Confira como foi o SOS da Vida Gospel Festival 2004

No último fim-de-semana São Paulo presenciou um dos maiores eventos do Gospel mundial. Em sua 13ª edição, o SOS da Vida Gospel Festival reuniou milhares de pessoas no Anhembi. Foram quase doze horas de shows seguidas. Considerado um dos maiores eventos gospel do mundo, o SOS da Vida leva aos palcos todos os artistas da gravadora Gospel Records de propriedade da igreja Renascer. Nos últimos anos também são trazidas bandas internacionais. Este ano foi a vez de Sonicflood (EUA) e Boanerges (ARG).

Ao chegar perto do Anhembi, era notório o número de pessoas, ônibus e carros que congestionavam a entrada do evento. Várias excursões de vários lugares do Brasil e várias denominações marcaram presença no evento.

Vou analisar aqui a apresentação de bandas que se destacaram positiva ou negativamente na minha visão de música gospel. Procurarei me abster de gosto pessoal:

Soul Dreams – apresentou a verdadeira música “black” e de muita qualidade. Em vários momentos lembrou os tradicionais corais norte-americanos. Com letras de louvor casadas com refrões em várias vozes, a banda ganhou o seu destaque logo nos primeiros momentos do evento.

Metal Nobre – permaneceu dentro do esperado. Com solos de guitarra e pedaleiras duplas, a banda tocou sucessos de sua carreira, encerrando com algumas músicas de “escola dominical infantil” como “Três palavrinhas só” e “Desde o dia em que aceitei Jesus” na versão Metal, é claro.

RM6 – eu não conhecia anteriormente e achei bem fraca. O vocalista é o tecladista e, sem muita presença de palco, foi notório o embaraçamento com o teclado e o microfone. Músicas não muito elaboradas e querendo que o público cantasse fervorosamente foi meio estranho quando o microfone foi estendido para o público e ninguém escutou letra nenhuma, nem vinda do palco e nem da multidão. Acredito que faltou um pouco de bom senso e visão do evento à banda.

Código C – detonou um pop/rock de qualidade. Tiveram alguns probleminhas no começo com a guitarra, mas foi normalizado a tempo. Foi uma apresentação básica, sem muitas tentativas de efeitos e atitudes especiais que agradou o público. Cumpriram o seu papel e mandaram o recado que queriam.

Boanerges – essa banda argentina quase ninguém conhecia, mas apesar de ter o estilo metal um tanto quanto criticado pelas igrejas evangélicas, foi uma das bandas mais coerentes e que demonstrou maior espiritualidade. Realmente foi uma revelação pois a maioria dos expectadores não conhecia a banda. Eu fiquei surpreso e gostei muito da atitude da vocalista que é uma mulher.

Praise Machine – também permaneceu dentro do esperado. Foi uma apresentação simples, mas também conseguiram passar a mensagem.

Militantes – detonou um hardcore que lembrou e muito punk rock em algumas músicas. A banda é muito boa musicalmente falando, mas deixa a desejar nas letras. Não posso negar que o show foi envolvente e logo foram vistos clarões abertos na multidão com jovens “batendo cabeça”. Destaque para o baterista que possuía muita sincronia e força em suas “pancadas” na batera. A banda encerrou a apresentação com um indivíduo caracterizado de diabo em palco juntamente com o vocalista e mais um “apóstolo” da igreja Renascer com martelinhos de brinquedo batendo na cabeça do diabo e cantando: “Quando eu era prego o diabo me batia, agora sou martelo, bato nele todo dia”. A apresentação foi muito descontraída.

Dj Alpiste – com mais 4 “manos” em palco, o Dj Alpiste cantou letras que falávam dos problemas socio-culturais e do poder de Deus em resolvê-los. Com estrofes em rap em sua maioria protagonizadas pelo próprio Dj Alpiste e os refrões melódicos com dois garotos negros soltando a voz enriquecendo e muito as músicas. Neste momento também era possível reparar rodas de “brake” na multidão. Muito bacana a apresentação.

