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Preparando para o brado
Preparando para o brado – Bois de exposição
Amigos, como cristão, amo a todos indistintamente. Inclusive os Motoboys. Mas eles que me perdoem. Sua profissão é decente como as outras, eles são úteis nesta sociedade que precisa de tudo muito rápido. Mas que são malucos, isso são. Para sentar em cima de uma dessas motos e passar o dia voando pelas ruas e avenidas das grandes cidades, precisa ter um parafuso a menos. Fato cientificamente demonstrado também pelas manobras radicais e estúpidas que a maioria deles pratica, enquanto os outros pobres mortais tentam se desviar deles. Um dia desses em Belo Horizonte, um deles quase me arrancou o retrovisor. Dali a alguns metros, encontrei-o estatelado no chão. O que será que passa pela cabeça deles, para gostarem tanto de desafiar o perigo? O que existe de tão fascinante em flertar com a morte a cada segundo? Sim, eles poderiam ser mais cautelosos, mas esta não é uma palavra que permeia o universo motociclístico.
Eles me fazem lembrar a atitude de muitos cristãos. Você já percebeu como muitos cristãos (talvez você seja um deles) estão sempre tentando viver no fio da navalha, tentando descobrir qual é o limite onde eles podem chegar, até onde eles podem ir? Ninguém pergunta “como posso manter o meu caminho puro?” A pergunta em geral é “até onde eu posso ir com a minha mão?” Pouca gente assume que deve esperar para o casamento para iniciar sua vida sexual. Grande parte dos jovens cristãos está querendo que você lhe diga apenas para “não engravidar”, como se ter filhos é que fosse pecado. Já existem líderes que jogaram a toalha. Acham eles que essa é uma batalha perdida e que agora só nos resta fazer alguma coisa para não perder a guerra. Dormir com o (a) namorado (a) já é tolerado. Proliferam as “igrejas” e “comunidades” que liberaram o sentimento de culpa. Agora você já pode “ficar sem culpa”, “fumar maconha sem culpa”, “transar sem culpa”, “mentir sem culpa”. Tudo em nome da liberdade.
De onde vem esse sentimento? Até que ponto, afinal, vai a minha liberdade cristã? Todos certamente já ouviram o famoso ditado “a minha liberdade se encerra onde começa a liberdade do outro”. Desde o tempo da Dona Regina, minha professora de primário (hoje Ensino Fundamental) já se dizia isso. Creio, porém, que no Cristianismo não seja exatamente este o limite da nossa liberdade. Não é meramente uma questão de respeito à vontade do outro, embora isto possa estar envolvido. É mais profundo. Não se trata apenas de andar de maneira a não ferir susceptibilidades. É mais sério.
O que entra em jogo nesta área é como a gente pode andar sem desagradar, desonrar, desrespeitar, a Deus em primeiro lugar. A questão, de verdade, é de que maneira a gente vai usar da graça de Deus sem nos voltarmos contra o Deus da graça. É como vamos viver intensamente a liberdade conquistada sem ferir o coração de Deus com nossa vida sem freios e sem limites. O nosso limite não é o que “os outros vão pensar”. Isto é temor de homens. Nosso limite é “o que Deus vai dizer”, mesmo porque Deus não “acha”. Deus diz. Procure na sua Bíblia algum lugar em que esteja escrito que Deus “tem uma opinião” sobre alguma coisa. Nós temos opinião. Deus tem veredictos. Felizes e livres são aqueles que conseguem viver por eles.
É engraçada a estranha sensação de que perdemos alguma coisa no mundo que deixamos para trás. É impressionante como a gente sente saudade de coisas que antes nos escravizavam. Como os israelitas no início da sua jornada, ao invés de curtirmos o fato de que não somos mais escravos, que não temos que amassar barro desde antes do sol nascer até tarde da noite, que ninguém mais tem direito de nos espancar, de nos humilhar e nos maltratar, ficamos reclamando que agora não temos mais os panelões de carne cozida para comer junto com a nossa ração de escravos. Charles Swindoll diz que nós “preferimos a segurança da escravidão aos riscos da liberdade”. Porque aprender a viver com gente livre não é fácil. Especialmente vivendo rodeados por escravos.
O desafio para a nossa geração não é descobrir o quão longe de Deus podemos andar sem que isso signifique um rompimento. O desafio é descobrir o quão perto de Deus podemos andar para que isso signifique um relacionamento. Isto é liberdade. E isto envolve limites. Envolve dizer que existem coisas que podem e coisas que não podem. Que ainda existe coisa que é de Deus e coisa que não é. Que há atitudes e comportamentos que não agradam a Deus e ponto final. Não é puritanismo, nem legalismo. É liberdade cristã.
O que passar dessa linha é um retorno absurdo à escravidão. Já vi gente, dentro e fora da igreja, que só não foi parar na cadeia porque Deus teve misericórdia. Eles podiam tudo. Filhinhos de papai, financiados com o dinheiro deles, nunca houve limite para tudo quanto quiseram fazer. Quando acordaram (se é que acordaram), perceberam-se presos nas teias que eles mesmos teceram com suas mentiras, vidas duplas, devassidão e corrupção do corpo, da mente e da alma. Eram escravos de novo.
Não é disso que se trata. E antes de falar duro com os ladrões da nossa verdadeira liberdade, convinha deixar claro que não estou a defender bandeira de gente à toa.
Pensando bem:
E ainda tem gente achando que eu sou um sujeito extremamente liberal! Ou são surdos ou são burros, mesmo.