Medo paralisante

Amigos, no prédio em que moro há um excelente corpo de funcionários. Prestativos, educados, sempre dispostos. A líder desta equipe nota 10 é a Léo. Uma moça bastante ativa, sorridente e ágil. Qualquer coisa que a gente precise, é só falar com ela. A solução virá, de um jeito ou de outro. Dia desses, descobri o calcanhar de Aquiles da Léo.

Os primeiros meses do ano são muito chuvosos em Ribeirão Preto. Chove quase todo dia. Com o calor forte durante o dia, as tempestades são muito freqüentes. Um dia desses, a coisa foi um pouco além do limite. Ventos fortes, inundações etc. Chegamos em casa debaixo d´água, como toda a cidade. Ao entrarmos no saguão, demos de cara com a Léo. Completamente muda, pálida, em estado de choque. Ela só conseguia balançar a cabeça quando falávamos com ela. O que teria acontecido? Como alguém tão esperta, comunicativa, articulada poderia ficar naquele estado? Quando ela voltou a falar, algumas horas depois, descobrimos: medo de chuva. Ela fica simplesmente paralisada, sem ação, quando começa a ameaçar de chover. Como naquele dia a ameaça se concretizou num verdadeiro vendaval, nossa pobre amiga ficou sem ação, vencida completamente pelo pânico.

O medo é uma coisa necessária até certo ponto. Ele nos impede de irmos além do razoável. É uma espécie de freio que nos faz evitar certos exageros. Ele nos dá alguma noção de perigo. A criança que chega à beira da janela do 20º andar e se joga, achando que vai virar o Super-Man, faz isso porque não tem medo. Neste ponto, a ausência de medo pode ser fatal.

Mas as causas do medo vão se mudando à medida que o tempo passa. A imaginação faz o menino chorar no escuro, porque acha que o monstro vai pegá-lo. Quem é mais tolo: o menino com medo do escuro ou o adulto com medo da luz? Afinal, anos mais tarde, o mesmo menino que não queria ficar no escuro, agora não se aproxima da luz, segundo o que disse Jesus, “para que suas obras não sejam argüidas”.

Vêm também aqueles outros medos: o medo de ser rejeitado pelo grupo, o medo de ser rotulado como “quadrado”, o medo de fracassar, o medo de ficar pra titia, o medo de não conseguir emprego, o medo de confrontar o erro, o medo da impopularidade. E desse ponto em diante, o medo passa a ser um grande problema. É aqui que ele consegue laçar e travar gente boa, que teria muita coisa interessante para fazer e acontecer, mas fica imóvel, paralisada, perplexa. Quantos projetos excelentes, que trariam bênçãos a muitos, acabam no fundo de uma gaveta por causa desse medo paralisante. Quantos relacionamentos nem começam porque alguém tem medo de ouvir um “não”, que de repente era um “sim”… Quanto progresso na vida fica para trás porque pessoas tiveram medo de arriscar. Medo. Um sentimento que tem o potencial nocivo de amarrar uma vida, de matar uma carreira.

Você tem medo de quê? Há alguma coisa hoje à qual você se amarra inexoravelmente e que o impede de ir em frente, livre e leve? Eu nunca contei, mas há quem diga que na Palavra de Deus existem 365 vezes a expressão “Não temas!”. “Não tenham medo!” Se esta conta está certa, isso quer dizer que todo dia quando você se levanta, Deus vem por meio das Escrituras lhe dizer que, além do renovar das Suas misericórdias sobre sua vida, você pode confiar nEle e não precisa permitir que o medo o paralise e derrote. Ele está conosco o tempo todo. Ele conhece nossas limitações, sabe que muitas vezes duvidamos. Sabe que nossa fé é pequena demais e parece desaparecer quando as coisas ficam muito difíceis, quando a tempestade é muito barulhenta ou quando parece que ficamos completamente por nossa conta e risco.

Quem já levou filho pequeno à praia sabe que nas primeiras vezes alguns deles receiam diante das ondas e da grandeza do mar. Eles querem o papai ou a mamãe por perto, até que ganhem confiança. Depois, são os pais que querem que eles fiquem por perto, para não terem surpresas desagradáveis. No colo do pai, as crianças vão a qualquer lugar, topam qualquer parada. Não há medo que resista a presença de alguém em quem elas podem confiar.

Deus, nosso Pai amoroso e fiel, sabe de quantas coisas amedrontam nossa alma. Ele conhece as lutas e problemas. Ele conhece o diagnóstico antes que saia o resultado do exame. Ele sabe quem vai ser contratado antes de começar a seleção. Ele sabe de tudo. Conhece nossas reações, tribulações e temores.

E carinhosamente nos convida a levar a ele nosso frágil coração, descansando nEle em todo o tempo. Da próxima vez que o medo tentar tomar você de assalto, simplesmente pare tudo, fique em silêncio e escute a doce voz do Salvador sussurrando baixinho ao seu ouvido:

“Não tenha medo. Eu estou aqui”.