Quem quer morrer por Sadam Husseim?

Amigos, está chegando ao fim um dos maiores julgamentos da História desde o tribunal de Neuremberg. Sadam Husseim, o ex-ditador iraquiano deposto pela ação militar dos EUA naquele país, foi sentenciado à pena capital: será enforcado dentro de alguns meses, caso não aconteça um fato novo que inviabilize a aplicação de tal pena.

Algumas pessoas saíram às ruas para protestar. Alguns disseram em entrevistas a redes de TV internacionais que estão com saudades dele. Outros preferiram comemorar. Acham muito bem-feito e justo o que foi decidido e não aceitam o argumento de que este julgamento é uma farsa, tramada e financiada pelos Estados Unidos.

Fato é que o homem está condenado. Foi humilhado no banco dos réus, embora não tenha perdido a empáfia, a arrogância, o estilo de “comigo-ninguém-pode”. Como a vida é traiçoeira. Os mesmos americanos que financiaram o soerguimento do seu império, quando interessava a estes um aliado contra o Irã, agora o depõem, derrubam suas estátuas, colocam-no na condição de julgado e conseguem aprovar a sua pena máxima.

A comunidade internacional, os humanistas, religiosos de várias tendências, dentro e fora da América do Norte, estão chiando uma barbaridade. Não concordam com a pena de morte, querem ver o assunto rediscutido. Outros acham que ainda é pouco pelas atrocidades que ele fez. Há quem diga que o justo seria ele ressuscitar 10 vezes para então ser re-enforcado 10 vezes. Se os brasileiros podem viver tantos anos com a corda no pescoço, por que o Sadam não pode também?

Porém, não é este o ponto que destaco. Desde que li a notícia na Internet na semana passada, um pensamento não me sai da mente. Quem de nós daria sua vida em troca pela de Husseim? Alguém aí, por mais que deprimido que esteja, achando que a vida não vale a pena, que não existe mais razão para viver, em sã consciência ofereceria seu próprio pescoço para livrar o dele?

Seria mais ou menos a mesma coisa, em paralelo, daquilo que aconteceu entre Jesus e Barrabás: solta o criminoso e mata o homem justo. Você faria isto por Sadam? Quero ser muito honesto: eu não.

Tem mais. Meu cunhado sempre diz que existem algumas pessoas pelas quais ele daria sua vida. Certamente Sadam Husseim não entra na sua lista, mas imagino que tipo de gente muito especial e cara para si entrariam: filho, esposa, pai, mãe, um amigo especial. Mães têm escolhido morrer para dar à luz um filho. É quase natural.

Mas ele diz (e eu também passo agora a dizer) que não existe uma única pessoa neste universo por quem ele daria a vida do seu filho. Eu tenho duas filhas e por isso tenho motivo dobrado para dizer que também não daria. Eu não estou preparado ainda sequer para pensar no dia em que algum marmanjo folgado, vestindo aquelas bermudas cheias de fiapos, de chinelão no dedo, piercing na orelha e barbinha mal feita vai aparecer na porta de casa para dizer que está ousando cogitar de sair com uma delas! Que dirá a dar a vida delas.

Muito menos ainda por um canastrão, assassino, insensível, genocida… continue a lista. Definitivamente, ele não é problema meu. Que pague pelos seus erros e acabou. Ele não merece mesmo. Que se levante no dia do Juízo Final e que Deus o tenha no inferno!

E é isso que não me sai da cabeça. Porque Deus mesmo não pensou assim. Ele só tinha um Filho. Um Filho eterno, perfeito, amado, venerado por todos, razão de ser de tudo o que existe. Ele não tinha nada que ver com gente ruim, mal-humorada, desobediente, arrogante, perversa, imoral, invejosa, ciumenta, egoísta, idólatra… continue a lista. Mas ele deu seu Filho. Seu único Filho. Seu Filho singular.

Se ele não tivesse feito isso, não era só o Sadam que ia ficar em maus lençóis. Eu também. Você também. Porque embora não sejamos assassinos, somos pecadores. Embora não passe pela minha cabeça matar minha mãe, eu também não mereço nada de Deus.

E então começo a compreender um pouco melhor a graça de Deus, refletida e estendida a gente de todo tipo. Gente que não merece, mas que também não consegue sozinha. Por isso precisa da graça de Deus.

Obrigado, Deus! Eu tenho sem merecer.