plus ça change, plus c’est la même chose[1]
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.
5 O sol nasce, e o sol se põe, e corre de volta ao seu lugar donde nasce.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos.
7 Todos os ribeiros vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde os rios correm, para ali continuam a correr.
8 Todas as coisas estão cheias de cansaço; ninguém o pode exprimir: os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de ouvir.
9 O que tem sido, isso é o que há de ser; e o que se tem feito, isso se tornará a fazer; nada há que seja novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê, isto é novo? ela já existiu nos séculos que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das gerações passadas; nem das gerações futuras haverá lembrança entre os que virão depois delas.
O Koheleth destaca três exemplos do ciclo infinito da natureza. Começando como mais óbvio de todos, o sol, que percorre a sua grande curva no céu até o seu declínio; e, tendo concluído, apressa-se[1] em repetir o que fez dia após dia. Os outros dois exemplos parecem a princípio oferecer uma válvula de escape do ciclo vicioso – o que seria mais livre do que o vento ou uma torrente de água? Mas acompanhe o processo até o fim e você retornará ao começo infinitas vezes. O versículo 8 conclui esse infindável ciclo taxando-o de canseira.
O pregador usa os ciclos da natureza como um espelho para avaliar o cenário humano. Como o oceano, os nossos sentidos são alimentados mais e mais, mas nunca se satisfazem. Debaixo do sol não existe um lugar para onde ir, nada que satisfaça completamente ou que seja realmente novo. Se nossas esperanças estão no nosso legado, não é difícil perceber que nossa posteridade está fadada a ser superada e esquecida (v.11).
Um parêntese: Ninguém – muito menos o Koheleth – é capaz de negar a capacidade inventiva do homem. A reflexão do Pregador é que nenhuma realização humana é capaz de satisfazer a necessidade do ser humano por sentido da vida. A busca por uma Filosofia de Vida genuinamente bíblica passa começa ao denunciar a vaidade do ciclo da vida para despertar o desejo de alguma coisa melhor.
Leia Marcos 8:34-38 e responda:
- Como Jesus responde a pergunta do Pregador: Que proveito tem o homem?
Sabedoria, conhecimento, filosofia – a satisfação da mente
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a inquirir e a investigar com sabedoria a respeito de tudo quanto se faz debaixo do céu; essa enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens para nela se exercitarem.
14 Atentei para todas as obras que se e fazem debaixo do sol; e eis que tudo era vaidade e desejo vão.
15 O que é torto não se pode endireitar; o que falta não se pode enumerar.
16 Falei comigo mesmo, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; na verdade, tenho tido larga experiência da sabedoria e do conhecimento.
17 E apliquei o coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras; e vim a saber que também isso era desejo vão.
18 Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza.
Nesta passagem, o pregador se identifica como Salomão, para que seus ouvintes possam fazer o mesmo. Armados destas vantagens, o Koheleth nos levará a uma experiência grandiosa, que explora tudo o que o mundo do conhecimento pode oferecer a um homem de gênio e de riqueza ilimitados.
Para um pensador tão famoso, a investigação tinha naturalmente de começar com a sabedoria – a qualidade mais louvada nos círculos acadêmico-filosóficos. Contudo, ele nada diz sobre seu primeiro princípio, o temor do Senhor[2].
O Kohelet considera a sabedoria com a devida seriedade, como uma disciplina que se ocupa de questões máximas, e não simplesmente como um instrumento para realizar as coisas. A sabedoria é esplêndida em toda a sua extensão: nada se pode comparar a ela (2:13); mesmo assim, ela não dá respostas às nossas dúvidas acerca da vida. Apenas as aguça ainda mais com sua perspicácia.
Nos vv. 13-15 ele vê a inquietação da vida que qualquer observador poderia perceber; no entanto, relaciona-a com a vontade divina: foi Deus que a impôs aos filhos dos homens. Por trás da nossa situação existe algum sentido, mas este parece totalmente desanimador, a menos que olhemos para esta situação sob a luz da esperança.
“Pois a criação está sujeita à vaidade… por causa daquele que a sujeitou, na esperança…” Romanos 8:19-21
Leia Lucas 12:16-23 e responda:
- No v.17 o Koheleth afirma ter pesquisado tanto a sabedoria quanto a loucura e concluiu que ambas são vaidade. Como isto se relaciona ao ensinamento de Jesus no texto acima?
Notas:
[1] Fr.: “Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem a mesma.”
[2] Provérbios 9:10.