O Cordel da Salvação

Sumário

A Bíblia e os contadores de históriacolor:2E74B5″>[1]

Narrativas são histórias contadas. O termo deriva do verbo ‘narrar’, cuja etimologia provém do latim narrare, que remete ao ato de contar, relatar, expor um fato, uma história. O gênero narrativo costuma se apresentar em forma de prosa, mas pode ser também em versos (epopeia, romanceiros). Vários elementos compõem o gênero narrativo: O Fato, o Tempo, o Lugar, os Personagens, as Circunstâncias, a Forma e as Consequências ou Resultados do desenrolar da ação que provoca um determinado desfecho. Uma breve história da Literatura de Cordelcolor:2E74B5″>[2]

Uma peleja sem fim

A história da literatura de cordel é antiga, longa e cheia de personagens. Também é repleta de reviravoltas, duelos e lacunas. Sabe-se que o hábito de registrar histórias orais em folhetos, expostos em varais nas feiras populares, veio junto com os colonizadores portugueses por volta do século 17. Foi só chegar ao porto de Salvador para essa arte se espalhar rapidamente pelo Nordeste brasileiro, terreno fértil para contações de histórias. No entanto, por causa da falta de documentação e de reconhecimento dos eruditos de nossa língua, existe um vazio muito grande sobre essa alvorada da literatura de cordel no país, mas é certo que os primeiros nomes a ficarem conhecidos surgiram somente na segunda metade do século 19.

A razão está na chegada de máquinas de tipografia/impressão mais acessíveis, o que, consequentemente, fez com que os folhetos se espalhassem em maior quantidade e velocidade. Como se vê, a democratização da tecnologia foi tão favorável ao surgimento da literatura de cordel como a conhecemos quanto ao seu renascimento no início do século 21 através da internet. Entre uma ponta e outra dessa saga, muitas brigas de faca, deboches, trava-línguas, mensagens educativas, Deus e o Diabo nas terras do Sol.

De Recife para o mundo

Se, no final do século 19 e início do século 20, Recife foi a cidade responsável por milhares de folhetos soltos pelos ventos e veredas do semiárido nordestino, foram dois paraibanos os responsáveis por sua produção.

Falando em brincadeira, as xilogravuras só passaram a ilustrar as capas dos cordéis a partir da década de 1950 como uma alternativa ao poeta mais pobre, que não podia pagar um desenhista, para ilustrar seu folheto. Com desenhos rudimentares e sintéticos talhados em matrizes de madeira, as xilogravuras logo se tornaram item obrigatório e essa combinação caiu ainda mais no gosto popular. Já o termo “literatura de cordel”, fruto do reconhecimento dos folhetos pela academia, só veio surgir na década de 1960.

Nesse período, anos 1950 e 60, o cordel atingiu seu ápice de reconhecimento se espalhando para além no Nordeste de acordo com as ondas migratórias. A boa onda acabou por arrebentar a partir da década de 1970 até virar uma marola preocupantemente inofensiva nos anos 90. Alguns mais afoitos chegaram a pedir pela extrema-unção do cordel, mas o futuro digital tinha uma ou duas surpresas guardadas na manga.

Computadores fazem arte

“O cordel continua sobrevivendo. O auge foi no século passado, mas depois foi morrendo e na década de 1990 chegou à beira da cova. Associações culturais, como a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) foram abertas nos mais variados estados, desde o fundamental Pernambuco até os centrais São Paulo e Rio de Janeiro, passando por Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.

Essa nova geração, utilizando as ferramentas da rede mundial de computadores, passou a criar pelejas virtuais que tanto são deixadas disponíveis para os internautas, com direito a todo seu processo de criação em aberto, quanto ganham versão impressa. “O que descaracteriza o cordel é escrever errado e não obedecer às regras da métrica, rima e oração”.

Para encerrar o assunto, pelo menos por hora, J. Borges fala desse ofício da seguinte forma: “Pra fazer um cordel bom é preciso ter um conhecimento da situação da área onde o cordelista vive. Tem que saber assuntos de amor, de religião, de política e de gracejo…” Mistérios assim duram para a vida toda.

