As reações à renúncia de Fidel Castro e à sucessão de seu irmão Raúl Castro foram calmas em Cuba; ainda assim, os batistas antecipam seus trabalhos na ilha: “Apesar das mudanças, as igrejas batistas cubanas estão capacitadas a continuar expandindo sua influência na ilha”, disse um obreiro da igreja. “A única coisa que pedimos é que todos os cristãos orem por eles, na medida em que eles executam seus planos. Os batistas do Sul continuarão a auxiliar os batistas de Cuba quando eles nos pedirem e dentro de nossas possibilidades”.
Aos 81 anos, Fidel Castro encerrou seus 49 anos no poder antes da reunião da Assembléia Nacional de Cuba, no domingo (17). A presidência passou para o irmão de Fidel, Raúl, de 76 anos, que era o atual Ministro de Defesa e presidente em exercício.
Fidel Castro retirou-se da vida pública em julho de 2006 devido a um problema de saúde que resultou em uma cirurgia. Em uma carta aberta ao povo, disse que sua saúde fora a razão principal de ter renunciado, mas expressou o desejo de “lutar como um soldado ideológico”. Portanto, ele continuará a exercer influência como primeiro-secretário do Partido Comunista cubano.
Situação dos cristãos
Do ponto de vista da fé, as restrições aos cristãos diminuíram com o passar dos anos, se comparadas à prisão de 53 pastores batistas, incluindo dois cidadãos americanos em 1965.
De acordo com um relatório, a matrícula no Seminário Batista em Havana aumentou de 54 em 1999 para 610 no ano passado em programas de intercâmbio e de extensão para futuros pastores e líderes eclesiásticos.
Estas estatísticas por si só revelam o quanto o regime vem se abrindo gradativamente nos últimos anos à entrada de cristãos, uma vez que eles representam a entrada de dinheiro no país, que hoje sobrevive apenas com a renda obtida pelo turismo de estrangeiros.
A Igreja Católica se saiu melhor dentro do regime de Fidel, uma vez que ele manteve as paróquias abertas e as relações diplomáticas com o Vaticano. Um oficial do alto escalão católico, o Secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, esteve em Cuba na semana passada.
Odalis Ramirez, uma garçonete que disse que a perseguição religiosa fez com que fugisse da ilha há sete anos, disse ao jornal “South Florida Sun-Sentinel”: “Vivi muitos anos em Cuba, e posso dizer que todos os dias são vividos com uma esperança vã, uma mentira, de que as coisas melhorarão”.
Continuísmo e promessas
No domingo, durante seu discurso de posse, Raúl Castro prometeu manter a economia cubana “dentro do socialismo” e fez uma série de referências a seu irmão Fidel Castro, após ser escolhido pela Assembléia Nacional como novo Chefe de Estado de Cuba. O general de 76 anos já exercia interinamente o cargo há 19 meses, devido aos problemas de saúde do irmão Fidel.
Ele pediu autorização do Parlamento para continuar consultando Fidel sobre “as decisões de especial transcendência para o futuro da nação”, especialmente as “relacionadas à defesa, à política externa e ao desenvolvimento social e econômico”.
E ressaltou que “só o Partido Comunista – garantia segura da unidade da nação cubana – pode ser digno herdeiro da confiança depositada pelo povo em seu líder”, e acrescentou que “Fidel está aí, como sempre”.
Proibições anuladas
Raúl Castro prometeu “eliminar proibições” na ilha, sem deixar de reconhecer o legado de seu irmão, que ficou mais de 49 anos no poder. “Nas próximas semanas, começaremos a eliminar as [proibições] mais simples, já que muitas delas tiveram como objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades em um momento de escassez generalizada”, declarou durante seu discurso de posse.
Ele não detalhou quando e quais serão as proibições que serão anuladas. O general também afirmou que vai rever o tamanho do Estado cubano, tendo por objetivo tornar sua gestão “mais eficiente”.
O discurso de Raúl confirma alguns dos prognósticos de analistas políticos, que consideram o irmão de Fidel Castro mais pragmático e o possível artífice de mudanças na direção de alguma abertura política e econômica na ilha socialista, desde a Revolução Cubana de 1959, em que os Castro derrotaram o ditador Fulgêncio Batista.
Presos políticos
Nos Estados Unidos, representantes da comunidade dos cubanos exilados lamentaram a posse do irmão de Fidel. “Raúl Castro governa Cuba junto a Fidel Castro há 49 anos. Não vemos nada de novo, somente a continuidade do regime”, afirmou Janisset Rivero, do Diretório Democrático cubano.
“Somente vamos ver as mudanças em Cuba quando liberarem os presos políticos, quando forem legalizados os partidos políticos e forem convocadas eleições livres, não esta farsa eleitoral”, acrescentou.
“Há possibilidade e potencialidade de mudanças em Cuba, mas essas mudanças têm que nascer de dentro do país”, disse Tom Shannon, chefe da diplomacia dos EUA para América Latina.
Ele acrescentou que os EUA não devem mudar sua política baseada no embargo iniciado em 1962.
(Texto acrescido de informaçõs da agência Associated Press)