A edição de ontem do jornal francês “Le Monde” trouxe uma ampla reportagem na qual relata a conversão de dois ex-muçulmanos para o cristianismo (um para o catolicismo e outro para o protestantismo) e mostra o que ela representa na vida social destas pessoas.
No primeiro caso, conta a história de Guy-Khaled, 26 anos, nascido na França, que recebeu o batismo no domingo (30/03), numa igreja no departamento do Var (sudeste).
O pai e os seus meio-irmãos e irmãs desaprovam o caminho que ele escolheu, criticando-o por ter “renegado a sua cultura”. A mãe “tem dificuldades para compreender”, mas “aceita as suas decisões” e o acompanha de vez em quando nos encontros com cristãos dos quais ele participa. Alguns dos seus antigos amigos acusam-no de ter cometido a apostasia e não falam mais com ele.
Diversas discussões com Guy, um professor de filosofia católico que ele conheceu por acaso, levam-no a descobrir uma “proximidade com o Deus cristão” e correspondem às suas expectativas.
30 anos até assumir a conversão
O segundo caso é de uma mulher. Fátima, que chegou da Argélia aos 13 anos com a sua família para se instalar no norte da França, vive uma situação bem mais complicada que o de Guy-Khaled.
Seduzida pela leitura da Bíblia e “convencida” desde a adolescência de que ela se tornaria cristã, ela demorou mais de 30 anos até se converter efetivamente. Foi há cinco anos, aos 52 anos de idade.
Ao longo de muitos anos, ela participou de reuniões de grupos de oração, em segredo. Atualmente, alguns dos seus oito irmãos e irmãs conhecem a sua nova fé, e outros não.
“Eu ainda tenho medo de ser agredida ou que as pessoas zombem de mim, e não me sinto serena o suficiente para assumir essas coisas”, explica esta solteira que se fez batizar numa comuna distante da do seu domicílio.
“Até mesmo aqui ( na França), não faltam muçulmanos que pensam que aqueles que mudam de religião são apóstatas. Na minha família, muitos são os que jamais poriam os pés dentro de uma igreja”.
Acusação de apostasia e ameaças
Que eles estejam ou não apaziguados, as relações que cultivam os convertidos com o Islã permanecem marcadas por um ponto negro intransponível: a acusação de apostasia, que conduz eventualmente os convertidos a se tornarem alvos de ameaças.
“A falta de tolerância e o fato dos muçulmanos considerarem que eles são seguidores da única verdadeira religião me deixam revoltada. E quando eu penso no estatuto que esta religião atribui à mulher, me dá vontade de vomitar”, confia Fátima, que, entretanto, se diz mais “tranquila” em relação ao Islã.
“No começo, junto com outros convertidos, eu me mostrava muito agressivo para com o islã”, reconhece Guy-Khaled. “Trata-se de um fenômeno psicológico normal que vai se atenuando à medida que você vai progredindo na sua nova fé”.
“As atitudes de denegrir e de se opor ao que é diferente não eram as armas do Cristo. É possível denunciar a face negra do islã com amor e respeito”, afirma por sua vez o pastor evangélico Said Oujibou, um convertido de 39 anos.
Em todo caso, todos eles lamentam que os representantes do Islã na França não adotem posicionamentos mais explícitos e claros no sentido de afirmarem o princípio da liberdade religiosa, principalmente no que diz respeito aos casamentos mistos (de parceiros de religiões diferentes), em relação aos quais “a parte cristã, com grande freqüência, é incentivada a se converter”.