Muitos podiam julgar uma continuação dispensável, mas o 6º filme da saga de Rocky Balboa não foi uma simples desculpa para Sylvester Stallone voltar a ter algum prestígio.
Se você estava no planeta terra até ontem, com certeza já ouviu falar da série de filmes Rocky. Tá bom, vou dar uma chance pra quem nasceu na década de 90 e nunca teve a mínima curiosidade de se perguntar quem era aquele cara segurando um cinturão de pesos-pesados na capa daquele DVD na locadora onde você loca comédias românticas toda semana. Rocky, também conhecido no mundo dos ringues como “Garanhão Italiano”, era um pacato lutador de uma academia, desacreditado em si próprio, até que é convidado para lutar contra o atual campeão dos pesos-pesados, Apollo Creed, fato que muda sua vida para sempre. A inteligência e a dicção nunca foram seus fortes, sendo esse o motivo de depositar nos punhos suas esperanças de ser alguém. Um ser bastante correto (por muitas vezes até ingênuo), que tem a família sempre como prioridade em tudo na vida. Nos ringues, é temido pelos adversários não tanto pela sua habilidade em si, mas por sua enorme resistência.
Após o primeiro filme Rocky – Um lutador de 1976, que inclusive ganhou o Oscar de melhor filme naquele ano, vieram outras 4 continuações: Rocky II – A Revanche (1979), Rocky III – O Desafio Supremo (1982), Rocky IV (1985) e Rocky V (1990). Em todos eles a temática é a mesma: um homem buscando sua superação. Depois de 17 anos, chega enfim uma despedida digna ao maior lutador da história do cinema: Rocky Balboa.
No novo filme, a glória faz parte do passado para Rocky Balboa. Dono do restaurante Adrian`s, batizado em homenagem à sua falecida esposa, Rocky passa as noites contando aos clientes histórias de sua época de lutador. Rocky Jr. (Milo Ventimiglia, Peter Petrelli da série Heroes), seu filho, não dá muita atenção ao pai, preferindo cuidar de sua própria vida. Sua vida muda após uma simulação de computador colocar Mason Dixon (Antonio Tarver), o atual campeão mundial dos pesos pesados, enfrentando Rocky em seu auge. Dixon fez fama pela facilidade com a qual conseguiu o título, mas como nunca encarou um oponente que realmente o desafiasse, é considerado por muita gente como um lutador muito técnico, mas sem alma. A simulação faz com que o agente de Dixon resolva realizar a luta, oferecendo a Rocky uma nova chance de voltar aos ringues.
Pela sinopse acima, a história pode parecer piegas e repleta de clichês. Não vou dizer que não seja, mas muitos dos clichês utilizados foram criados pelo próprio Stallone em seus filmes anteriores. Acima de tudo, “Rocky Balboa” é um filme com alma. É impossível não se emocionar (eu disse se emocionar, não necessariamente chorar) com o drama protagonizado por um homem que teve seu tempo de glória mas que precisa aceitar uma vida medíocre depois de ter sido o alvo dos holofotes. O destaque aqui vai para o paralelo entre a ficção e a vida real. O espectador mais atento poderá apreciar essa metáfora da própria vida de Stallone. Da mesma forma que Rocky se tornou uma celebridade que com o passar dos anos entrou em declínio, Stallone percorreu o mesmo caminho na vida real.
Em todos esses momentos o filme não descamba para o sentimentalismo barato. Rocky é filmado da forma mais pura e crua possível. Mesmo com suas limitações (devido a sua paralisia facial), Stallone nos dá uma performance à altura de sua criação. Seus diálogos são ditos com bastante naturalidade, de quem conhece todas as nuances do personagem.
Stallone conseguiu com “Rocky Balboa” chamar a atenção mais uma vez dos poderosos de Hollywood. As portas se abriram de novo. Ele promete para 2008 voltar à franquia de Rambo, outro ídolo da cultura pop mundial. Se conseguir um resultado semelhante ao de Rocky, pode-se dizer que na vida real ele chegou bem perto de suas criações ficcionais.
Desculpem-me se escrevi demais, mas uma despedida digna merecia uma crítica digna. Talvez essa tenha sido a minha única oportunidade de escrever sobre um dos maiores ícones da minha infância.
Obs.: Meninas, se precisarem assistir a este filme com seus respectivos, fiquem tranqüilas porque ele é pra vocês também. Garanto que vão gostar.
Leia a seguir apenas se você já assitiu o filme (selecione com o mouse para enxergar)
– Uma coisa que não consigo colocar na cabeça é como o universo Rocky e a vida real podem coexistir. É fácil abstrairmos pensando num universo paralelo onde não existe nenhuma relação com o mundo real. Mas Stallone nos dá um nó na cabeça quando faz referências a outros campeões mundiais dos pesos-pesados. Na casa de Balboa podemos ver imagens de sua glória passada. Entre elas está um cinturão de campeão que tem um broche com a imagem de Muhamed Ali, um verdadeiro campeão de boxe. Na luta final vemos Mike Tyson fazendo uma ponta ao dar apoio a Mason Dixon antes do combate. O auge de Rocky foi mais ou menos na mesma época em que Tyson detonava todos os seus adversários? Como eles nunca se enfrentaram? Ah, desculpem-me, é apenas um filme.
– No teceiro filme da saga, quando Rocky experimenta todo o glamour de um campeão mundial, é construída uma estátua com a imagem dele. Essa estátua permaneceu lá até pouco tempo atrás (na vida real) mas foi retirada por algum prefeito maluco que não via sentido para aquilo. Em “Rocky Balboa”, seu cunhado Paulie (Burt Young) pergunta-lhe em certa ocasião o que estava deixando-o triste e, com ironia, indaga se foi a retirada da estátua.
– Por falar em Burt Young, ele, Sylvester Stallone e Tony Burton (que faz o papel de Duke, seu treinador) são os únicos atores que participaram dos 6 filmes da série.
– O fato de Rocky ter perdido a luta final foi uma das principais razões que me fez gostar profundamente desse filme. Eu comemoraria se ele ganhasse, mas eu nunca tinha visto uma derrota com tanto gosto de vitória em toda a minha vida.
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