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Preparando para o brado
Preparando para o brado – Bois de exposição
Preparando para o brado – Os Motoboys
O vocabulário da liberdade – Cântico
O vocabulário da liberdade – Júbilo
O vocabulário da liberdade – Exultação e Celebração
Os ladrões da liberdade – A falsa doutrina
Os ladrões da liberdade – Liberalismo
Amigos, finalizando a série que deveria ter acabado no ano passado, não poderia deixar de citar um silencioso entrave ao crescimento da igreja, um destruidor requintado, que come pelas beiradas, que mina com sutileza, que tem ares aristocráticos: o formalismo. Ah! O formalismo! Identifica-se pela resposta clássica, descarada, em tom grave, supondo ser o desvendar dos mistérios eternos: “Mas isso sempre foi assim!”
Uma vez os discípulos do João Batista chegaram a Jesus e perguntaram porque os seus discípulos não costumavam jejuar. Jesus respondeu que ia chegar o tempo em que eles jejuariam, mas que aquele tempo era para ser aproveitado ao máximo, curtido de fato como se fosse uma festa de casamento. Depois ele deu duas ilustrações interessantes: não adianta remendar roupa velha com tecido novo, não amaciado, porque senão o remendo rasga e fica pior ainda. Também não adianta colocar vinho novo, ainda pouco fermentado, em vasilhas de couro velhas, porque quando o couro resseca mais, a vasilha acaba rompendo.
Embora essas figuras fizessem mais sentido no contexto dos judeus daquela época, a gente consegue bem entender o que Jesus estava ensinado.Uma estrutura nova não cabe bem num contexto velho. O certo é criar uma estrutura nova para abrigar conceitos novos. Assim, ambos vão caminhando juntos, crescendo lado a lado, sem traumas, sem crises, sem neuras.
A questão com os discípulos de João, bem com todos os outros religiosos do seu tempo, era que eles não conseguiam pensar o mundo de outro jeito que não fosse através das lentes da lei de Moisés. Nada mais natural. Afinal, eles nasceram e foram criados ouvindo que aquela lei era divina, dada diretamente por Deus a Moisés e que a vida deles deveria girar em torno dela. Todos os cerimoniais, as comidas proibidas, as exigências de separação dos costumes pagãos, os sacrifícios, as determinações de pureza e impureza, tudo advinha da lei.
Mas tinha dois problemas. O primeiro é que nos dias de Jesus a lei tinha virado um objeto meramente religioso. Os líderes tinham feito seus acréscimos e retiradas, de acordo com sua conveniência. O que interessava, eles exigiam. O que não lhes interessava, sobretudo aquilo que batia neles próprios, eles ignoravam. De tal maneira que Jesus teve que dizer claramente: “este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. A lei não era seguida porque refletia o caráter de Deus, mas por mera formalidade.
O segundo problema é que os dias da lei estavam contados. Jesus Cristo estava inaugurando uma nova ordem nas coisas. Ele veio debaixo da lei, ele a cumpriu, mas em breve ela seria removida. E isto era inaceitável para aquela geração. Estava chegando uma nova estrutura, na qual não caberiam mais os antigos conceitos, por melhores que fossem. Mas por causa do apego às estruturas, à forma das coisas, eles não conseguiram (ou talvez seja melhor dizer, eles não quiseram…) se adaptar.<
O formalismo foi uma das razões pelas quais os judeus rejeitaram a Cristo. Por isso Jesus o denunciou na atitude nos fariseus e escribas, que estavam sempre reclamando das novidades. Nada lhes contentava. Veio João Batista, não comia nem bebia, não ia a festas, disseram que tinha demônio. Veio Jesus, que ia a festas com seus discípulos, chamaram-no de bêbado e amigo de gente indigna. Eles gostavam de olhar para a limpeza cerimonial do copo onde tomavam água, mas esqueciam-se de olhar para a sujeira dos seus corações. Tão presos estavam à forma das coisas, que acabaram deixando completamente de lado a essência.
Assim é até hoje. O formalismo olha para a cor da capa da Bíblia, para a tradução usada, para o tamanho da letra. Esquece da mensagem, do espírito por trás da letra, da vida que pula da página e vem transformar o coração. O formalismo olha para as mãos levantadas ou abaixadas, para as palmas ou para o silêncio sepulcral, para o barulho da banda ou para a solenidade do órgão de tubos, ao invés de olhar para a adoração em espírito e em verdade. O formalismo olha para as aparências, mas não consegue enxergar o âmago das coisas. Ele não percebe que os métodos variam, os tempos demandam novas abordagens, as gerações são servidas de maneira diferente, sem que nada disso implique, necessariamente, em abandono da verdade ou na ortodoxia.
Toda geração cria seus próprios odres. Odres são importantes. Eles mantém, carregam e guardam o vinho. Mas o que a gente quer mesmo é beber o vinho. Da mesma forma como os modelos e métodos que criamos e usamos para servir a Deus. Um dia eles foram úteis. Um dia cumpriram seu papel. O problema começa quando passamos a idolatrar o modelo, porque aí ele passa a ser mais importante do que o vinho. Então somos roubados pelo formalismo. Um dia foram compostos hinos, que depois viraram clássicos. Eles não nasceram clássicos. Eles nasceram contemporâneos, gerados em um contexto cultural e histórico. Na época, eram odres novos. Serviram bem por décadas, séculos até. Poderão continuar servindo por muito mais tempo. Mas depois surgiram outras canções, de outros estilos, de outros ritmos, de outras culturas. O estilo é o odre. O vinho é o louvor. É ele que interessa.
E um detalhe: formalismo não é coisa só de gente velha. Porque existe também o formalismo do jovem. No momento, por exemplo, parece que só o odre da Hillsong é que serve. De novo, para ficar bem claro: tudo aquilo que olha primeiro para a forma e depois para a essência é formalismo. É um ladrão da liberdade. Nos rouba do principal, do mais importante, do essencial.
Cito o exemplo da música, mas você pode aplicar a questão a qualquer área da igreja. O formalismo se esquece da graça de Deus. Porque nós somos mordomos da multiforme graça de Deus (I Pe 3:10), quer dizer, de uma graça que se revela de muitas maneiras diferentes. A graça de Deus não é uma coisa estática, exclusivista, nem “xerocável”. Ela é múltipla. Quando eu me prendo a uma única forma de ministrar a graça de Deus na vida das pessoas, eu me esqueço desta característica riquíssima, que limita a visão que as pessoas terão dela.
A multifacetada, sublime e incomparável graça de Deus quer fluir em nós e nossas igrejas para alcançar e abençoar o mundo. Não permita que o canal seja interrompido por causa do bandido do formalismo.
Cadeia neles!
A série completa:
Preparando para o brado
Preparando para o brado – Bois de exposição
Preparando para o brado – Os Motoboys
O vocabulário da liberdade – Cântico
O vocabulário da liberdade – Júbilo
O vocabulário da liberdade – Exultação e Celebração
Os ladrões da liberdade – A falsa doutrina
Os ladrões da liberdade – Liberalismo
Os ladrões da liberdade – Formalismo