Um Cordel Bíblico: Os 4 lazarentos de Samaria[3]

Antes de mais nada, tenho uma dívida de gratidão com o casal Flávio Américo e sua esposa Jéssica, ambos potiguares[4], servos de Deus, muito bem humorados, apaixonados por poesia e, sobretudo, pela Palavra de Deus. Numa conversa rápida contei a Flávio que queria fazer um sermão usando versos em cordel para ilustrar o contexto da história básica do sermão que estava preparando. Ele riu. Pra mim este foi um sinal ou de aprovação ou de curiosidade. Em poucas palavras ele me ensinou que deveria usar palavras simples, rimas fáceis de entender e termos regionalistas para buscar a atenção da plateia. A partir desta conversa desenvolvi o sermão que graças a Deus foi muito bacana.

Aí começou a peleja: como transformar um sermão que usou elementos do regionalismo brasileiro num artigo para um site cristão? O resultado é o que vocês lerão a seguir.

Começaremos com uma História Bíblica. Para dar mais emoção à leitura, vou retirar os números dos capítulos e dos versículos. O texto é 2 Reis 6:24, 7:1; 3-11, 16 na tradução Nova Versão Internacional.

Algum tempo depois, Ben-Hadade, rei da Síria, mobilizou todo o seu exército e cercou Samaria. O cerco durou tanto e causou tamanha fome que uma cabeça de jumento chegou a valer oitenta peças de prata, e uma caneca de esterco de pomba, cinco peças de prata.

Eliseu respondeu: “Ouçam a palavra do SENHOR! Assim diz o SENHOR: ‘Amanhã, por volta desta hora, na porta de Samaria, tanto uma medida de farinha como duas medidas de cevada serão vendidas por uma peça de prata’”.

Havia quatro leprosos junto à porta da cidade. Eles disseram uns aos outros: “Por que ficar aqui esperando a morte? Se resolvermos entrar na cidade, morreremos de fome, mas se ficarmos aqui, também morreremos. Vamos, pois, ao acampamento dos arameus para nos render. Se eles nos pouparem, viveremos; se nos matarem, morreremos”.

Ao anoitecer, eles foram ao acampamento dos arameus. Quando chegaram às imediações do acampamento, viram que não havia ninguém ali, pois o Senhor tinha feito os arameus ouvirem o ruído de um grande exército com cavalos e carros de guerra, de modo que disseram uns aos outros: “Ouçam, o rei de Israel contratou os reis dos hititas e dos egípcios para nos atacarem!”

Então, para salvar sua vida, fugiram ao anoitecer, abandonando tendas, cavalos e jumentos, deixando o acampamento como estava.

Tendo chegado às imediações do acampamento, os leprosos entraram numa das tendas. Comeram e beberam, pegaram prata, ouro e roupas e saíram para esconder tudo. Depois voltaram e entraram noutra tenda, pegaram o que quiseram e esconderam isso também.

Então disseram uns aos outros: “Não estamos agindo certo. Este é um dia de boas notícias, e não podemos ficar calados. Se esperarmos até o amanhecer, seremos castigados. Vamos imediatamente contar tudo no palácio do rei”.

Então foram, chamaram as sentinelas da porta da cidade e lhes contaram: “Entramos no acampamento arameu e não vimos nem ouvimos ninguém. Havia apenas cavalos e jumentos amarrados, e tendas abandonadas”. As sentinelas da porta proclamaram a notícia, e ela foi anunciada dentro do palácio.

Então o povo saiu e saqueou o acampamento dos arameus. Assim, tanto uma medida de farinha como duas medidas de cevada passaram a ser vendidas por uma peça de prata, conforme o SENHOR tinha dito.

