O que nos faz irmãos: A centralidade da cruz de Cristo

Leia antes:
Introdução
Capítulo 1 – Exórdio
Capítulo 2 – De Jesus a Cristo

Capítulo 3

O impressionante filme 300 trata de uma página interessante da história universal. Os habitantes de Esparta, na Grécia, prestes a ser conquistados pelos exércitos do persa Xerxes, decidem lutar pela sua liberdade. No melhor estilo hollywoodiano, a batalha de esparta retrata a luta de uma sociedade de homens livres contra um império comandado por um rei-deus. Sim, Xerxes, o imperador Persa se auto-denominava rei-deus.
A figura divina entrando na história da humanidade consta da mitologia de praticamente todas as sociedades. As diversas encarnações do dalai-lama e buda… o sol determinando o ciclo de saúde-doença, fartura-escassez… Os antropo-deuses gregos interagindo no mundo mortal…
Somente o cristianismo, contudo, sustenta sua soteriologia alicerçada em umsímbolo de aparente derrota, como a Cruz. Todo o sistema cristão baseia-se no fato que Cristo padeceu em uma cruz romana.

    A escolha que os cristãos fizeram da cruz como símbolo da sua fé é tanto mais surpreendente quando nos lembramos do horror com que era tida a crucificação no mundo antigo. Podemos compreender por que a mensagem da cruz que Paulo pregava era “loucura” para muitos (1 Coríntios 1:18, 23). Como poderia uma pessoa de mente sadia adorar como deus um homem morto, justamente condenado como criminoso e submetido à forma mais humilhante de execução? Essa combinação de morte, crime e vergonha colocava-o muito além do respeito, sem falar da adoração.
    Os gregos e os romanos se apossaram da crucificação que, aparen¬temente, fora inventada pelos “bárbaros” que viviam à margem do mundo conhecido(…) Ao adotarem a crucificação, os ro¬manos a reservaram para assassinos, rebeldes, ladrões, contanto que também fossem escravos, estrangeiros ou pessoas sem posição legal ou social. (…)[1]

O ícone não teria qualquer significado se Jesus não tivesse sido submetido à sua crueldade. Nem tampouco haveria significado se o Jesus da cruz não fosse o Filho de Deus, absolutamente inocente, sofrendo, na cruz, o salário por um pecado que não cometera.
Após a inauguração da igreja, os apóstolos passaram a enxergar na cruz uma maneira de lembrar-se de Jesus. De fato, a cruz se tornou o ícone da Vitória de Jesus – marco definitivo da intervenção de Deus na história do homem.
Compreender a Centralidade da Cruz para o cristianismo é entender o cerne das Boas novas. “Antes de tudo eu ensinei a vocês o que eu também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, como dizem as Escrituras”[2]. A vitória sobre a morte, o pagamento do preço para a expiação, a satisfação da justiça de Deus são explicações exegéticas preciosas para entender a Cruz de Cristo (recomendo o comentário “A Cruz de Cristo” de John Stott para aprofundamento). Sou desafiado, porém, a compreender que o exigido de mim a respeito da Cruz de Cristo é crer que nela [a cruz]Deus, em Cristo Jesus, estava nos conciliando consigo mesmo e fora dela não existe salvação.

    Vi Cristão marchando por uma estrada que, de ambos os lados, era protegida por duas muralhas, chamadas Salvação (Isaías 26.1). É certo que ia caminhando com muita dificuldade, por causa do fardo que levava às costas, mas o seu passo era rápido e seguro; vi-o chegar a um pequeno monte onde se erguia uma cruz, junto à qual, e um pouco mais abaixo, estava uma sepultura. Ao chegar à cruz, soltou-se-lhe o fardo, instantaneamente, de sobre os ombros, e, rolando, foi cair na sepultura, donde não tornará jamais a sair.

    Quão aliviado e jubiloso ficou Cristão! Bendito seja Aquele que, com os seus sofrimentos, me deu descanso, e com a sua morte me deu a vida! Exclamou ele, e ficou por alguns momentos como extático, ao ver o grande benefício que a cruz acabava de fazer-lhe; olhava para um e para outro lado, cheio de assombro, até que o seu coração se expandiu em abundantes lágrimas (Zacarias 12.10).[3]

Capítulo 4 – Sala Gratia

Notas:

[1] Stott, John. A Cruz de Cristo [2] 1 Corintios 15:3 [3] Bunyan, John. O Peregrino. Capitulo 6