O personagem Hannibal Lecter apareceu pela primeira vez nos cinemas em Manhunter, longa de 1986 dirigido
por Michael Mann. No entanto, foi somente em 1992 que o canibal tornou-se notório como um dos piores e mais carismáticos vilões do cinema no já clássico O Silêncio dos Inocentes. Criado pelo escritor Thomas Harris, protagonizou uma série de filmes baseados em suas publicações: além desses dois citados, Lecter também é foco de Hannibal (2001), Dragão Vermelho (2002) e, agora, Hannibal – A Origem do Mal (Hannibal Rising). Pela primeira vez, não se trata de um filme baseado num romance de Harris previamente lançado. Dessa vez o próprio escritor criou o roteiro deste longa, que, posteriormente, virou romance.
O título é auto-explicativo: “Hannibal – A Origem do Mal” mostra parte da infância e a juventude de Hannibal Lecter (vivido pelo jovem ator francês Gaspard Ulliel). A história começa na Lituânia, onde os Lecter vivem cheios de posses, até que a Segunda Guerra chega e os alemães tomam conta da propriedade da família. Nem se escondendo numa pequena casa no meio da floresta a família consegue manter-se segura dentro do conflito. Após uma violenta invasão, somente o pequeno Hannibal (interpretado pelo estreante Aaron Thomas na idade infantil) sobrevive. Ele cresce traumatizado com as experiências desse período, especialmente após testemunhar o assassinato de Mischa (Helena Lia Tachovska), sua irmã mais nova. O que aconteceu com os Lecter na Segunda Guerra Mundial marca para sempre os rumos na vida do protagonista, especialmente em se tratando de sua principal característica: o canibalismo.
O grande “charme” de Hannibal é o fato dele não ser um vilão clássico: ele é sedutor, carismático e extremamente culto. Dos atores que encarnaram o personagem nas telas, nenhum conseguiu superar Anthony Hopkins, que pela primeira vez não “veste a pele” do personagem (com exceção do longa feito antes de “O Silêncio dos Inocentes”). Talvez ele seja realmente insuperável nesta função pois fez muita falta e causou uma nostalgia entre os fãs da série. Mas, na verdade, esse não é o maior problema de “Hannibal – A Origem do Mal”, mas sim de que a produção simplesmente não tem ritmo, apesar da excelente direção de arte. Os acontecimentos são previsíveis e as atuações não convencem. A construção dos personagens, especialmente os vilões, como o alemão Grutas (Rhys Ifans), é um pouco rasa e os fatos são tratados de forma superficial. Ou seja, o filme não convence como drama, muito menos como suspense.
E, de fato, a escalação de um ator mais experiente no papel de um personagem tão complexo faria com que a produção ganhasse a densidade merecida para a função de contar como se formou a personalidade tão repleta de meandros deste vilão. Por isso, “Hannibal – A Origem do Mal” pode decepcionar, apesar de trazer um novo gostinho na boca dos fãs do personagem, com perdão do trocadilho.