“Nosso filho Aaron acabara de completar três anos quando nossa filha Ariel nasceu. Aaron era uma criança brilhante e feliz – antes dos dois anos de idade era capaz de identificar uma dúzia de diferentes variedades de dinossauros e de explicar pacientemente a um adulto que os dinossauros estavam extintos. Minha mulher e eu havíamos começado a ficar preocupados com sua saúde quando ele parou de ganhar peso, aproximadamente aos oito meses de idade, e desde a época, depois de ter feito o primeiro aniversário, em que seu cabelo começou a cair. Médicos famosos o examinaram, deram nomes complicados à sua doença e garantiram que ele, embora não crescesse muito, seria normal,em tudo o mais. Um pouco antes do nascimento de nossa filha, mudamo-nos de Nova Iorque para um subúrbio de Boston, de cuja congregação me tornei rabino. Descobrimos que o pediatra local fazia pesquisas sobre problemas de crescimento infantil, e apresentamos-lhe Aaron. Dois meses depois – no dia em que nossa filha nasceu – ele visitou minha esposa no hospital e disse-nos que a doença de nosso filho se chamava progéria, “envelhecimento rápido”. O médico disse também que Aaron não passaria dos 90 cm de altura, que não teria cabelos na cabeça nem pêlos no corpo, que se pareceria com um velho sendo ainda uma criança e que morreria no início da adolescência. Como alguém reage a notícias como estas?… Todos os anos, haveríamos, minha mulher e eu, de celebrar o aniversário de Aaron. Nós nos alegraríamos pelo seu crescimento e pelo crescimento de suas habilidades. Mas seríamos sufocados pelo frio conhecimento prévio de que aquele aniversário nos aproximava mais do dia em que ele seria tirado de nós… Aaron morreu dois dias depois de completar 14 anos.”
Harold S. Kushner, um dos rabinos mais proeminentes nos Estados Unidos viveu a dramática história de seu filho Aaron e depois escreveu o maravilhoso livro acerca do sofrimento chamado “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”. Apesar de não se tratar de um livro escrito sob a ótica cristã, é possível ver a perspectiva madura de alguém que sofreu e prosseguiu com fé diante de uma terrível tragédia sem se preocupar em “por que isto me aconteceu?”, mas impondo-se em responder a pergunta “isto me aconteceu. Que fazer de agora em diante?”
De fato, a vigilância sobre o desenvolvimento do bebê é importante para a detecção precoce de distúrbios que podem significar doenças ou déficits que deverão orientar a conduta do pediatra, podendo mudar todo o curso da história daquela família.
Tecnicamente, separamos desenvolvimento e crescimento. Como crescimento, nos referimos à progressão somática do bebê – peso e estatura. O Crescimento é aferido pela mensuração da estatura e peso, e seus distúrbios se relacionam, quase sempre, às questões alimentares. O desenvolvimento é medido pela capacidade de maturação cerebral da criança ao longo do tempo, evidenciado pelas habilidades sensitivo-motor-social adquiridas durante o tempo.
O desenvolvimento motor tem uma característica crânio-caudal. Isto significa que a criança primeiro adquire a capacidade de firmar o pescoço, a seguir o controle do tronco e membros superiores, para, finalmente adquirir controle dos membros inferiores. Desta forma, uma criança aos dois meses firma o pescoço e tem um sorriso social, enquanto aos quatro ou cinco meses senta-se com apoio para, aos seis meses sentar-se sem apoio e, aos oito ou nove meses ficar de pé apoiado no berço e ser capaz de engatinhar ou arrastar-se, seguindo-se a esta fase adquirir a capacidade de andar.
Como o desenvolvimento depende da maturação das funções cerebrais, o crescimento do perímetro cefálico (circunferência da cabeça, medida nas consultas de puericultura) é um bom indicador do desenvolvimento, quando sua medida é associada à avaliação clínica do bebê (realizada pelo pediatra). Macro ou microcefalia (conforme as tabelas próprias para idade e sexo) podem indicar a investigação de doenças como hidrocefalia, hipotireoidismo ou outras doenças congênitas.
A aquisição das habilidades de relacionamento estão vinculadas aos órgãos sensoriais. Visão, audição e tato são utilizados pelo bebê para interagir com o seu meio. Ele chora, conhece a própria voz, ouve a voz da mãe e aprende a diferenciar quando sua fala está tensa ou mansa. Reage diferente a uma brincadeira ou uma repreensão. Tais características são adquiridas aos poucos e devem ser acompanhadas também nas consultas mensais de puericultura. No Cartão da Criança, existe uma página de desenvolvimento que a maioria dos pais ignora. É muito importante que seja preenchida corretamente pelos pais – a cada mês, conferindo com o pediatra se a aquisição das habilidades está obedecendo a cronologia esperada.
Por fim, gostaria de deixar com vocês algumas dicas de estimulação no primeiro ano de vida. A estimulação é importante para que o bebê adquira habilidades com qualidade. Nosso cérebro é uma máquina que responde ao estímulo externo e precisa ser estimulada para que seu funcionamento seja otimizado e melhorado. Seguem as orientações da pedagoga Virgínia Bedin, graduada pela Universidade de Caxias do Sul.
