O drama que bem poderia ser um filme cristão, é bastante didático e pende pro lado americano ao retratar a história real do atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O`Connell), que após competir nos jogos olímpicos de 1936 em Berlim, estabelecendo um recorde na última volta da prova de corrida de 5.000m e superando o outro americano na prova. Posteriormente, ele sofreu uma série de intempéries em sua vida, inclusive sobrevivendo a um acidente de avião em pleno mar e passando 47 dias à deriva até ser capturado por japoneses durante Segunda Guerra Mundial.
Após as cenas iniciais de batalhas aéreas, que me lembraram meu amigo Rodrigo Faustich, piloto da força aérea brasileira, me chamou atenção a amizade desenvolvida entre Louis e o piloto Phil (o sempre excelente Domhnall Gleeson, de Questão de Tempo) durante o naufrágio, onde os dois sobrevivem à base do apoio mútuo. Não à toa o livro de Provérbios diz que há amigos mais chegados que irmãos. (Provérbios 18:24)
O ponto forte do filme, foi a promessa feita por Louis em meio ao sofrimento, de que se sobrevivesse, dedicaria sua vida ao serviço divino. Pouco antes de subirem os créditos, ficamos sabendo da informação que Louis Zamperini se tornou um devoto seguidor de Jesus Cristo e inclusive perdoou todos aqueles que o tinham ferido, enquanto foi mantido prisioneiro. Ele foi feliz em recorrer a Deus num momento de aflição a bíblia diz em (Hebreus 2:18) “Porque, tendo em vista o que ele mesmo sofreu quando tentado, ele é capaz de socorrer aqueles que também estão sendo tentados.”
Louis Zamperini nunca mais competiu em uma Olimpíada, mas conseguiu cumprir uma promessa pessoal ao correr no Japão, carregando a tocha olímpica durante a cerimônia de abertura dos Jogos de Inverno de Nagano 1998. Ele faleceu em julho do ano passado, aos 97 anos, vítima de uma pneumonia. Ver essa cena após o filme, foi algo arrebatador.
Me incomodou um pouco o maniqueísmo apresentado, de modo que todos os japoneses eram vilões e todos os americanos vítimas. E uma cena envolvendo um certo tubarão que só faltou fazer minha esposa perder o menino, no entanto, o grande êxito do filme está na capacidade de emocionar o espectador, à ponto de me arrancar as lágrimas ao final da projeção. Méritos aos irmãos Coen, que detêm os créditos pelo roteiro.
Concordo com os críticos que estão afirmando que o filme tem seus excessos, especialmente na questão melodramática, e dos tradicionais clichês, mas quem disse que isso é ruim. Apesar de extensos 147 minutos, foi um prazer enorme acompanhar a trajetória de vida de herói até então desconhecido para mim e certamente para o grande público.
Vemos no filme que Louis Zamperini sofreu muito, especialmente quando teve que lidar com “a ave”, um dos oficiais, Watanabe (Takamasa Ishihara) nos campos de concentração. Nas cenas com os dois, é perceptível uma certa tensão sexual entre os dois, provenientes especialmente pelo modo afetado do japonês. “Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente.” (I Pedro 2:19) Louis suportou muitas vezes calado tudo que lhe era imposto. O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos disse que “considera que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada.” (Romanos 8:18). Em outra passagem (II Coríntios 4:17) Paulo diz que “nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles”.
A montagem do longa é excelente no início, quando cria ritmo, depois falha ao focar apenas no campo de concentração, esquecendo completamente dos flashbacks, que no início do filme apresentaram a infância e um pouco da personalidade de Louis, se tornando um pouco arrastado no terceiro ato e sendo ajudado pela trilha sonora que peca por ser constante, mas esse deslize é totalmente compensado pela bela fotografia de Roger Deakins, que já vai para sua 12ª indicação ao Oscar de fotografia. O filme também foi indicado aos prêmios técnicos de Edição de som e Mixagem de som. Não deve ganhar nenhuma estatueta…
O filme é uma adaptação do livro Invencível – Uma História de Sobrevivência, Resistência e Redenção escrito por Laura Hillenbrand, publicado em 2010 e lançado no Brasil pela editora Objetiva. O livro esteve por mais de 145 semanas na lista de best-sellers do The New York times, sendo 14 deles na primeira posição, e vendeu quase 3,5 milhões de cópias em todo o mundo.Para quem não se incomoda com clichês, o filme é muito, mas muito recomendado. Nota: 10,0/10,0 – ★★★★★