“Meu Deus , meu Deus , por que me abandonaste?”[1]
Vindo da enfermaria pediátrica do Hospital Regional ouvi um ‘psiu’ dirigido a mim. Normalmente não atendo a chamados assim, mas resolvi olhar assim mesmo não sei por quê. Em princípio não reconheci a pessoa que estava me chamando. Uma segunda olhada foi necessária para reconhecer que o jovem que tratava-se de um jovem rapaz que estava freqüentando as reuniões do grupo de adolescentes que coordeno. Trajando pijama hospitalar, com aparência emagrecida, barba por fazer, quase não reconheci o rosto do Marcos[2]. Ele estava internado na ala reservada aos pacientes com doenças infecto-contagiosas e que, em virtude disto, não podem ter contato com outros doentes, pelo risco de transmissão de alguma doença.
Marcos tem AIDS. Seu quadro clínico sugere que o estágio de sua doença é bastante crítico. Seu corpo dói. Ele não consegue comer porque dói. Seu braço exibe marcas de inúmeras picadas de agulhas – necessárias para fazer exames e administrar medicações.
Conheço pouco da vida deste jovem. Na verdade possuo pouco contato com a trajetória de vida que ele teve. Até uma semana atrás ele era somente um jovem que freqüentava as reuniões de oração que não tinha muitos amigos. Talvez ele tenha procurado a igreja na esperança de encontrar algum abrigo e acolhida. Talvez. É somente uma especulação.
Deus me fez sentir algo a respeito desta história. Ninguém estava ao lado do Marcos. Quando ele me viu andando nos corredores daquela instituição ele não queria me pedir um remédio para dor. Sua fala deixou claro para mim que o que ele precisava naquele momento era de um pouco de atenção. Alguém par estar ao lado. Que pudesse lhe dar um aperto de mão e dizer-lhe que estaria orando pela sua recuperação.
Poucas pessoas estão dispostas a estender a mão às vítimas da AIDS. É comprometedor. O que minha família vai dizer? O que meus amigos vão pensar de mim se eu disser que tenho um amigo aidético!
Imagine o que Jesus sentiu na cruz! Imagine que na cruz Ele pudesse ouvir o que se passava no coração daqueles que o assistiam na sua morte.
Preciso estender mais a mão para estes a quem Deus ama. Talvez não tenha condições de ser um Capelão. Preciso, porém, estar mais junto dos irmãos que têm exercido este ministério. Os doentes não precisam de dó. Eles precisam de Salvação. Eles não precisam conhecer o Deus que lhes coloca no leito da enfermidade por causa do terrível pecado que cometeram, pois o sofrimento já lhes é suficiente para dizer isto. Eles precisam saber que Deus os ama e todo o pecado é lavado no sangue de Jesus.
Tenho muito a aprender sobre o trato dos doentes. Entretanto, uma coisa já dá para aplicar – Eles precisam saber que há alguém por perto… alguém que lhes ama. Alguém que se importa com eles. E não se trata somente do Senhor Deus…
Notas:
[1] Marcos 15:34b (TEB) [2] O nome verdadeiro não será revelado Existe um Ministério maravilhoso de Capelania Hospitalar que tem formado capelães há vários anos para ministrar aos doentes. Se você deseja conhecer o ministério destes irmãos, visite o site www.capelania.com. Se você quiser conhecer um pouco do sofrimento de Jesus na cruz observado através da visão de um médico, clique aqui e leia um surpreendente relato escrito pelo Dr Barbet.