Doutor Fraldinha: O bebê teve febre

“…Ontem, à hora sétima a febre o deixou.” [1]

João nos relata a comovente cura de uma criança filha de um funcionário real que ardia em febre. Seu preocupado pai procurou a ajuda de Jesus sabendo que Ele poderia ajudar. O oficial creu nas palavras de Jesus, que afirmara que seu filho já estava curado, e pode alegrar-se ao chegar em casa e saber que a febre da criança havia cessado, justamente na hora em que ele falava com o Mestre.[2]

Por definição, febre é a elevação da temperatura corporal acima dos limites da normalidade. Diferentemente dos répteis e anfíbios, os mamíferos e aves são seres homeotérmicos – mantêm constante a temperatura do corpo. Esta estabilidade térmica mantém a integridade das enzimas que fazem com que nosso corpo funcione corretamente. Nosso corpo não é capaz de suportar oscilações intensas da temperatura interna do corpo, porém admite pequenas oscilações durante o dia, conforme a intensidade das atividades de cada indivíduo ou a quantidade de roupas. É um assunto que traz muitas preocupações para os pais.

Definindo o que é febre: considera-se febre a elevação da temperatura axilar acima dos 37,8ºC, medidos com a criança em repouso, por três minutos e com a axila devidamente seca. Portanto, a técnica de aferição da temperatura é importante. Se a criança estiver brincando, ou chorando muito, o esforço intenso pode elevar a temperatura corporal sem significar febre. Também é importante observar se a criança não está excessivamente agasalhada, o que também pode falsear a aferição. No nosso país, a prática da medição da temperatura axilar é mais comum, mas também existem outras formas de aferir a temperatura, como os termômetros de orelha, orais, fitinhas térmicas e os termômetros retais. Pela praticidade e inocuidade, sugiro que os pais tenham em casa termômetros para aferição axilar. Existem vários tipos no mercado: os de mercúrio e os digitais são os mais populares e confiáveis.

O que causa febre?

A febre geralmente anda de mãos dadas com doenças comuns como gripes e resfriados, dor de garganta e dor de ouvido. Ela pode também acompanhar problemas respiratórios mais sérios como pneumonia e várias outras infecções virais. Algumas crianças também desenvolvem febre após serem vacinadas. Outras crianças podem ter febre secundária à constipação intestinal prolongada. Nem sempre é possível descobrir a causa da febre durante um único episódio agudo. Às vezes é preciso aguardar algumas horas ou até dias para que um foco infeccioso se torne evidente ou alguma outra causa se manifeste.

Constatado que o bebê está realmente com febre, que passos tomar?

(1) Não entre em pânico. Febre não é doença. Febre é um SINAL que o corpo dá: é preciso investigar se existe algo de errado com o bebê. Observe alguns sinais que podem ajudar o pediatra a direcionar sua investigação:

    a. apetite. Crianças com febre que param de mamar sugerem uma causa infecciosa;

    b. estado geral. Crianças febris, porém ativas, sorridentes e comunicativas possivelmente possuem alguma origem benigna para sua febre. Crianças apáticas, com a musculatura flácida e pouco comunicativas devem ser levadas ao pronto-socorro infantil mesmo se não apresentarem febre;

    c. sintomas associados. Vômitos, diarréia, coceira no ouvido, choro estridente e inconsolável, distensão abdominal, dificuldade para engolir, convulsões também apontam para origens infecciosas;

    d. sinais associados. Irritabilidade intensa associada com rigidez da nuca (não consegue encostar o queixo no peito), manchas vermelhas pelo corpo, pintinhas vermelhas também precisam ser relatadas;

    e. contatos com pessoas doentes. Existem diversas doenças que são transmissíveis pelo contato interpessoal. Quando a criança tiver contato com algum portador de doença infecciosa e, algum tempo após apresentar febre, o pediatra deve ser informado.

(2) Se a criança estiver com bom estado geral e sem outros sinais, além da febre, você pode medicá-la antes de procurar atendimento médico. Dê um banho de imersão nos bebês em água morna (não é necessário acrescentar álcool ou outros produtos à água), seque o bebê cuidadosamente, aguarde alguns minutos e meça a temperatura novamente. Se persistir com temperatura acima de 37,8ºC você pode administrar um antitérmico via oral na criança – o antitérmico mais seguro para uso em pediatria é o paracetamol[3], que pode ser dado na dose de 1 gota para cada quilo de peso (nas apresentações de 200mg/ml). O tempo para a medicação fazer efeito é aproximadamente 30 minutos. (Esta recomendação somente é válida se a criança estiver com boas condições gerais.)

É muito comum que algumas mães deliberadamente deixem seus filhos com febre até chegar ao pronto-socorro, com medo de serem advertidas pelo pediatra. Na verdade, é muito ruim para a criança permanecer com febre, pois seu metabolismo acelera muito, perde-se muita água por evaporação da pele e o bebê fica bastante desconfortável. Aconselho que você meça a temperatura de forma correta, anote em um papel a hora da aferição, o valor da medida e a conduta tomada (banho ou remédio). Assim o pediatra estará certo dos procedimentos realizados com a criança.

EM HIPÓTESE ALGUMA DÊ ASPIRINA OU AAS PARA O BEBÊ COM FEBRE. O Ácido acetil-salicílico é um antiinflamatório que possui vários efeitos colaterais e pode, em algumas infecções virais, provocar na criança uma síndrome neurológica grave chamada Síndrome de Reye.

Quando levar a criança ao médico?

Se a criança estiver com boas condições gerais e a temperatura ceder após o banho ou a medicação, siga observando em casa e comunique-se por telefone com o pediatra para solicitar orientação. Lembre-se de dar o maior número de detalhes possíveis.

Se um ou mais dos seguintes sintomas forem observados acompanhados de febre, chame ou leve o seu bebê imediatamente a seu médico ou a um médico de plantão:

  • Chorar inconsolavelmente;
  • Certa dificuldade em respirar que não melhora mesmo depois de você limpar seu nariz;
  • Não quer mamar, ou comer;
  • Já está doente ou, estava saudável mas agora não está parecendo bem;
  • Pescoço rígido;
  • Dificuldade em acordar;
  • Corpinho mole;
  • Convulsões.

Algumas recomendações gerais para as crianças com febre:

  • Dê muito líquido para a criança com febre. A temperatura elevada pode causar desidratação. Sucos, sopas, chás, vitaminas e até Gatorade são bem vindos.
  • Deixe seu filho o mais confortável possível. Roupas agradáveis, pouco barulho, e muito carinho ajudarão ele a se recuperar melhor.
  • Se seu bebê ainda mama no peito, continue amamentando normalmente. O leite materno é rico em vitaminas, sais minerais, proteínas e anticorpos que ajudam a combater a doença.
  • NÃO DÊ A SEU FILHO NENHUM TIPO DE MEDICAMENTO SEM O CONHECIMENTO DO SEU MÉDICO. Muitos remédios excelentes para algumas crianças podem ser fatais para outras. Mesmo o paracetamol quando usado de forma incorreta pode acarretar efeitos colaterais – comunique-se com o pediatra.
  • Não passe álcool ou qualquer outro tipo de etílico nos pulsos ou na nuca para abaixar a febre. Você pode causar um choque na criança e complicar ainda mais o seu estado.

Na próxima semana, falaremos sobre a prevenção de acidentes durante o primeiro ano de vida.

Até lá.

Notas:

[1] João 4:51 [2] João 4:46-53 [3] Tylenol®, por exemplo