O sertão é terra boa

se o ano é bom de inverno

tudo fica mais contente

mais bonito e mais moderno

porém quando o ano é seco

o sertão vira um inferno

Este narrativa bíblica acontece na região da palestina conhecida na época como Reino de Israel. Nos tempos dos reis Davi e Salomão tratava-se de um único país. Logo depois uma grande querela dividiu o país. A região sul, conhecida como Judá, ficou sob o domínio dos descendentes de Davi. A maior parte do país, composta das dez tribos do norte, foi dada por Deus a Jeroboão, filho de Nebate, um efraimita conhecido por ser um habilidoso político.

Jeroboão tinha tudo que precisava para ser muito bem sucedido. Quando Deus mandou o profeta Aías falar com Jeroboão sobre o plano divino de lhe entregar as 10 tribos de Israel, ele prometeu a permanência da família de Jeroboão no trono, se este fosse fiel ao Senhor (cf. 1 Reis 11:38). Que promessa! Que oportunidade para estabelecer uma dinastia em Israel! Mas havia uma condição: Se ouvir as ordens, andar no caminho, fizer o que é reto e guardar os mandamentos de Deus, a dinastia dele seria estabelecida. Esta condição de obediência foi o problema de Jeroboão.

Judá ficou com a cidade de Jerusalém — local do magnífico Templo de Salomão e centro espiritual do povo judeu. Após a divisão do país, o Reino do Norte ficou sem uma capital e, consequentemente, sem um templo. A pesar da promessa de Deus, Jeroboão sentiu-se inseguro como rei de Israel. Ele se preocupou, especialmente, com a influência dos irmãos em Judá. Se os israelitas voltassem a Jerusalém para comemorar as festas anuais, como Deus mandou na lei dada a Moisés, eles poderiam rejeitar Jeroboão. Os sacerdotes lá em Jerusalém iam comentar sobre o templo que foi projetado pelo avô e construído pelo pai do rei de Judá. Assim, pensou Jeroboão, o povo consideraria Roboão o rei legítimo e voltaria para Judá. Eles poderiam até assassinar o rei de Israel!

Na leitura de 1 Reis 12:25-33, encontramos quatro inovações que Jeroboão introduziu, sem autorização divina. (1) Ele mudou os símbolos da religião israelita. A adoração verdadeira envolvia a arca da aliança, o altar dos holocaustos, o templo em Jerusalém, etc. A religião inovadora de Jeroboão tinha outros símbolos — bezerros de ouro e altares em Dã e Betel. (2) Ele mudou o lugar da adoração. Jerusalém foi o lugar designado por Deus para ser o centro da adoração; ali Salomão construiu o templo. Jeroboão manipulou alguns fatos históricos e transferiu o centro da adoração para Betel. Seus sucessores, posteriormente transferiram novamente a cidade-templo para Samaria. (3) Jeroboão fez mudanças no sacerdócio. A regra era clara: Os sacerdotes seriam levitas. Jeroboão permitiu e até incentivou que pessoas de outras tribos se tornassem sacerdotes. Quem tivesse dinheiro para fazer os sacrifícios que o rei pediu poderia ser sacerdote.

A história da narrativa se passa na desértica região do Reino de Israel, mais precisamente na cidade de Samaria. Além da falta de colheitas, pasto e água para os rebanhos, o rei à época Jorão estava ameaçado pelos reinos vizinhos, particularmente o sírio Ben-Hadade. “Nesse tempo a fome assolava a região.[5]

O mundo pegou fogo

por causa da corrupção

e Deus envia o castigo

pra toda população

devido a tal da idolatria

haja crise e carestia

fome, seca e superstição

Ben-Hadade montou acampamento para conquistar Jerusalém. Por conta da fome, a cidade passou a sofrer com o pouco estoque de alimentos. O texto nos conta que O cerco durou tanto e causou tamanha fome que uma cabeça de jumento chegou a valer oitenta peças de prata, e uma caneca de esterco de pomba, cinco peças de prata.[6]

Numa época como esta, ao invés de voltar-se e clamar pela misericórdia de Deus, o povo voltou-se para os ídolos. Havia culto para todos os gostos sacrifícios animados, banhos de sangue, sacrifícios humanos, orgias sexuais, etc…

