O maior desastre ambiental já ocorrida na Austrália pode ter sido provocado pelo… diabo. Pelo menos, esta é a versão do pastor cingalês Danny Nalliah, dirigente do Catch the Fire Ministries, para a onda de incêndios de gravidade sem precedentes e que já provocaram a morte de pelo menos 180 pessoas. Embora as autoridades australianas atribuam as chamas ao forte calor e a uma possível ação criminosa, o religioso, radicado no país, prefere atribuir a culpa a um suposto castigo divino. Para ele, a recente aprovação de leis que descriminalizam o aborto no Estado de Victoria – justamente o mais atingido pelos incêndios – desencadearam a ira de Deus contra a nação. “A proteção do Senhor foi tirada, e Satã está agindo”, adverte Nalliah. Coincidência ou não, a região norte da Austrália também está sendo fustigada pela natureza, mas lá o problema é justamente o oposto – uma série de inundações no Estado de Queensland.
No fim do ano passado, os legisladores de Victoria aprovaram uma mudança legal que libera a interrupção da gravidez até 24 semanas de gestação. As declarações do líder pentecostal tiveram grande repercussão por conta de suas ligações com membros do governo do ex-primeiro ministro do país, John Howard, que antecedeu o atual premiê, Kevin Rudd. Em janeiro, durante as comemorações do Dia da Austrália, as pregações de Nalliah foram apoiadas pelo próprio Howard e por Peter Costello, ministro do Tesouro. Ontem, contudo, Costello criticou o pastor. “Ligar as mortes e o sofrimento das vítimas do incêndio a outros eventos políticos é aterrador, sem coração e errado”. Além das mortes já confirmadas, o governo teme que o número de vítimas fatais possa chegar a 300, e há milhares de desabrigados. Nalliah já anunciou que inicia nesta quarta-feira uma semana de jejuns e orações em protesto às leis favoráveis ao aborto. Mas não disse se pretende fazer preces pelo fim dos incêndios.