Amigos, quem é o exótico? Quase que por definição, exótico é o outro. O diferente, esquisito, estranho, excêntrico, o atualmente chamado de “sem-noção”, este é sempre o outro. Nunca nós mesmos. Não teria sentido achar que aquilo que fazemos é esquisito. O que fazemos é o “normal”. O nosso jeito é “o certo”. Se um povo come com as mãos e nós com talheres, achamos estranho; quando eles nos olham e nos acham estranhos e porcos, uma vez que usamos repetidas vezes os mesmos talheres que são levados a tão diferentes bocas, nós os chamamos de “selvagens”. O exótico acaba se definindo como sendo tudo aquilo com o qual eu não esteja acostumado. Afinal, quem mora do outro lado do mundo: nós ou os japoneses? Esquisito é comer com garfo e faca ou com duas varetinhas de bambu? Quem está certo: o carioca que come pizza com maionese e catchup (eca!!!) ou o paulista que coloca azeite?
Nosso julgamento das coisas, evidentemente, é feito através das lentes de um sistema de valores que nos é passado pelas gerações que nos precederam, pelo meio em que fomos criados e pelos conceitos de mundo que vamos criando ao longo da vida. Tudo aquilo que, dentro desta visão, foge à nossa interpretação de “normal”, logo entra na coluna do “estranho”. No caso dos cristãos, muitas vezes nessa hora acaba entrando na coluna de “pecado”. Afinal, tudo aquilo de que a gente não gosta, chamamos de “pecado”. Mesmo que não seja. O estranho, no nosso conceito, “dá mau testemunho”. O diferente é “irreverência”. O exótico é “anti-bíblico”.
Comecei a prestar mais atenção aos exóticos. Talvez seja porque eu seja um inveterado apreciador da diversidade. Acredito que Deus não criaria cada ser humano com uma digital específica, para depois colocar todo mundo dentro de uma gigantesca máquina de salsichas e fazer todo mundo sair do outro lado do mesmo tamanho, cor e textura. Seria um desperdício. Seria um contra-senso. Um dos meus passatempos favoritos, já conhecido dos meus leitores assíduos, é caminhar nos aeroportos observando as pessoas. Fico impressionado em perceber como as pessoas se vestem, reagem, se despedem, se encontram. Especialmente quando você não está com pressa, é curioso ver a reação daqueles que tiveram seu vôo cancelado ou o pedido de pizza atrasado em mais de 40 minutos. Cada um é único.
Mas resolvi aplicar esta observação a aspectos práticos da vida. Comecei reparando que até mesmo certos exóticos que eram completamente isolados pelo grupo cristão no meio do qual eu convivi a minha vida inteira eram “gente boa”. Não só isso. Eles eram gente de Deus. É verdade, eles eram diferentes. Mas isto não me tornava de modo algum melhor do que nenhum deles. Pelo contrário. Alguns dos esquisitões eram melhores do que a gente. Viviam com mais graça. Obtinham melhores resultados. Enxergavam mais longe. Tinham uma capacidade genial de impactar as pessoas, inclusive pessoas que jamais seriam alvo da atenção do meu grupinho “normal”. Encontrei gente que, seguramente, seria alvo de olhares de julgamento e repreensão da nossa parte. Fui percebendo que o maior “defeito” que tinham era o de serem diferentes de nós. Suas músicas, seu jeitão, seus sistemas, sua organização, seu jeito de falar – seus piercings, talvez.
Nunca precisei me tornar igual a nenhum deles. Não precisei furar meu umbigo (por favor, não imaginem…) Seria violar a minha identidade. Não foi necessário assimilar trejeitos nem passar a repetir frases feitas.
Tão-somente descobri que a diferença entre o exótico e o normal é uma questão de aplicar uma fórmula relativamente simples: perspectiva + bom senso – preconceito.