O sertanejo vê a morte

Pede chuva ao Pai do céu

Água que lhe conforte

Livre o gado da morte

Com pasto e com plantação

Pede aos políticos ação

Confiam na frouxa religião

Qual deveria ser a maior preocupação do rei? Politicamente a defesa da sua cidade. Mas Jorão era rei do povo que carregava o nome de Deus! Sua maior preocupação deveria ser o bem-estar das pessoas. Ele, porém, decidiu priorizar a função político-militar. Passando em revista os muros de Jerusalém encontrou-se com duas mulheres que gritaram: “Socorro, majestade!”[7] Sua resposta mostra claramente seu compromisso religioso: “Se o Senhor não socorrê-la, como poderei ajudá-la?; Por que devo ainda ter esperança no ­Senhor?”

Profetas se apresentaram

Trazendo a Palavra de Deus

Vendo o povo que sofria

A sua causa abraçaram

Com coragem denunciaram

O peso dos pecados seus

Frente ao rei sem coração

Denunciaram a corrupção

Fugiram, foram pro sertão

Onde Deus os garantia o pão

Um dos elementos fortes das religiões pré-judaísmo é o surgimento dos profetas, homens de diversas camadas sociais que se destacavam por anunciar mensagens da parte de Deus. Dentro do judaísmo a profecia não tem caráter exclusivamente adivinhatória como assume em outras religiões. Era uma forma de relacionamento entre Deus e seu povo, que poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou revelação quanto à Vontade Divina.

A ação do profeta é ligado a ação de Deus — ele não é um porta-voz autônomo. A experiência fundamental do profeta é sua coparticipação nos sentimentos de Deus, uma simpatia com o pathos divino, uma comunhão com a consciência divina. O profeta ouve a voz de Deus e sente seu coração. Ele é um homem que sente furiosamente.

Os estudiosos da Bíblia escrevem sobre funções complementares do profeta e do sacerdote entre o povo israelita. (1) O sacerdote era uma figura constante, enquanto o profeta surgia eventualmente. (2) O profeta aponta as deficiências das pessoas, insta o arrependimento, e alerta para as consequências do não-arrependimento.

O sacerdote estava sempre presente mostrando que o perdão de Deus estava sempre disponível sempre há receptividade para o coração arrependido.

Na nossa história, Eliseu é o profeta. Deus é sensível ao sofrimento do povo. Deus sabe que ele sofre por causa do seu pecado, mesmo assim Ele sente. Misericórdia não cutuca a ferida de ninguém. Eliseu respondeu: “Ouçam a palavra do Senhor! Assim diz o Senhor: Amanhã, por volta desta hora, na porta de Samaria, tanto uma medida de farinha como duas medidas de cevada serão vendidas por uma peça de prata.[9]

Quem irá confiar

no dito Eliseu?

O cabra é apenas mais um

Garantia não pode dar

Melhor é esperar pelo rei

Quem sabe ele é capaz de livrar

A misericórdia de Deus também tem um fim didático. Deus responde ousadamente: “Amanhã, por volta desta hora”. Não dava tempo de plantar, colher, criar gado nem importar alimento. Contrariando a possibilidade de qualquer outro meio de provisão, ao povo só restava uma atitude: CRER.

O rei se escondeu no palácio

Trancado por dentro do muro

Morrer não era opção

Por dentro a fome castiga

Por fora a espada te cerca

Segurança… É só ilusão

Ao ouvir que o aperto no cerco de Samaria e sobre a profecia de Eliseu, Jorão decidiu esconder-se no palácio. Esta atitude mostra que no seu coração ele cria que Ben-Hadade era mais poderoso que YHWH.

