Chineses se surpreendem com catástrofes em “ano da sorte”

Os Jogos Olímpicos serão inaugurados sob os auspícios do número “8”, de acordo com os chineses. Oito de agosto de 2008, às 08:08 h da noite (horário local, no Brasil são 11 horas a menos). A data e hora foram escolhidas com base nas superstições chinesas para trazer “sorte e prosperidade”. A realidade, entretanto, é que o ano de “sorte” da China tem sido um ano de “desgraça” e que, ao contrário do que esperavam as autoridades, têm evidenciado as enormes “lacunas” presentes no desenvolvimento vertiginoso do país.

Em janeiro e fevereiro uma grande queda de neve bloqueou trens e a comunicação por semanas, deixando regiões inteiras sem eletricidade e suprimentos;

Em março, manifestações no Tibete desencadearam repressão, e mesmo hoje o governo está silenciado sobre o número dos que foram mortos e sobre a situação real no Tibete, que permanece como uma grande extensão isolada e sob rígido controle das autoridades.

Em abril, a mídia internacional acompanhou protestos em todo mundo, durante a passagem da tocha olímpica, que denunciavam o contraste entre a China dos sonhos e a sociedade civil global. Ocorreram muitas ameaças de boicotes aos jogos, de um lado, e econômicos, do outro.

Em maio, o terremoto em Sichuan, embora tenha trazido muitos dos líderes do país para perto das pessoas afetadas pelo desastre, também revelou os anos de corrupção e negligência do governo mãos-de-ferro na construção de escolas e construções públicas, a destruição dos quais matou uma geração inteira de crianças.

Em junho, a emergência do meio ambiente estourou: Qingdao, o lugar onde ocorrerão os jogos de regata, foi invadido por massas enormes de algas devido à poluição; muitos atletas decidiram não participar da cerimônia de abertura dos jogos, simplesmente para diminuir, em poucos dias, sua exposição ao ar irrespirável de Pequim (comparada à cidade brasileira de Cubatão na década de 70 em que crianças nasciam com deformidades por causa do ar tóxico).

No início de julho, uma praga de gafanhotos infestou mais 1.3 milhões de hectares da costa, também em Qingdao. Hebei, de onde os visitantes da capital estão bebendo água, está experimentando uma dura estiagem.

Impacto na Olimpíada

Este completo “obstáculo de percurso”, feito de calamidades naturais e violência institucional, com certeza não está facilitando o turismo internacional. De acordo com informações de várias agências de viagem e vias aéreas, os meses de julho e agosto estão “vazios” de reservas de vôos para China, e os prognósticos mais otimistas de 2 milhões de visitantes estrangeiros caíram para apenas 500 mil.

Para fazer os problemas piores, e desencorajar ainda mais os visitantes, desde o último abril Pequim tem mudado – precisamente por causa da Olimpíada – o método para solicitação de vistos, fazendo ficar mais burocrático e difícil.

Ninguém, nem mesmo estrangeiros que têm trabalhado na China por anos têm direito a vistos por mais de um mês ou para múltiplas entradas. Todas as solicitações devem ser acompanhadas por um roteiro dos lugares que a pessoa deseja visitar, uma cópia da passagem da viagem e detalhes das reservas dos hotéis.

China mais fechada do que nunca

O que deveria ser um evento que permitiria a Pequim se abrir ao mundo está se tornando exatamente o oposto, com a China se tornando mais fechada do que nunca. O Ministério do Exterior defende uma política de restrições de vistos, dizendo que é necessário manter “forças hostis estrangeiras” longe dos limites do país.

Mas a paranóia a respeito da segurança está afetando também a população chinesa. Milhares de soldados já estão instalados em Pequim. A estes são adicionados 40.000 oficiais de polícia, 27.500 reforços, 10.000 guardas de segurança, 300 guardas antiterrorismo, e 15.000 guardas nacionais voluntários, mais a rede normal de espias e informantes.

Por dias, qualquer um que tenha usado o metrô na capital teve que passar por um detector de segurança como nos aeroportos, indo através de detector de metais e sendo preparado para abrir malas e mochilas.

Até mesmo os passageiros viajando de ônibus às cidades onde os jogos acontecerão serão checados nas salas de espera e antes de entrar nos ônibus.

População vigiada

O plano “antiterrorista” objetiva acima de tudo prevenir ataques pelos muçulmanos da etnia uigur, “terroristas” tibetanos e evangélicos fanáticos. Mas a conclusão final é de que toda a população está sob vigilância.

É proibido apresentar abaixo-assinados, falar com jornalistas estrangeiros sobre problemas da China e publicar notícias sobre democracia na internet. Manifestações serão permitidas em três praças e desde que tenham autorização do governo para acontecer.

Onda de prisões em massa

Mais de 50 pessoas – ativistas, advogados de direitos humanos e jornalistas – foram presos e sentenciados nos últimos dias. Outros foram “aconselhados” a permanecer em suas casas em prisão domiciliar “voluntária”. Mesmo sacerdotes da igreja secreta (underground) foram aconselhados a “desaparecer” durante este período, até o final da Olimpíada.

Os Jogos Olímpicos, tidos como uma celebração de amizade e encontro entre pessoas estão se tornando jogos de dúvida e silêncio nas mãos de Pequim. Por isso lançamos a partir de hoje uma campanha de uma semana de Oração e Jejum pela China. Serão 7 dias de Oração e o último de um jejum em que levantaremos um clamor pela liberdade religiosa no país e pelos cristãos que estão presos e impedidos de exercerem sua fé livremente.