Maurílio Santos – eu particularmente não conhecia mas gostei bastante. O cantor subiu ao palco juntamente com três back vocals e cantou várias letras de louvor ao som do bom e original funk (não o carioca). Os back vocals afinados, juntamente com a presença de palco do cantor, prenderam a atenção do público que ficou surpreso com a performance.

Marcelo Aguiar – cantou músicas de louvor no estilo sertanejo. A sincronia do cantor com o resto da banda foi perfeita. O único ponto negativo foi que grande parte do público sentou no chão talvez por não se agradar do estilo e se preservar para as outras bandas. Mesmo assim podia se ouvir várias pessoas cantando as músicas e louvando.

Katsbarnea – voltou à ativa no SOS mesmo. Com Paulinho Makuko no vocal, a banda tocou músicas de louvor. Faltou bastante humildade nas atuações do vocalista e do guitarrista. Um momento desta apresentação que eu estou tentando entender o objetivo até agora foi quando durante um solo de guitarra o vocalista ficou agitando o cabelo do guitarrista. Não contente com isso, o vocalista agarrou os cabelos do guitarrista e foi puxando-o para trás até ele perder o equilíbrio e quase cair de costas. O cabo da guitarra soltou-se e os roades tiveram trabalho para normalizar a situação. Achei a atitude um tanto quanto bizarra e desnecessária. Desculpem-me os que gostam de Kastbarnea mas relatei o que vi e dei meu parecer sobre isso.

Resgate – começou com problemas técnicos pois queriam colocar o clipe da música simultaneamente no telão. No começo funcionou mas na metade do clipe o telão principal desligou e quando voltou já tinha perdido a sincronia. Mesmo assim a banda apresentou letras elaboradas juntamente com um intrumental de qualidade. A multidão cantava todas as músicas e a banda demonstrou bastante humildade. Atuação exemplar em palco.

Logo após Resgate teve um estudo. Enquanto o pregador da Renascer falava sobre aquela mãe que perdeu seu filho em Naim e Jesus ressucitou, uma dramatização foi realizada no outro canto do palco em tempo real. Com direito a caixão, coroas e tudo que um velório possui, a dramatização emocionou muitas pessoas e, no apelo final, podia se ver muitas mãos levantadas.

SONICLOOD – com certeza a melhor apresentação. Os norte-americanos cantaram várias músicas de louvor que são cantadas em muitas igrejas como “Senhor te quero (In the secret)”, “Vim para adorar-te (Here I am)”, Abre meus olhos (Open the eyes of my heart)”, “Canterei Teu amor pra sempre (I Could Sing of Your Love Forever)”, entre outras. Sem dúvida foi a banda mais humilde em palco. Superou as expectativas de todos e foi a única banda a compartilhar algo da palavra de Deus (com tradução simultanea). Após a saída, a banda voltou ao palco para o bis e ainda tocou mais 3 músicas, uma delas do novo álbum: “This Generation”. Particularmente, o show foi ótimo. Não extrapolou em atitudes desnecessárias e aproveitou para evangelizar.

Virtud – essa banda tem letras muito bacanas e apresenta um rock de qualidade, mas como foi logo após o Sonicflood e muitas pessoas estavam cansadas, muitos começaram a ir embora. Mesmo assim, quem gosta do estilo se agradou muito da banda, que possui muita presença de palco.

Renascer Praise – na minha opinião foi o maior erro colocarem eles como últimos a tocarem. Na apresentação da banda anterior as pessoas já estavam indo pra casa. Quando o Renascer Praise tocou, o Anhembi já estava bem mais vazio. Até pelo horário que estava bem avançado. A banda toca músicas mais calmas e as bandas anteriores eram bem mais agitadas. Resumindo, quem gostava do estilo das bandas anteriores foi embora. Eles cantaram a maior parte das músicas pertencentes ao mais novo CD “Renascer Praise 11”.

Entre uma banda e outra rolaram uns concursos do estilo programa de auditório: quem sabe cantar a música, quem tem … na bolsa, quem sabe…, etc.

Fazendo uma análise conclusória, o evento foi um sucesso, sendo transmitido flashes ao vivo para o canal CNT. Saí do Anhembi muito satisfeito e já pensando ansiosamente na edição 2005 do evento.

Jaime H. Muller
Curitiba-PR