Amigos, mais uma tragédia atinge em cheio a sociedade brasileira. Mal recobramos o fôlego do acidente da GOL, de novo é a vez da TAM. Muitos serão os questionamentos sobre as causas do acidente de ontem em Congonhas: quem são os culpados? Quem deve ser responsabilizado? Muitas serão as histórias a serem contadas. Quem escapou por pouco; longos inquéritos; quiçá uma CPI.
O fato concreto é que cerca de 200 pessoas se foram num momento. Sem a menor chance de esboçar qualquer reação. Todos certamente já traçavam mentalmente os planos para as próximas horas. Chegar de avião às 7 da noite numa metrópole como São Paulo, no meio da semana, em geral remete o cidadão a uma rotina estressante, como esperar as malas, arrumar um táxi, pegar um trânsito infernal, rumar para um hotel ou para outro balcão de check-in. No vôo havia autoridades, políticos, empresários, funcionários de companhias aéreas e um sem-número de ocupações e de gente ocupada. Ninguém esperava morrer. Ninguém espera morrer. Nem mesmo quem sabe que vai morrer.
Como todo mundo, passei a noite toda consternado. Sou um apaixonado por aviação. Meu sonho de menino era ser piloto comercial. A vida me levou para outros rumos, mas amo muito essa capacidade de voar, de olhar o mundo pequenininho lá embaixo, a sensação de potência das turbinas elevando aquele gigantesco e intrincado mundo de aço e tecnologia para as alturas. Mas o risco é latente. Quem sobe num avião, mesmo que não tenha ou não demonstre medo, sabe que uma queda é quase sempre fatal. Acompanhando pela TV e pelo rádio mais esta desgraça lamentável, com a perda de tantas vidas humanas, não tinha como não me sentir profundamente entristecido, especialmente pela possibilidade que se levanta de que o acidente poderia ter sido evitado.
Acordei hoje cedo e imediatamente veio à minha mente a declaração do salmista: “sai-lhes o espírito e voltam ao pó, naquele mesmo dia perecem todos os seus desígnios” (Sl 146:4). A morte de todos é certa. Toda morte é trágica. Porém, a morte nessas circunstâncias realça este componente. Quão verdadeira e inescapável é esta verdade! Tudo aquilo que a gente programou, todos os esforços empreendidos, todo o conhecimento, o dinheiro, os títulos, as conquistas, tudo aquilo pelo qual a gente lutou às vezes com tanto afinco, tudo isso fica ali. Queimado e enterrado no sítio da tragédia. Certamente nossos semelhantes ceifados na queda do Air Bus da TAM teriam outros planos para o mês de julho, caso soubessem o que os esperava. Duvido que estariam dispostos a continuar o curso normal de suas vidas. Não acredito que não gostariam de colocar em ordem algumas pendências. Mas ninguém (pelo menos comigo é assim que funciona) sai de casa pensando “que dia bonito para se morrer!” A morte contraria o natural. Não somos programados para morrer, mas para viver. Lutamos desesperadamente para nos prender a qualquer fio de vida.
Mas nem sempre nos damos conta de que cada minuto de fôlego que nos é concedido deve ser vivido de tal maneira que, dure o tempo que durar, nossa existência seja plena de significado. O salmista não criticou o fato de os príncipes dos homens terem planos. A questão que se discute era que tipos de planos são esses. Se eram fruto de uma vida que confia em Deus, e por isso mesmo define seu rumo por aquilo que Ele diz, ou se eram fruto de uma vida centrada em si mesmo, nos seus próprios ideais e conceitos. Porque nossos desígnios, estes mesmos que ficam para trás quando voltamos ao pó, podem ser de duas origens: vindos de nossos próprios corações egoístas ou plantados por Deus, para Sua glória e honra.
As tragédias nos atingem e nos deixam perplexos. Dúvidas existenciais e cruéis sobram no nosso coração nessas horas. Mas há uma coisa pior do que a tragédia e a morte. È não estar preparado para enfrentá-las. É viver a vida frivolamente, sem pensar na eternidade, sem dar bola para o que Deus diz. É viver como ímpios, como aqueles que não consideram a transcendência da alma. É viver achando que se vai viver para sempre. É andar como se Deus não existisse ou quando muito como se ele fosse uma “força cósmica superior”, “o Homem lá de cima”, “o grande Arquiteto” ou até mesmo “o Criador de tudo”. Deus nos fez para andar conosco, num relacionamento pessoal e íntimo. Ele nos criou à Sua imagem e semelhança e isto, fundamentalmente, quer dizer que Ele nos fez com a capacidade de nos relacionarmos com Ele. Pensamos, reagimos, decidimos, amamos, falamos. Tudo isso não é à toa. Não é mérito nosso nem muito menos fruto de uma evolução casual. Fomos feitos assim. Com um propósito. Com um objetivo definido. Amar a Deus sobre todas as coisas, que é sinônimo de levá-lo em consideração em tudo o que somos, fazemos e sonhamos, é a única maneira de viver uma vida que tenha sentido.
Eis a maior tragédia que nos assola como raça humana: tentar viver nossas vidas alheios à vida de Deus. Nunca deu certo, desde Adão e Eva. Não vai dar certo com você. Não vai dar certo com ninguém.