Fora dos muros da cidade, porém, quatro leprosos anônimos, banidos pelas leis cerimoniais da época, socialmente insignificantes ou para usar uma linguagem mais evangélica já mortos; tiveram o insight decisivo para toda a história: Eles disseram uns aos outros: Por que ficar aqui esperando a morte? Se resolvermos entrar na cidade, morreremos de fome, mas se ficarmos aqui, também morreremos.’”[10] Eles entenderam que estavam mortos de qualquer maneira. Antes da seca e da fome estavam mortos por causa da lepra; durante o cerco estavam mortos por causa do exército sírio; dentro da cidade morreriam de fome. O que lhes restava? CRER.

Partiram os quatro leprosos

Só com a certeza que tinham

Se Deus não agisse por eles

A fome, a espada, ou a sorte

Pra sempre os consumiria

Como Deus faria para cumprir sua promessa? Ninguém poderia prever a história nos diz que o Senhor tinha feito os arameus ouvirem o ruído de um grande exército com cavalos e carros de guerra. Então, para salvar sua vida, fugiram ao anoitecer, abandonando tendas, cavalos e jumentos, deixando o acampamento como estava.[11]

Deus entrou em ação. O exército sírio fugiu porque reconheceu que o ruído era de um exército mais poderoso que o seu. Era um exército campeão. Na Cruz o Senhor fez toda a criação ouvir o grito de vitória do seu campeão: “Está consumado”e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz.[12]

Só Deus entrou em ação

Sem merecimento, sem religião

Sem pagar promessa, sem apelação

Só de Deus bastou a ação

Nem fome, nem vida,

Perigo ou nudez impediu

Que os lazarentos escapassem,

Se salvassem e se fartassem

E ainda que compartilhassem

Relutantemente os leprosos chegaram ao acampamento. Havia silêncio. O que iriam encontrar? Entraram sorrateiramente numa tenda e encontraram tudo bagunçado parece que o exército havia desaparecido bem na hora do jantar![13] Comeram sanduíche, tomaram água fresca[14] e vinho à vontade. Depois entraram em outra tenda e encontraram roupas limpas, lençóis e travesseiros, além de uma caixinha cheia de moedas de ouro, joias e prata.

Possivelmente ouviram o cacarejar de galinhas e outros animais suficientes para abastecer uma cidade inteira. Ei Jerusalém está passando fome. O rei está escondido no palácio mas nossos conterrâneos aqueles que nos desprezam estão morrendo. Então disseram uns aos outros: “Não estamos agindo certo. Este é um dia de boas notícias, e não podemos ficar calados. […] Vamos imediatamente contar tudo no palácio do rei”[16] O povo faminto correu ao acampamento arameu e trouxe tudo que havia lá. Havia fartura. Todos podiam agora adquirir comida para suas famílias. A Palavra de Deus por intermédio de Eliseu havia derrotado a morte iminente.

Jesus e os 10 Lazarentos

Séculos depois Jesus também teve um encontro com 10 leprosos, igualmente mortos, banidos pelas leis cerimoniais da época, socialmente insignificantes. Lucas 17 nos conta a história. Propositalmente vou retirar a numeração dos versículos para que você possa desfrutar da narrativa:

“Ao entrar num povoado, dez leprosos dirigiram-se a ele. Ficaram a certa distância e gritaram em alta voz: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”

Ao vê-los, ele disse: “Vão mostrar-se aos sacerdotes”. Enquanto eles iam, foram purificados.

Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Este era samaritano.

Jesus perguntou: “Não foram purificados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?”

Então ele lhe disse: “Levante-se e vá; a sua fé o salvou”.”

Na história de Jesus e os 10 leprosos, os 9 ingratos voltaram curados para casa. Eles não se tornaram novamente leprosos. A história nos dá um detalhe importante sobre o que retornou agradecido: Ele era samaritano. Numa época em que a tradição oral era bastante difundida, havia boas probabilidades daquele leproso samaritano conhecer a história dos 4 leprosos que temos estudado até aqui. Podemos imaginá-lo ouvindo a história daqueles que, como ele, eram leprosos. De como Deus os livrou da morte certa, e como eles decidiram contar a boa notícia aos outros de Jerusalém. O estrangeiro grato, humilde e arrependido, ganhou mais do que a cura para a sua doença. Jesus lhe disse: a tua fé te salvou[17].

