Jesus respondia a muitas perguntas com outras perguntas e isso sempre me intrigou. Na parábola do samaritano, o doutor da lei pergunta sobre o que deve fazer para herdar a vida eterna. Jesus, ao invés de responder, pergunta: “O que está escrito na lei… e como você a lê?” (Lc 10: 25 e 26). Na conversa com Nicodemos, este não entendeu sobre o novo nascimento e perguntou o que Jesus queria dizer com isso, como resposta Nicodemos ouviu: “Você é um famoso mestre dos judeus, e ainda assim não entende estas coisas?” (Jo 3: 9 e 10). Pilatos perguntou se Jesus era mesmo Rei dos judeus, Cristo respondeu: “Tu o dizes de ti mesmo ou disseram outros isso de mim?” (Jo 18: 33 a 34).
Parece-me próprio de Jesus responder usando perguntas. Porém por que Ele agia assim? O que tinha de didático nessa sua atitude? Em que isso aliviava os anseios das pessoas que iam até Ele. Às vezes, sinto que não ia gostar de conviver com uma pessoa que não respondesse de forma clara as minhas perguntas, mesmo tendo certeza que ela entendeu a minha dúvida. Mas o pouco que conheço desse Jesus imenso, me leva a procurar um motivo dele ter agido assim, porque creio que todos os seus atos eram cheios de divina sabedoria.
Não tenho uma resposta certa, nem talvez consistente, mas levanto algumas possibilidades baseada no que conheço da Bíblia e do caráter de Cristo. Toda pergunta é um desafio. Um desafio em busca de uma resposta. Quando somos desafiados com uma pergunta procuramos por todos os meios as respostas e enquanto não a encontramos, não sossegamos (pelo menos eu sou assim!). Mas, às vezes, nós já conhecemos a resposta e só fazemos a pergunta para ver se o outro também a conhece.
Sabe aquele aluno nerd que quer perguntar só para ver se põe o professor na parede? Então, às vezes agimos assim com Deus, tentando encurralá-lo dentro das nossas neuras. Porém Deus não dá corda para nosso ego e, mesmo se fizermos perguntas querendo ingenuamente a resposta, Deus não responde porque sabe que muitos das nossas feridas precisam ser verbalizados para serem curadas. Precisamos falar sobre o assunto, não obter respostas prontas. A psicologia descobriu essa verdade tempos depois de Cristo, mas foi Ele que inventou essa maneira de curar as pessoas de dentro para fora.
Porém, talvez não seja esse o motivo de Cristo ter usado de tantas perguntas. Provavelmente Ele sabia que muitas das nossas dúvidas são a expressão da nossa tentativa frustrada em crer. Onde a fé não cabe sobra espaço para as contestações! E por que a fé não acha lugar no nosso coração? Para essa pergunta a Bíblia tem resposta:
- Confiamos demais no nosso próprio entendimento! (Pv. 3.5 – “Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”);
- Abrimos o coração para qualquer coisa, sem zelo por ele! (Provérbios 4:23 – “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida”);
- Fazemos planos sem consultar a Deus e depois que “damos com os burros n`água” nos enchemos de porquês diante dEle! (Provérbios 16:1 – “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor.”).
Sei que muitas das perguntas que fazemos são sinceras e revelam realmente uma busca concreta por mais de Deus, mas a estas Ele aprova e reconhece de longe. Por outro lado também saberá discerni-las daquelas que querem testá-lo ou colocar em dúvida sua fidelidade para conosco. Não sei o que você quer para a sua vida, mas eu quero conhecer a Deus, ter experiência de vida com Ele e aprender a crer quando não puder resumi-lo à minha capacidade de entendê-lo!