007 Cassino Royale

Na abertura de 007 Cassino Royale, Chris Cornell, intérprete e compositor do tema musical desta produção, avisa: “O mais frio dos sangues corre pelas minhas veias”. E você sabe o nome de quem possui essa frieza: Bond. James Bond. O personagem, criado pelo escritor britânico Ian Fleming, tornou-se mítico no cinema e, desde que apareceu no cinema pela primeira vez em 007 no ano de 1962, ficou conhecido por ter permissão da Rainha para matar. Esta produção marca a estréia de Daniel Craig como o agente 007. A escolha causou certa polêmica: muitos apostaram no fracasso do ator no papel. Os que apostaram saíram perdendo, já que Craig é a melhor coisa que a franquia 007 poderia adquirir.

“007 Cassino Royale” é baseado no primeiro livro escrito por Fleming protagonizado pelo agente, em 1953. Portanto, a história foca o início da carreira de Bond como 007. O filme começa com sua promoção como agente especial. Sua primeira missão – que culmina numa já histórica cena de perseguição em Madagascar (desaconselhada para acrofóbicos) – tem um desfecho desastroso, ameaçando até as relações diplomáticas entre o país africano e a Inglaterra. Mesmo assim, M (Judi Dench) confia mais uma vez no agente por seus dotes na jogatina: como o melhor jogador de pôquer do MI6, recebe a missão de viajar a Montenegro, nos Bálcãs da Europa, para participar de um torneio exclusivo no Cassino Royale. O desafiante é Le Chiffre (Mads Mikkelsen), que coloca em jogo US$ 10 milhões. Para participar do torneio, os interessados devem colocar à mesa a mesma quantia. Fornecedor de armas a terroristas, o vilão precisa recuperar esse dinheiro para se safar de um grande problema que conseguiu com guerrilheiros africanos. Bond, por outro lado, tem a função de impedir que Le Chiffre ganhe o pequeno e luxuoso torneio e, conseqüentemente, siga financiando o terrorismo. A participação do agente no jogo é financiada pelo Ministério da Fazenda, que envia uma representante (Eva Green) a Montenegro, que deve monitorar o bom uso do montante.

Cassino Royale tem produção luxuosa, desde as estonteantes locações até o elegantíssimo figurino desfilado tanto por Craig quanto por Eva Green. Mesmo com tanta elegância visual, o filme tem altas doses de ação, especialmente conferido à composição do personagem nesta aventura. Não é somente o ator que é novo nesse papel: sua personalidade é tratada de forma diferente. Isso porque a produção foca as primeiras missões do agente, que se encontra imaturo, apesar de já apresentar a frieza do personagem na execução de suas missões. Diferentemente do Bond retratado nos 21 filmes oficiais anteriores, aqui ele é capaz, também, de ser passional, o que contribui na intensidade da produção em todos os sentidos, tanto na ação quanto na sedução (marca registrada de 007). Ao mesmo tempo em que “007 Cassino Royale” mantém algumas características tradicionais que marcaram a franquia cinematográfica, como as piadas e o luxo, existe uma maturidade evidente aqui.

Tudo em “007 Cassino Royale” é mais plausível, desde o fato de 007 ser passional até a criação do vilão. Aqui, Le Chiffre não quer dominar o mundo, mas sim encher os bolsos de dinheiro, independente da forma como o obtém, seja em jogatinas ou vendendo armas a terroristas. Neste filme, Bond se machuca, se joga de guindastes, comete erros, abrindo mão, pelo menos nos momentos mais violentos, das armas e “brinquedinhos” modernos que o agente usa nos outros filmes. A própria escolha do ator já dá uma idéia do que os produtores pretendiam neste filme. Daniel Craig não tem a beleza clássica dos atores anteriores que interpretaram James Bond; os traços de seu rosto são duros, pesados; seu corpo, bastante musculoso, foge do padrão de elegância esguia dos visuais anteriores. Assim, Craig constrói um 007 muito mais humano.

O diretor Martin Campbell, que dirigiu Pierce Brosnan em sua estréia como o personagem em “007 Contra GoldenEye” (1995), volta a conduzir um filme da franquia tendo o papel de reformular totalmente o personagem. Humanizando-o, o diretor consegue criar mais do que simplesmente um filme de 007, mas, principalmente, um excelente filme de ação. O resultado foi tão bem-recebido que, antes mesmo do longa-metragem chegar aos cinemas, já foi anunciada a produção de mais um filme protagonizado pelo agente secreto trazendo Craig novamente no papel. Se neste o diamante em forma bruta começou a ser lapidado, no próximo já poderemos ver novamente Bond em sua melhor forma. É esperar pra ver.