem fundo e não tenho meu nome registrado do livro do SPC. Não tenho MBA em Harvard. Na verdade, nem em Harvard nem em lugar nenhum. Em compensação, nunca comprei diploma falso. Posso ser burro, mas sou um burro legítimo.
Não sou culpado pelo aumento de preços dos alimentos. Não ordenei os ataques xenófobos na África do Sul. Não sugeri o nome do Brasil para sediar a Copa de 2014. E não, mil vezes não, não provoquei qualquer abalo sísmico na China. Não tive nada a ver com isso. Posso provar que nunca estive na Ásia.
Apesar de alguns cabelos brancos, não sou contemporâneo de Darby nem de George Muller. Eu não envenenei Tancredo Neves nem empurrei o Lulinha na escada do Pacaembu. Não tenho advogados e nunca fui processado por assédio. Eu não assinei a aposentadoria do astronauta brasileiro que foi para a lua com o nosso dinheiro.
Amigos, não sou fã de Jô Soares, não gosto de rap e não sou a favor do aborto. Não pedi que me elogiassem nem que me atacassem. Por falar em atacar, não indiquei o Dunga para a seleção. Não aceitei a indicação, que nunca existiu, para tornar-me assessor de deputado.
Não doei ouro para o bem do Brasil e nunca comprei a faca Ginzo 2000, que corta um cano de chumbo em dois e a seguir divide um tomate. Não prego o que as pessoas gostam de ouvir nem uso o púlpito para mandar recadinhos. Nunca fui ao Paraguai, nem para comprar bala. Não sou responsável pelas decisões que você toma, as boas, as médias ou as ruins.
Escrevi este artigo. Isso não nego. Bem como os outros todos que nesta coluna se acham arquivados.
E tenho dito.
Pensando bem:
Por que as pessoas não cuidam mais de suas vidas?