1º mês – Converse ou cante para o bebê. O som da sua voz é aconchegante e lhe transmite segurança. Faça massagem no seu filho estimule cada parte do corpinho dele: pés, mãos, costas, rosto. Você pode colocar uma música suave e revelar, através deste contato físico, seus sentimentos por ele pois, o toque de suas mãos transmitirá amor, carinho e segurança.
2º mês – Apresente objetos grandes e coloridos para que ele possa brincar e tentar alcançá-los com as mãos. Junto ao berço coloque móbile colorido dentro de seu campo visual.
3º mês – Cante, faça gestos e expressões faciais. O bebê tentará imitá-la e responderá aos estímulos com sorrisos e ruídos. Estimule o tato do bebê com objetos de diferentes texturas. Ex: passe no pezinho ou na mão dele uma pluma e observe as reações; encoste em sua mãozinha algo áspero e depois macio. Coloque-o sentado no bebê-conforto ou no sofá apoiado por almofadas.
4º mês – Conte histórias curtas e imite o barulho dos animais com diferentes tons de voz. O bebê tentará imitar você. Jogue brinquedos (bolas, dados) para ele tentar pegar. O bebê reconhece a voz do papai e da mamãe e irá olhar na direção de quem está falando.
5º mês – Durante o banho do bebê brinque com a água e relate o que vocês estão fazendo. Deixe-o brincar com brinquedos macios, como mordedores, pois tudo que pega leva à boca. Coloque músicas de diferentes ritmos e dance com ele. Espalhe brinquedos ao redor do bebê e o deixe brincando no chão.
6º mês – Durante as refeições relate ao bebê o que está comendo. Mostre os alimentos. Você pode convidá-lo a passear e ele lhe estenderá os bracinhos. Imite o barulho dos animais e objetos, como gatos, telefone, estimulando-o a fazer o mesmo. Ao ar livre deixe-o próximo a árvores, para que ele observe o balanço e barulho das folhas.
7º mês – Dê brinquedos que façam barulho, coloridos, de diferentes formas e tamanhos. Coloque-os próximos ao bebê e estimule-o a buscá-los. Ensine-o a dar “tchau”. Em pouco tempo repetirá os seus gestos. No banho, disponibilize brinquedos que flutuem para estimular a percepção e curiosidade.
8º mês – Durante o banho mostre livrinhos apropriados e deixe-o manuseá-lo. Será uma grande diversão.Brinque de esconde-esconde com uma toalha ou cortina, o bebê baterá palmas de alegria. Deixe que o bebê jogue objetos no chão. Ele repetirá inúmeras vezes este movimento, assim estará criando a noção de causa e efeito. Conte histórias, mostrando as imagens do livro.
9º mês – Deixe perto do bebê brinquedos grandes e coloridos. Ensine-o a empilhá-los e encaixá-los. Quando estiver com o bebê, relate tudo o que irá fazer. Ele começará a repetir sílabas. Deixe-o tocar em cachorros e gatos e converse sobre estes animais. Imite o barulho dos mesmos.
10º mês – Converse com o seu bebê e dê alternativas. Por exemplo: Você quer o urso ou a bola. Mostre à mamãe. Assim ele apontará o que quer e muitas vezes irá chorar se não for atendido. Dance e cante com ele no colo, ele tentará imitar a coreografia e soltará seus monossílabos. Dê-lhe um telefone de brinquedo. Assim, estará incentivando a linguagem do bebê. Leve-o a pracinhas e parques e deixe-o interagir com outros bebês e outras crianças.
11º mês – Participe das brincadeiras de seu filho. Deixe à mão objetos que possam ser colocados e retirados de uma caixa ou balde. No banho coloque objetos que possam ser preenchidos com água e depois esvaziados. Leve-o a parques ou pracinhas e brinque com ele em escorregadores e balanços. Chame a atenção dele para objetos e animais conhecidos e também para as novidades. Estimule-o a beber água em copinhos ou com auxílio de canudinhos.
12º mês – Cante e conte histórias. Disponibilize livros e revistas para manusear. Incentive-o a comer sozinho e a guardar brinquedos. Ele já entende ordens curtas, portanto explique tudo a seu filho: o que estão fazendo, aonde vão etc… Brinque de “esconde-esconde” ou “pega-pega”. Jogue bola com ele.
A série Doutor Fraldinha termina aqui. Falamos um pouco sobre os primeiros passos dos jovens pais na aventura da paternidade. Não se esqueça que seu filho precisa ser acompanhado mensalmente por um pediatra e estas recomendações não substituem as orientações do pediatra assistente, porém são uma maneira a mais de adquirir conhecimento e compreensão dos fatos referentes ao primeiro ano de vida. Cuide bem do seu rebento. Ele é um presente do Senhor – um presentão! Para dúvidas e sugestões, envie-nos uma mensagem.
Até a próxima.