Todo o povo de Jerusalém foi abençoado pela fé dos quatro leprosos. Eles entenderam que tamanha salvação não poderia ser negligenciada, contida ou armazenada.[18] Você pode buscar a Deus apenas para receber uma bênção específica. E vai receber. Deus é bom.

A diferença dos cinco leprosos samaritanos (os quatro da antiguidade e o do tempo de Jesus) é que eles compreenderam que a salvação pertence ao Senhor[19] e, se eles decidissem ouvir o chamado de Deus para segui-Lo e se tornar seu discípulo, Ele te promete mais do que somente uma bênção específica. Deus está a nossa procura e quer se relacionar conosco. Mas precisamos nos achegar a Ele com as mãos vazias.

Jesus e um outro lazarento

PAULO era um cosmopolita. Capaz de frequentar o palácio, conversar com as maiores autoridades da sua época; argumentar num dos maiores centros filosóficos existentes (o areópago). Enfim, porém, ele compreendeu que sem Jesus, não passava de um leproso espiritual. (Filipenses 3:4-11, cf. v.7)

Ele decidiu lançar na latrina[20] esvaziar-se de tudo aquilo que havia conquistado com suas próprias mãos para que suas mãos ficassem livres para receber aquilo que Jesus tinha para oferecer. Não que as suas conquistas não tivessem valor. Mais tarde, seu conhecimento dos idiomas grego, latim e hebreu o tornariam um dos maiores eruditos da era apostólica. O que ele diz aos Filipenses é que nada disso enchia as suas mãos para buscar a salvação em Cristo. Ele decidiu chegar-se a Deus com as mãos absolutamente vazias de qualquer mérito e quanto mais vazias estavam, mais foram cheias da graça de Deus!

E assim como os leprosos de Samaria, Paulo reconheceu que a Boa Nova não é algo para ser guardado, mas para ser compartilhado.

Ai de mim

se não pregar o evangelho![21]


[1] Este capítulo é — quase em sua totalidade — uma compilação e adaptação do Capítulo II do livro “Coma este livro” de Eugene Peterson com algumas inserções do livro “A oração que Deus ouve” do mesmo autor.

[2] O artigo original encontra-se no site http://dafnesouzasampaio.blogspot.com.br/2011/03/uma-breve-historia-do-cordel.html. Infelizmente não consegui identificar o nome completo do autor. No entanto o texto é dele. Fiz apenas uma pequena edição.

[3] De agora em diante, a autoria do texto é minha mesmo, visse! (Legenda da legenda: Em alguns estados do nordeste é usada na forma sincopada (reduzida) de “ouvisse?” que é uma palavra derivada de “ouvir”

[4] Naturais do Rio Grande do Norte

[5] 2 Reis 4:38

[6] 2 Reis 6:25

[7] 2 Reis 6:26-27 – este episódio é dramático. A fome era tanta que o povo se viu obrigado a praticar canibalismo. Era a morte tentando salvar da morte aqueles que estavam mortos.

[8] 2 Reis 6:27,33

[9] 2 Reis 7:1

[10] 2 Reis 7:3-4

[11] 2 Reis 7:6-7

[12] Colossenses 2:15

[13] 2 Reis 7:8

[14] Certamente os sírios tinham dinheiro pra trazer água dos rios Abana e Farpar! (cf. 2 Reis 5:12)

[15] 2 Reis 7:9

[16] Não se esqueça que boa notícia, tanto no contexto hebreu, no grego, no latino ou no brasileiro, é sinônimo de Evangelho um favor obtido sem qualquer merecimento.

[17] Lucas 17:19

[18] Hebreus 2.3

[19] Jonas 2:9

[20] A palavra traduzida como ‘esterco’ (NVI), ‘refugo’ (RA), ‘escória’ (RC) é, literalmente, ‘fezes’ aquilo que deve ser lançado na latrina.

[21] 1 Coríntios 9:16